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Chapéu
Mudanças climáticas

Mudanças climáticas: ‘Temos um aumento dos eventos extremos e pouca resposta do poder público’

Linha fina
Geógrafo Wagner Ribeiro destaca a intensificação das chuvas nas grandes metrópoles e a omissão governamental para impedir tragédias, como na capital paulista, onde a gestão Covas reduz recursos para o combate de enchentes
Imagem Destaque
ARQUIVO EBC

Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no início de janeiro, documentando catástrofes naturais nas últimas duas décadas na América Latina, aponta o Brasil entre os 15 países do mundo onde a população está mais exposta ao risco de inundação dos rios. São pelos menos 70 milhões de pessoas que podem ser impactadas por esse tipo de desastre que tem sido cada vez menos “natural”, estando relacionado à ação humana.

A análise é do professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) Wagner Ribeiro, colunista da Rádio Brasil Atual, em entrevista ao jornalista Glauco Faria. “A gente tem assistido, por conta das mudanças climáticas, uma intensificação desses eventos extremos”, destaca.

“As chuvas têm sido mais recorrentes na região sudeste do Brasil, inclusive chuvas de alta intensidade. Essas pancadas que a gente tem assistido no final da tarde têm sido cada vez mais frequentes. Então, não tem nada de natural, nós estamos de fato mudando as condições do planeta com repercussões muito sérias, inclusive nas grandes metrópoles”, alerta o geógrafo.

A omissão da gestão Doria/Covas

Não à toa, avalia Ribeiro, que entre o quase um terço da população brasileira que está exposta ao risco de inundação,  se repita o perfil de vulnerabilidade social aguda, segmento atingido pelos alagamentos e enchentes. “Isso não tem nada de natural”, critica o professor. “Ao contrário, nós temos aí razões sociais, econômicas e políticas para que esse situação ocorra, e ao mesmo tempo a gente não assiste ações dos governos federal, estadual e municipal de combate a enchente”.

Só na cidade de São Paulo, por exemplo, onde enchentes e alagamentos são registrados em locais recorrentes, reportagem da RBA mostra que, entre 2017 e 2018, a gestão do ex-prefeito e atual governador João Doria e de seu sucessor, Bruno Covas, ambos do PSDB, gastou apenas um terço de toda verba orçada para combater esses problemas. Para o geógrafo, há “omissão por parte da prefeitura”. “Do meu ponto de vista é um erro estratégico. Separa menos recursos e ainda não usa, realmente são dois erros sérios, um reforçando o outro, e com a situação de vulnerabilidade social aumentando drasticamente, inclusive em São Paulo”, contesta Ribeiro.

“Nós temos um aumento dos eventos e menos resposta do poder público e investimentos públicos para enfrentar estas questões, afetando com muita frequência as mesmas pessoas, todos os anos, que sofrem perdas materiais graves, quando não, infelizmente, perdas humanas.”

Desmatamento na Amazônia afeta regime de chuvas

O professor ainda adverte que para além das mudanças climáticas que favorecem a ocorrência de eventos extremos, o desmatamento da Amazônia também é grave por afetar o regime de chuvas de todo o continente.

Na terça-feira 15, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) confirmaram a tendência de aumento da devastação do bioma do ano passado para cá. De acordo o levantamento, de janeiro a dezembro de 2019, as áreas derrubadas na Amazônia Legal quase dobraram, somando nove mil quilômetros quadrados, um aumento de 85% com relação a 2018.

“É claro que mudando as condições do clima na Amazônia, você faz com que menos umidade circule por lá e evidentemente diminuam as chuvas em São Paulo. Só que essas chuvas da Amazônia não chegam agora no verão, chegam justamente no período de safra, é a chuva boa, digamos assim, que acaba não vindo na hora determinada e pode acarretar dificuldades para a própria produção agrícola”, alerta o geógrafo.

Confira a entrevista na íntegra

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