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Chapéu
CAMPANHA 2018

Mesa escancara a nocividade do sistema financeiro 

Linha fina
Bancos estão profundamente inseridos na atual organização social que resulta em cada vez mais pobreza, concentração de renda, desemprego, endividamento das famílias e desinvestimento público
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Foto: Contraf-CUT

Desde que o governo Temer passou a implantar sua agenda econômica, em 2016 os indicadores socioeconômicos se deterioram, resultando no aumento do desemprego, da pobreza e da pobreza extrema, e da concentração de renda. E o setor financeiro têm contribuindo para este cenário.

Essa foi a conclusão da mesa O Sistema Financeiro que Queremos, durante a Conferência Nacional dos Bancários, na tarde deste sábado 9. A Conferência Nacional dos Bancários iniciou na noite de sexta 8 e se encerra no domingo 10, com a plenária que aprovará a pauta de reivindicações da categoria, a ser entregue e negociada com a Fenaban (federação dos bancos).

> Mesa 1: Como o Estado de exceção consegue conviver com as democracias? 
Mesa 2: Bancários debatem defesa das empresas públicas

A inflação entre 2012 a 2018 atingiu 41%, mas a variação do cheque especial chegou a 397% na Caixa, 109% no Banco do Brasil e 80% no Bradesco. No Brasil, a média de juros cobrados no rotativo do cartão de crédito é de 200% ao ano, a maior do mundo. Na Argentina, o segundo país com a maior taxa de juros, a média é de 60%.

Atualmente são mais de 63 milhões de brasileiros superindividados, segundo Gustavo Pereira de Melo assistente de Pesquisas do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). “Isso corresponde à soma de toda população economicamente ativa.” Na avaliação do Idec, a política de concessão de crédito fácil, aliada a juros extorsivos, contribui para esse alto nível de endividamento. Atualmente, 41% da renda das famílias brasileiras está comprometida com dívidas nos bancos. 

Reforma trabalhista não gerou empregos

A técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Bárbara Vallejos ressaltou que seis meses após a aprovação da reforma trabalhista, cuja promessa seria geração de vagas de trabalho, não houve grandes variações da taxas de emprego. 

O nível de desemprego estacionou e afeta 12,9 milhões de pessoas. Se forem somados os desempregados e as pessoas que vivem com subemprego, esse número sobe para 26 milhões de brasileiros. Além disso, os poucos empregos gerados trouxeram reversão no mercado de trabalho. Os postos de trabalho com carteira assinada foram reduzidos em 305 mil, e os postos sem carteira têm aumentado. 

Enfraquecimento da organização sindical e piora dos acordos coletivos

Arrecadação dos sindicatos caiu drasticamente após a aprovação da reforma trabalhista, o que é um componente fundamental para a consolidação da desigualdade social, avalia Bárbara. 

Durante a ditadura militar (1964-1985), a economia do país cresceu, mas a desigualdade social resultante da concentração de renda também aumentou. Isso porque, segundo a técnica do Dieese, naquele período os sindicatos foram proibidos de atuar livremente na organização dos trabalhadores. 

A partir da direita, Viviane Machado e Bárbara Vallejos (Dieese); Suzineide Medeiros (Seeb-PE);
Ermelino Neto (Feeb BA/SE); Ana Estela (Seeb-Campinas); e Elici Bueno e Gustavo Melo (Idec)


A reforma trabalhista aprovada em novembro do ano passado acabou com o imposto sindical, uma das principais fontes de financiamento das entidades, que perderam 80% da sua fonte de renda por conta dessa medida. O resultado disso é que a organização dos trabalhadores voltou a se enfraquecer, e o número de negociações coletivas tiveram retração de 42% desde a aprovação da nova legislação. 

“O Dieese observou que [após a aprovação da reforma trabalhista] os patrões têm oferecido cláusulas muito piores, e por isso as convenções têm diminuído. Mesmo diante de uma inflação baixa, poucas categorias conseguiram reajuste acima da alta de preços”, afirma Bárbara.

No âmbito do setor bancário, as instituições financeiras contratam cada vez mais correspondentes bancários. São quase 330 mil trabalhadores desse tipo, que não contam com o mesmo nível de organização sindical da categoria bancária e por isso vivem com salários menores e menos direitos. 

Sindicalize-se e fortaleça a luta da categoria

“Evidente que isso está profundamente ligado à desigualdade social. O governo Lula e Dilma trouxeram melhorias no mercado de trabalho para combater a desigualdade social e agora estamos no caminho completamente oposto”, avalia Bárbara.

Do ponto de vista da política macroeconômica, os bancos drenam recursos públicos por meio da dívida pública. Em março de 2018, 5,2% do PIB foi gasto com pagamento de juros da dívida pública, da qual os bancos são os maiores credores. Isso esvazia a capacidade de investimento, que caiu de 20,9%, em 2013, para 15,6% em 2017, o que tem ajudado a aprofundar o cenário de crise econômica no Brasil. 

Novas tecnologias

O Brasil encara uma onda tecnológica, a chamada revolução 4.0. E o setor financeiro é o que mais investe em tecnologias. Esse novo modelo se traduz na redução estrutural do nível de emprego no setor. Desde 2013, foram eliminados quase 60 mil postos de trabalho de um total de 500 mil.

“É uma reestruturação muito rápida e muito profunda iniciada antes da crise. Na minha opinião, eles [banocs] ajudaram a construir a crise”, avalia Bárbara

Segundo a técnica do Dieese Vivian Machado a participação das transações mobile (via celular), passou de um terço do total em 2017 e cresceu 70% em relação a 2016. “Isso demonstra que o consumidor já não tem mais medo de fazer movimentação financeira via celular, mesmo porque os bancos estão empurrando os clientes para fora das agências, seja por meio de campanhas publicitárias massivas, ou com o fechamento de agências”, avalia Vivian.

Somando os canais virtuais (internet banking e mobile), houve um aumento de 58% das transações em 2017. No mesmo ano, os bancos investiram R$ 19,5 bilhões em tecnologia. 

Redução das agências e empregos, e aumento dos lucros e dividendos

Ao mesmo tempo em que as agências digitais triplicaram de quantidade, passando de 101, em 2016, para 373, em 2017, foram fechadas 1.600 agências físicas no mesmo período. 

Seguindo aumento dos canais digitais, a eliminação de postos de trabalho segue alta e a tendência continua em 2018. Somente nos primeiros quatro meses deste ano, foram eliminados mais de 2,3 mil postos de trabalho.

Por outro lado, acionistas dos bancos têm motivos de sobra para sorrir. As instituições financeiras continuam sendo as maiores distribuidoras de dividendos, segundo a Economatica. Em 2010, o setor pagou R$ 17 bilhões aos acionistas. Em 2017, foram pagos R$ 28 bilhões, aumento de 64,7%.

Os lucros dos bancos estão cada vez maiores, independentemente do cenário econômico. O lucro dos cinco maiores bancos passou de R$ 58 bilhões, em 2016, para R$ 77,4 bilhões em 2017, crescimento de 33,5%. No 1º trimestre de 2018, a tendência continua: foram R$ 20,6 bilhões lucro, 20,4% de aumento em relação a igual período de 2016, quando essas instituições lucraram R$ 17,1 bilhões. 

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