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Chapéu
25 de julho

Mulheres negras denunciam racismo e retrocesso

Linha fina
CUT lançou cartilha denunciando o tamanho da desigualdade no mercado de trabalho; marchas em várias capitais também marcou o Dia Internacional da Mulher Negra da América Latina e do Caribe
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Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas

São Paulo - No Dia Internacional da Mulher Negra da América Latina e do Caribe, a CUT lançou uma cartilha para denunciar que as mulheres negras estão nos postos mais precários no mercado de trabalho e ainda recebem menos que as não negras. No mesmo dia, ato foi realizado em diversas capitais.

A data, 25 de julho, lembra também Tereza de Benguela, ícone da resistência negra no Brasil Colonial. Nascida no século 18, Benguela chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso. De acordo com documentos da época, o reduto abrigava mais de 100 pessoas, sendo 79 delas negras e 30 indígenas.

Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas


O Mapa da Violência 2015 divulgado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) aponta que em um ano morreram 66,7% mais mulheres negras do que brancas no País, avanço de 54% em 10 anos.

Para a secretária Nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, o dia 25 de julho é muito representativo. “É um marco da resistência e de visibilidade diante da exploração do trabalho, dos altíssimos índices da violência doméstica contra as mulheres, especialmente das mulheres negras”.

"Além da ineficiência dessas políticas, que se veem agravadas pelo corte nas políticas de saúde as mulheres negras enfrentam o racismo institucional”,  enfatiza Junéia Martins Batista, secretária da Mulher Trabalhadora.

A cartilha foi produzida em conjunto pelas duas secretarias da Central.

A preocupação de Junéia sobre a condição da mulher negra na saúde também é relatada pela secretária de Saúde do Trabalhador, Madalena Margarida. "Elas adoecem com mais frequência devido as precárias condições no mundo do trabalho. As mulheres negras adoecem mais em função da hipertensão, infecção puerperal, aborto e hemorragia continuam como principais causas de mortalidade materna por causas evitaveis".

Marcha - Além do lançamento da cartilha, as mulheres negras foram às ruas em marchas realizadas em São Paulo, Belém, Salvador e Rio de Janeiro.

Na capital paulista o ato começou na Praça Roosevelt e seguiu pelas ruas do centro até o Largo Paissandu, onde fica a estátua em homenagem à Mãe Preta. Intervenções culturais foram feitas ao longo do percurso. Entre as pautas apresentadas em manifesto, a luta contra racismo, feminicídio, machismo, ódio à população LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) e contra a retirada de direitos.

“O racismo, por ser estruturante, nos coloca em uma condição de estar sempre correndo atrás de fazer as coisas acontecerem”, disse a metroviária Rosa Anacleto, que faz parte da União de Negros pela Igualdade (Unegro)

A educadora Graciele Batista, 25 anos, diz que a questão racial sempre esteve presente na vida dela. “Eu não entendia o por quê. Eu era preterida em vários momentos e só depois é que tive o poder de me entender e me reconhecer nesse espaço [de organização]”, disse a jovem que cursou educação física por meio de cotas do Prouni (Programa Universidade para Todos).

Foto: Paulo Pinto / Fotos Públicas


Indígenas - Como representação das indígenas, a Guarani Ara Mirim Sônia Barbosa, moradora da aldeia do Pico do Jaraguá em São Paulo, participou do ato. “Queremos apoiar porque é uma luta só e, da mesma forma que a população negra sofre, nós também”, disse. Ela destacou a necessidade de preservar os saberes e modo de vida as populações tradicionais. “Nhaereko é o nosso modo de vida. É esse modo de vida que nos mantém vivo, a cultura, a língua, as tradições. Nós temos o nosso trabalho dentro da comunidade. Isso é o nosso bem viver”.

A colombiana Dani Ramires, 29 anos, está no Brasil para fazer um trabalho sobre o combate ao racismo. Ela disse que em Bogotá também ocorrem atos para celebrar a data. “Não se mobiliza tanto como aqui, mas estamos aprendendo e quando voltar vou compartilhar essa experiência”. Dani destaca semelhanças entre as reivindicações. “A discriminação racial é um problema que nos afeta e temos também um grave problema que são os conflitos armados, que afetam principalmente as mulheres negras e indígenas nas periferias do país”.

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