Representantes de sindicatos de bancários do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, México, Paraguai e Peru estão reunidos na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em São Paulo, para discutir o setor financeiro atual e o mercado de trabalho bancário. O Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira começou nesta quarta-feira 25 e vai até sábado 28. O evento é realizado pela Contraf-CUT, junto com a UNI Américas Finanças – braço da UNI Global Union –, com a alemã Fundação Friedrich Ebert Stiftung e com a Sask, organização finlandesa de cooperação para o desenvolvimento do movimento sindical.
O impacto da tecnologia nos empregos da categoria no Brasil foi destacado pela presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, durante a abertura do evento. “Especificamente para a nossa categoria, onde a área de TI cresceu muito, diminuíram as vagas nos bancos para algumas funções como, por exemplo, a de caixa, que era a base da pirâmide.” Ela ressaltou ainda a urgência da regulação do setor. “Todos esses exemplos de instituições que comentei [Nubank, Mercado Livre] têm autorização para lidar com o dinheiro do povo, para lidar com os recursos da sociedade, e isso, se não muito regulado, pode significar uma crise financeira nas proporções da que a gente viu em 2008. Nosso desafio não é só o emprego bancário, mas também pensar na regulamentação”, concluiu.
A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro, falou sobre a necessidade de usar a tecnologia a favor da sociedade e não do capital.
“Precisamos lutar para que a tecnologia favoreça os trabalhadores e também para o fortalecimento dos sindicatos, da Contraf-CUT e das demais entidades que fazem parte da UNI Américas.”
Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
Desafios para o movimento sindical
Em uma das mesas de debate, o economista do Dieese Gustavo Cavarzan traçou um painel sobre o setor financeiro e empregos no Brasil. O setor bancário brasileiro é o segundo que mais investe em tecnologia: R$ 34,9 bilhões em 2022, 18% a mais do que em 2021. “A face mais visível nesse processo é a digitalização das transações bancárias. Em 2022, quase 66% dessas transações foram no celular, 11% no computador e apenas 2% nas agências bancárias. Há 10 anos o celular nem aparecia nos dados e as agências eram responsáveis por cerca de 20%.” Isso se reflete no emprego bancário: “Todo esse processo inicialmente apontava para queda do emprego no setor, mas o que houve foi segmentação: nas fintechs, bancos digitais, correspondentes bancários... A categoria bancária era 60% das vagas no setor financeiro em 2012 e hoje é 44%. E os empregados de agências são os que mais sofreram redução: 20 mil postos de caixas a menos.”
E os empregos resultantes dessa segmentação, destacou o economista, têm jornadas maiores e remunerações menores. “Esses trabalhadores não são representados pelos sindicatos de bancários, que têm tradição de mobilização e força de negociação. Estão pulverizados em sindicatos menores ou nem mesmo são representados por sindicatos. Esse é o grande desafio do movimento sindical bancário hoje, o de organizar esses trabalhadores.”
Em uma breve intervenção, a secretária-geral do Sindicato, Lucimara Malaquias, falou sobre a atuação do Sindicato nesse contexto.
“O Nubank tem cerca de 4 mil trabalhadores, a maioria financiários e a maioria em São Paulo. Nós conseguimos trazer para o Sindicato em torno de 1.800 desses trabalhadores. Ainda não conseguimos a totalidade, mas essa entrada nossa é importante, porque marca o início de uma aproximação. Temos trabalhado na meta de expandir nossa representação para trabalhadores de outros bancos digitais, financeiras, cooperativas, correspondentes bancários e fintechs. Alcançando empregados para além dos cinco maiores bancos.”
Lucimara Malaquias, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
Realidades similares
Sindicalistas de outros países latino-americanos destacaram problemas semelhantes aos do Brasil: forte digitalização, redução de postos de trabalho e precarização dos empregos bancários.
O diretor regional da Uni Americas Finanças, Guillermo Maffeo, falou sobre o trabalho desenvolvido pela entidade diante dessa realidade. “Estamos criando observatórios regionais para pesquisar o tema. Geramos uma plataforma muito interessante, através de acordo com os governos, para avançar nessa busca da regulamentação do setor financeiro, pois sem regulamentação sofrem os trabalhadores e também os usuários. Além disso, apoiamos o fortalecimento dos sindicatos, pois sabemos que as diferenças de jornadas e salários estão vinculadas com o fato de os trabalhadores serem ou não sindicalizados. Os empresários defendem que os empregados de fintech são outra categoria e que têm melhores condições de trabalho, mas sabemos que isso não é verdade, eles não têm benefícios sociais e isso tem a ver com a falta de sindicalização.”
Os debates do Fórum Internacional continuam na quinta-feira. Veja aqui a programação.