São Paulo – A greve da categoria chegou ao terceiro dia contando com a resistência dos trabalhadores. No centro velho, duas bancárias de agência do Santander, fechada pelo movimento, se negaram a procurar outra unidade, como determinou o banco, e se dirigiam para casa. “Ontem fiquei das 8h às 16h andando na rua, porque me mandaram procurar uma agência aberta pra trabalhar. Mas quando a agência funciona ela fica lotada e não tem mesa pra gente. Dessa vez eu vou pra casa”, disse.
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Sua colega ia fazer o mesmo: “Eu sinto que a greve está mais forte este ano. E tem mesmo que ser assim porque trabalhar no banco tá ficando insuportável. Salário melhor é bom e todo mundo quer, mas tem de ter condições pra gente trabalhar direito”. A trabalhadora reclamou da pressão e do assédio moral constante na empresa. “As pessoas saem na sexta já pensando nas metas que têm de bater na segunda. Ninguém aguenta isso”, desabafou.
Outro, do HSBC, quando perguntado o que pensava sobre a paralisação, não hesita: “A greve é justa. Os bancos ganham muito e pagam pouco”.
Terceirização – As bancárias do Santander também demonstraram preocupação com as terceirizações nas instituições financeiras. “Se não fossem os sindicatos não existiriam mais bancários, porque os bancos já teriam terceirizado tudo”, disse uma delas.
“E os terceirizados acabam tendo mais acesso às informações dos clientes do que os bancários de alguns setores. Nós que somos assistentes comerciais não temos autonomia nem para conseguir o extrato do cliente, mas um terceirizado consignado, por exemplo, tem todas as informações e sabe até quanto ele ganha. Os bancos falam de sigilo bancário, mas é da boca pra fora”, acrescentou a colega.
Reajuste insuficiente – Trabalhadores de vários bancos no centro antigo também reclamaram da proposta apresentada pela federação dos bancos (Fenaban) de 6% de reajuste que, com a inflação, corresponde a 0,58% de aumento real. “É uma afronta, um desrespeito. Imagina o que é, pra quem fez tanto, se deparar com essa ‘brincadeira’ de mau gosto na hora de negociar aumento”, disse um funcionário com oito anos de Banco do Brasil.
“Essa proposta não é viável. Ainda mais pelo que a gente passa, com metas e pressão. Até eu que sou caixa tenho metas”, contou um bancário do HSBC.
“Os bancos ganham lá em cima e querem oferecer quase nada. A gente sabe que eles podem dar mais. O ideal seria que eles oferecessem logo um reajuste decente porque assim não teria greve e nem trabalhadores, nem clientes e nem os próprios bancos seriam prejudicados. Mas já que eles não fazem isso, tem mais é que ter greve mesmo”, disse um bancário do Bradesco.
Para outra funcionária do Bradesco, as instituições financeiras estão escondendo os lucros: “A gente sabe que o que eles oferecem é muito pouco diante do lucro. E eles ainda dizem que o lucro tá menor, mas na verdade eles colocaram um valor maior de PDD (provisionamento para devedores duvidosos) no balanço.”
“A greve é justa, não queremos só reposição da inflação, mas aumento de fato. 0,58% de aumento real não é nada!”, protestou uma bancária do BB. “E houve aumento da procura, do trabalho e da sobrecarga”, acrescentou.
“A greve é justa! Se deixar na mão dos bancos a gente não recebe nada. Parar é a única maneira da gente conseguir alguma coisa, porque se não reclamar fica do jeito que está: eles cada vez mais ricos e nós juntando dinheiro para pagar as contas”, resumiu um funcionário do Bradesco.
Andréa Ponte Souza - 20/9/2012
Linha fina
Funcionários de vários bancos reforçam movimento, criticam proposta da Fenaban e denunciam más condições de trabalho
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