Pular para o conteúdo principal

Santander: fórum evidencia diferença de tratamento entre trabalhadores da Espanha e da América do Sul

Imagem Destaque
Imagem mostra a dirigente Wanessa de Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados do Santander, falando durante o Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira

O terceiro dia do Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira, realizado nesta sexta-feira 27, focou no Santander, banco com atuação em diversos países do mundo, incluindo as Américas. E as diferenças de tratamento entre os trabalhadores da América do Sul e da Espanha ficaram evidentes.

Noemí Trabado, da Confederación Sindical de Comisiones Obreras (CCOO), ressaltou que, na Espanha, o Santander tem utilizado a inteligência artificial e a implantação de ferramentas digitais para reduzir postos de trabalho. Mas lá existe um marco regulatório que versa sobre o trabalho à distância e determina limites para este tipo de jornada. A dirigente também relatou que os empregados espanhóis não precisaram compensar as horas não trabalhadas durante a pandemia.

Enquanto aqui no Brasil, o Santander está obrigando a compensação de horas para os trabalhadores impossibilitados de trabalhar durante a pandemia, porque o banco não deu condições para isto. A instituição ainda utiliza práticas como cobrança de metas e atendimento de clientes por meio de canais como o WhatsApp pelo celular pessoal, causando a extrapolação da jornada de trabalho.

“Nós sentimos uma certa mentalidade de metrópole e colônia que o Santander mantém com os países das Américas. Os trabalhadores na Espanha têm mais garantias, mais direitos e um tratamento melhor. Nós vamos cobrar da direção do banco espanhol no Brasil e nos outros países do continente, e da direção na Espanha, as mesmas condições de trabalho garantidas aos trabalhadores espanhóis.”

Wanessa de Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização de Organização dos Empregados do Santander

Wanessa lembrou que as reformas trabalhistas implantadas no Brasil e nos outros países do continente resultaram na precarização das condições de trabalho tanto para os trabalhadores de agências, como nas áreas administrativas que têm jornadas híbridas e teletrabalho.

“Especificamente no Brasil, o impacto para as mulheres é ainda maior, porque elas precisam conciliar a jornada de trabalho com as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos. Esta situação se agrava devido ao fato de o nosso país não ter uma regulamentação que imponha limites às empresas, como o direito à desconexão, diferentemente da Espanha”, acrescentou a dirigente.

Amalia Castro, representante da La Bancária, da Argentina, contou que a principal dificuldade no país é o teletrabalho. “Os trabalhadores que estão neste modelo sabem que têm direitos, mas não conseguem colocar em prática. Eles sabem que têm de parar em alguma hora, mas não conseguem. Os companheiros que se desconectam continuam trabalhando no celular. Eles querem aumentar seus salários e precisam atingir metas, para isso, trabalham aos finais de semana e feriados”, revelou.

Aumento da digitalização X fechamento de agências

Catia Uehara, economista do Dieese, apresentou dados sobre o aumento da digitalização financeira no Brasil e seus impactos.

Noventa e sete por cento das transações financeiras já são realizadas de forma digital, o que está resultando em uma reconfiguração e redução do número de agências físicas no Brasil.

Os bancos estão usando a Inteligência Artificial como uma base para oferecer produtos financeiros. O Open Finance e o Real Digital serão novos modelos de negócios por conta dessas inovações.

Em face deste cenário, há o aumento de outros modelos de trabalho na categoria bancária, como trabalho remoto, PJ e microempreendedor digital.

Pesquisa da Febraban apontou que, em 2022, 65,6% das transações financeiras foram realizadas por celular, e somente 2% foram feitas nas agencias físicas. O que, para os trabalhadores é preocupante, já que grande parte deles trabalha nas agências físicas.

Segundo Catia, o aumento da digitalização interessa muito aos bancos brasileiros, porque resulta na redução de custos. Ainda segundo a pesquisa da Febraban, em 2014 essa economia variava de 40% a 50% nos custos das transação. No balanço do Santander houve redução de 52% nos custos da transação em cinco anos.

“Há um interesse grande dos bancos em digitalizar não só as transações financeiras, mas todo o banco. Em consequência dessa digitalização, há uma redução muito grande nas agências. Desde 2014 houve redução de mais de seis mil agencias no Brasil”, disse a economista.

Além disso, os bancos têm se utilizado da IA para fazer operações. Em 2020, 618 milhões das chamadas atendidas foram via chatbot. O Bradesco lançou recentemente como IA a chamada BIA, que realiza atendimentos e transações.

Já são mais de 662 milhões de chaves PIX no país, e 60% das transações via PIX são de pessoas até 40 anos.

“O impacto disso ainda é uma incógnita, se vai demandar mais trabalhadores nas empresas financeiras ou não”, pontuou Cátia.

O Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira é realizado pela Contraf-CUT, junto com a UNI Américas Finanças – braço da UNI Global Union –, com a alemã Fundação Friedrich Ebert Stiftung e com a Sask, organização finlandesa de cooperação para o desenvolvimento do movimento sindical.  

O evento segue neste sábado 28. Acesse a programação completa.

seja socio