São Paulo - Alagoano de nascimento, paulistano por opção e eleição e palmeirense por paixão, o deputado Aldo Rebelo, aos 58 anos, já passou por seis mandatos e presidiu a Câmara Federal, mas hoje enfrenta provação maior que a de um juiz de futebol em sua primeira final, e na várzea. Ministro do Esporte, o também escritor e jornalista tem sob sua responsabilidade a defesa da Copa do Mundo de Futebol, uma megaprodução de interesse e repercussão mundial - pelo porte e cifras que movimenta -cobiçada por dezenas de países e vista por mais de um bilhão de pessoas em todo o Planeta.
Embora a Copa seja um evento privado, nas mãos da todo-poderosa FIFA, e com várias matrizes de responsabilidade, é sobre o costado do Governo Federal que tem recaído a maior parte das cobranças e críticas à sua realização no Brasil. Mais precisamente sobre as costas do ministro Aldo Rebelo, apesar de o certame, na esfera do governo, ter acompanhamento “multidisciplinar” e envolver o carimbo e ação de vários ministérios.Nem o fato de os brasileiros esperarem há 53 anos para ver mais uma Copa em solo verde e amarelo e, assim, vingar a tragédia do Maracanã, tem minimizado a tarefa de quem zela pelo evento em nome do governo. Em 2007, o então presidente Lula viu, pessoalmente em Zurique, o anúncio oficial de que o Brasil sediaria a Copa do Mundo em 2014. Recebeu a taça das mãos de Joseph Blatter, presidente da FIFA, “e nunca foi perdoado por isso”, na opinião de Aldo Rebelo.
É a essa luta de classes, a esse ódio ao Lula, o primeiro operário a chegar à Presidência da República e a fincar o Brasil no mapa, que o ministro do Esporte atribui parte da avalanche de notícias ruins, desinformação proposital, críticas sem fundamento e até alguns protestos, no que por vezes aparenta ser uma campanha contra a Copa para atingir o governo federal e as forças progressistas. “Há uma minoria que age por razões políticas e ideológicas. Uma minoria, e vamos dizer a verdade, que não perdoou o fato de a Copa do Mundo ter sido trazida para o Brasil pelo Lula. Isso é parte da agenda anti-Lula, que continua. Esse homem não vai ser perdoado nunca. Ele trouxe a Copa, trouxe a Olimpíada - os dois maiores eventos do Planeta. A China planeja levar uma Copa para lá daqui a 40 anos. A França organiza-se e faz um esforço de Estado enorme para sediar a Olimpíada em 2024”. E conquistamos os dois eventos seguidos”, explica o ministro.
Aldo Rebelo também não tem mais perdão do que Lula e vem sendo carimbado de “ufanista” e “nacionalista” pela chamada grande mídia por conta da sua defesa apaixonada e incondicional da Copa do Mundo no Brasil. Quem o ‘ataca’ cai na armadilha de uma das máximas do jornalismo sobre o que é mais notícia: o cachorro morder o homem ou o homem morder o cachorro?
Ingenuidade, despreparo, oposição, luta de classes ou má-fé de quem ‘carimba’ o ministro ser chamado de ufanista é óbvio, como é previsível que ele defenda a Copa no Brasil. Notícia seria se ele criticasse a realização do maior evento do futebol mundial em terras brasileiras.
Aldo Rebelo, no entanto, não se limita a ‘ufanar’ a Copa. Afiado, mostra com números, dados, informações e exemplos, à disposição de todos, como, quando e porquê a Copa será importante para o Brasil, à sua economia, cultura, turismo, desenvolvimento esportivo, para os investimentos estrangeiros e para a classe trabalhadora. O legado é verdadeiro, segundo ele, que admite a confusao de informações imposta ao povo.
