São Paulo – “Nos EUA, basta uma gota de sangue negro para ser um negro. No Brasil, me parece que as pessoas escolhem com que raça elas vão se identificar.” A impressão, com tom de avaliação, é de Derrick Johson, presidente estadual da National Association for the Advancement of Colored People, do Mississippi (EUA), associação nacional americana que luta pelo progresso da população negra.
Independente da raça, a prioridade não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo, é fortalecer os direitos dos trabalhadores. “O movimento sindical nos EUA luta não só pelo seu crescimento, mas pela sobrevivência”, alertou Derrick (à direita na foto abaixo).
A questão foi um dos assuntos debatidos no seminário Defesa dos Direitos dos Trabalhadores e Combate ao Racismo, realizado na quarta-feira 26 na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) sob mediação do deputado estadual (PT) Luiz Cláudio Marcolino, ex-presidente do Sindicato (à esquerda na foto abaixo). “Esse debate não é só para discutir racismo, mas também debater e ressaltar o direito à livre organização dos trabalhadores em todo o mundo”, disse o parlamentar na abertura da reunião.
O evento prometia a presença do ator e ativista Danny Glover, que deve chegar ao Brasil somente no dia 29. A ausência não prejudicou o debate entre brasileiros e integrantes de uma delegação americana de ativistas dos direitos dos trabalhadores que veio ao país em busca de referências do modelo de sindicalismo praticado por aqui. Em 2011, o ator afirmou que o Brasil é um “laboratório do mundo” na busca de um modelo de organização social.
Organização sindical – Na unidade da fábrica japonesa Nissan instalada na cidade de Canton, 70% dos empregados são afro-americanos. A denúncia dos trabalhadores da delegação é que a empresa descumpre convenções internacionais e inibe trabalhadores com medidas de terror para que não se associem ao sindicato do setor, a United Auto Workers (UAW).
Em janeiro, o presidente da CUT, Vagner Freitas, e o secretário de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), João Cayres, fizeram parte da delegação dos trabalhadores e ativistas que foram recebidos por parlamentares ligados aos movimentos sociais nos EUA.
Em busca de consciência – Para o dirigente sindical Júlio César Santos, coordenador do Núcleo de Combate ao Racismo do Sindicato, essa é uma das importantes questões em relação à luta contra preconceito racial no Brasil. “Aqui, nós negros passamos por inúmeras dificuldades, inclusive no que diz respeito à desigualdade racial. Um dos problemas é sobre a afirmação. Infelizmente, pessoas negras se colocam como não negras, pois tentam se distanciar do processo do preconceito e da discriminação.”
Fazem parte da delegação americana funcionários da fábrica da Nissan de Canton, no Mississippi (EUA), que lutam pela realização de um plebiscito pelo direito a uma representação sindical. Para eles e para Derrick Johnson, as lutas pelo direito da escolha sindical e da luta por igualdade racial andam juntas. “Claro que o movimento sindical é necessário, mas a igualdade é pré-condição para seu êxito. A questão racial deve estar no cerne de qualquer movimento dos trabalhadores, para que, por exemplo, empregadores chineses não possam explorar imigrantes africanos não documentados”, ressaltou Johnson.
Para o presidente da associação, ao fim e a cargo de tudo está o dinheiro e o poder. A raça torna-se uma ferramenta para garantir o acesso a recursos e ao poder para garantir a dominação. “A luta racial nos EUA é uma batalha constante. Mas, uma distribuição mais justa de recursos não pode ser individual, deve ser uma batalha da coletividade.”
No fim do seminário, o deputado Luiz Cláudio anunciou que enviará carta às unidades da Nissan do Brasil e Mississippi em repudio às práticas antissindicais da empresa.
Gisele Coutinho – 26/6/2013
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Trabalhadores da Nissan de Canton, no Mississipi, ganham apoio brasileiro e intensificam mobilização
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