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Acordo já beneficia bancários do Santander

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Demitidos em dezembro já estão procurando a entidade para resolver seus casos. Alguns serão reintegrados e outros poderão optar pela indenização
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São Paulo - Bancários do Santander já começam a ser reintegrados ou indenizados segundo acordo firmado entre banco e Sindicato e aprovado pelos trabalhadores em assembleia no dia 3 de janeiro. O documento prevê a reintegração dos desligados sem justa causa em dezembro que estão com câncer, HIV ou lúpus; reintegração ou indenização dos que estavam a seis meses de conquistar a estabilidade pré-aposentadoria e a indenização dos demitidos com menos de 10 anos de casa.

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Diagnosticado com HIV, Marcelo (nome fictício) conseguiu, por meio do acordo, a reintegração nas suas funções dentro do banco. “Procurei o Sindicato porque considerei injusta a demissão; o banco não poderia ter me demitido, pois estou em tratamento médico. Participei das assembleias que o Sindicato organizou, de audiência no TRT, e fui reintegrado”, disse o trabalhador, que voltou a desempenhar suas funções na quinta-feira 17.

A analista da área de treinamento do SAC Patrícia (nome fictício) também foi reintegrada por se enquadrar em um dos casos de saúde citados. “O que vai me ajudar muito são os benefícios, como o convênio médico. Acho que a atuação do Sindicato, desde que saiu a liminar de suspensão das demissões até agora, foi eficientíssima”, considera a trabalhadora, atualmente tratando um câncer.

Demissões - Nos primeiros três dias de dezembro, o Santander promoveu um grande número de demissões em todo o país, sem qualquer consulta ou diálogo com o movimento sindical. Só na base do Sindicato foram 440 funcionários mandados para a rua às vésperas do Natal. A representação dos trabalhadores entrou com ação no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (capital e região metropolitana de São Paulo) e conseguiu liminar que suspendia as dispensas. Com os desligamentos suspensos, Sindicato e banco iniciaram processo de negociação mediado pelo TRT (foto à esquerda), resultando no acordo. Paralelamente, os bancários realizaram protestos em agências e concentrações da instituição financeira.

Indenização – Além dos casos envolvendo questões de saúde, o acordo prevê também a opção por reintegração ou indenização de quem estava a seis meses da estabilidade pré-aposentadoria. O agora ex-bancário Celso Rogério de Campos Escobar se enquadrou nessa cláusula do acordo, tendo optado pela indenização e aposentadoria.

Funcionário do extinto Real, Celso conta que começou a sofrer pressão assim que o Santander incorporou a instituição para a qual trabalhava. “Não é um tratamento humano. Eu trabalhava muitas horas e, por não bater cartão, eles abusavam. Era sábado, domingo e feriado trabalhando. Com a aposentadoria, e graças ao acordo, eu resgatei minha qualidade de vida”, comemora Celso.

Com mais de 20 anos de banco, Nicola Guerrera Neto também foi beneficiado por estar a seis meses da estabilidade pré-aposentadoria. Ele também optou pela indenização. “Prefiro descansar esses seis meses a ficar sofrendo novamente”, diz, referindo-se à pressão por metas que faz parte da rotina do emprego.

O agora aposentado elogia a atuação do Sindicato no caso: “Foi firme, não arredou o pé e conseguiu um acordo num curto espaço de tempo. Só tenho a elogiar”, afirmou, acrescentando que os trabalhadores precisam estar mais perto da entidade. “Essa atuação só mostra que os bancários têm que estar mais próximos de seu Sindicato, conhecer melhor sua estrutura e como ela funciona. Não é somente na greve que o Sindicato atua”, lembra.

Outra bancária, que não quis se identificar, ficou aliviada ao ser beneficiada pela indenização, já que também estava a seis meses da pré-aposentadoria quando foi demitida. “Todas as opções que eu achava que tinha caíram por terra. Foi muito desgastante. Não consegui mais planejar minha vida.” Após o acordo, ela conseguiu se aposentar em tempo integral e garantir o plano de saúde vitalício. “Eu consegui isso hoje e estou saindo daqui do Sindicato muito satisfeita. Foi uma conquista.”

Foram contemplados também funcionários desligados com menos de 10 anos de empresa. Eles receberão um salário nominal, com limite de R$ 5 mil, e seis meses de vale-alimentação.

União e mobilização – Para a secretária de finanças do Sindicato, Rita Berlofa, o entendimento com obanco foi positivo por ter conseguido contemplar todos os demitidos em dezembro. “O ruim foi o processo de demissões, que não deu opção de diálogo com os sindicatos na busca por alternativas, mas devemos ressaltar que a união e a mobilização entre os trabalhadores e o Sindicato foi essencial para que o número de demissões não tivesse sido ainda maior”, avalia.

Rita considera que o episódio foi ainda mais lamentável pelo grande desgaste causado entre trabalhadores e Sindicato e o Santander, o que poderia ter sido evitado se o banco tivesse buscado a negociação com os sindicatos, como ocorre na Espanha.

“Vemos o que está acontecendo agora na Espanha, onde o movimento sindical está sendo ouvido junto à direção do banco em busca de alternativas que reduzam o impacto social das demissões provocadas pela fusão do Santander com o Banesto. A exemplo do que ocorre na Europa, o Santander precisa respeitar os trabalhadores brasileiros, já que sua filial no Brasil é a mais lucrativa do mundo para o banco, respondendo por mais de um quarto do seu lucro total”, afirma.

Convenção 158 – Rita Berlofa ressalta que para evitar outros episódios de desrespeito aos trabalhadores, o governo brasileiro deve voltar a ser signatário da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que impede as demissões imotivadas.  

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"Durante o governo FHC o Brasil deixou de ser signatário da Convenção 158. É fundamental conscientizar não só os bancários, mas todos os trabalhadores e o Congresso Nacional sobre a importância dessa ferramenta na luta contra as demissões sem motivo. Mas enquanto isso não acontece, o Sindicato continuará firme na luta contra o desrespeito dos bancos aos seus funcionários", conclui.

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Rodolfo Wrolli – 23/1/2013

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