Aldo garante que não tem evento, canteiros de obras e condições de trabalho mais fiscalizados e controlados do que os da Copa. Diz que mais de 90% das obras de mobilidade urbana estarão concluídas antes do campeonato acabar, em julho. Destaca que tais obras não foram feitas por causa da Copa e que serão um legado para as cidades-sede e todos os brasileiros e brasileiras, assim como as arenas multiuso, onde o gramado, com o tempo, se transformará em mero detalhe, assim como os jogos de futebol.
Lojas, bares, feiras, congressos, exposições, atividades esportivas e populares e até casamentos serão realizados nesses novos espaços, a exemplo do que acontece no na arena de Wembley, em Londres, onde são realizados somente oito jogos por ano, segundo Aldo. No restante do tempo, o que mais a população faz no lendário estádio londrino é beber muita cerveja.
Abaixo, a entrevista que o ministro concedeu ao Portal da CUT Nacional, na segunda-feira 10, realizada, a pedido da reportagem, na sede da Central, onde foi recebido pelos presidentes da CUT Nacional, Vagner Freitas, e estadual São Paulo, Adi dos Santos Lima.
CUT Nacional – O sr. tem dito que um dos mais importantes legados da Copa do Mundo para o Brasil é a geração de 3,6 milhões de empregos, número apontado por uma consultoria de mercado (veja mais no link 1 no final da reportagem) no documento “Brasil Sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo. Este número é oficial, é o que vale? O governo federal tem este mesmo número?
Aldo Rebelo – Esse dado integra documento elaborado em conjunto pela consultoria norte-americana Ernst & Young e a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. É um estudo de mercado e não foi encomendado pelo governo federal nem realizado a nosso pedido. Foi feito para criar referências ao mercado. Além desse número, há também referência ao crescimento do PIB, na qual eles calculam que o evento vai gerar um acréscimo ao PIB brasileiro de 0,4% ao ano até 2019. Há outros números relacionados com arrecadação tributária, investimentos públicos e privados e aponta que para cada um real de investimento público há a contrapartida de quase quatro reais de investimentos privados. O governo não fez um cálculo próprio sobre o número de empregos gerados, apenas trabalha com dados possíveis de serem recolhidos, como o da Apex, que na Copa das Confederações, em 2013, apontou mais de 900 empresas estrangeiras visitando o País durante o torneio.
O sr. não é ministro do Trabalho, mas poderia falar se esses 3,6 milhões de novos postos gerados pelas obras e serviços da Copa do Mundo obedecem ao que é preconizado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) como trabalho decente? Existe a preocupação com o que acontece com o trabalhador nas obras da Copa?
Existe, sim, a preocupação do governo. Quando a Copa do Mundo veio para o Brasil (decisão foi anunciada em 30 de novembro de 2007), o presidente Lula pediu ao ministro-chefe da CGU Controladoria-Geral da União (Jorge Hage)que o dinheiro aplicado na Copa fosse o mais fiscalizado do País. O Tribunal de Contas da União destinou um ministro para cuidar exclusivamente da Copa do Mundo no Brasil e outro está a cargo exclusivo da Olimpíada. Nenhuma outra atividade no Brasil tem um ministro destacado com exclusividade para acompanhar e controlar um evento. Os empregos gerados pela Copa são os mais fiscalizados pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho). Não conheço nenhuma atividade que tenha provocado a visita pessoal do presidente do TST, à época o ministro Oreste Dalazen, a todos os canteiros de obras de todos os estádios construídos para a Copa. Há um Grupo de Trabalho na OIT (Organização Internacional do Trabalho), da nossa companheira Laís Abramo (coordenadora do escritório do órgão no Brasil), que também acompanha as atividades da Copa. O que eu posso te afirmar é que não há no País nenhum evento cujos empregos gerados foram e estejam sendo tão fiscalizados do ponto de vista da correção, não só por parte do Poder Executivo, mas pelo Judiciário, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho. As obras do Maracanã, por exemplo, têm o acompanhamento e controle de 12 órgãos, entre eles os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Defensoria Pública, Tribunal de Contas, Delegacia do Trabalho e outros. Pela repercussão internacional desses eventos naturalmente a imprensa, o movimento sindical, a Federação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos, todos acompanham. Nós achamos que isso é bom porque a Copa tem de ser um evento não só exemplar do ponto de vista do Esporte, mas da própria transparência das atividades nas obras em todo o País.
Ministro, todos esses números podem ser acessados nos portais do governo federal, do Ministério do Esporte, no site oficial da Copa 2014 (veja link 2, abaixo), portal da Transparência. Qualquer pessoa que fizer uma busca no Google encontrará esses e outros dados e também a matriz de responsabilidades da Copa. Quem quiser vai saber que que o dinheiro investido no evento não vem somente dos cofres públicos, mas de várias matrizes como Confederação Brasileira de Futebol, construtoras, iniciativa privada, bancos. Mas o que tem prevalecido é um senso comum e informações divulgadas pela chamada ‘grande mídia’' que destacam notícias sobre protestos, corrupção, desvios, desmandos e tudo isso é quase sempre colocado nas costas do governo federal. Tem como mudar essa percepção? Por que há esse clima pesado e com tanta desinformação em torno de um evento desejado por quase todos os países?
Há um principio que foi tornado lei em comunicação citado pelo “Príncipe da Comunicação”, o nazista Joseph Goebbels, de que “uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”. Alguns órgãos da mídia, infelizmente, acham que isso pode valer para a Copa no Brasil. Acho que não porque não há mil mentiras que repetidas dez mil vezes passem a valer por uma verdade. A Copa é um evento disputado por todo o Mundo. Todos os países desejam sediar um evento como este, como a Olimpíada. Vou citar um caso, o do Japão, que venceu a disputa para sediar a Olimpíada de 2020. O jornal ‘Folha de S.Paulo’fez um editorial publicado em 10 de setembro de 2013, leia integra no link 3, abaixo) que, em resumo, dizia que o significado da Olimpíada para o Japão e que cumpria dois grandes objetivos: o primeiro, a retomada do crescimento de uma economia que há décadas está estagnada e o segundo, que o Japão irá retomar um protagonismo geopolítico na Ásia que vem recebendo sombra muito grande da China. Ou seja, no jornal Folha de S.Paulo, para o Japão uma Olimpíada é fator de desenvolvimento econômico e de projeção de poder geopolítico, mas para nós, Brasil, segundo o mesmo jornal, a Copa, a Olimpíada, representam só um desperdício de dinheiro público, uma fonte de escândalo. Como é que nós podemos aceitar uma coisa dessas?
Mas é que isso foi e tem sido disseminado, que está na mídia, na cabeça de boa parte da sociedade.
A Copa se mantém porque é um evento que, por si só, tem muita força, muito prestigio, que carrega a fantasia do povo. Todo mundo sonha em ver no seu País as principais seleções do mundo. Quem não quer ver aqui no País as seleções do Brasil, Espanha, Itália, Alemanha, Rússia, Argentina, Uruguai, Inglaterra e tantas outras? É um evento que tem muita força.
Então o pior inimigo da Copa do Mundo no Brasil, neste momento, é a desinformação crítica divulgada por parte dos chamados ‘grandes meios de comunicação’?
As pessoas estão buscando outras fontes de informação. O próprio UOL (que é do grupo Folha) teve de publicar as razões para ser a favor da Copa (reportagem ‘Sete argumentos econômicos para defender a Copa do Mundo no Brasil’, íntegra no link4). É porque essas razões, esses argumentos existem e, naturalmente, se não houver um mínimo de contrapartida à desinformação os próprios veículos de comunicação acabarão perdendo credibilidade. Eles vão ser obrigados a fazer um contraponto à campanha negativa que fizeram antes.
Então, o sr. acredita que a mídia e o ‘time do contra’ estão começando a voltar atrás na avalanche de críticas que vêm fazendo a tudo que se relaciona à Copa no Brasil?
A copa do Mundo mais do que a Olimpíada é um evento privado. O governo federal está investindo é em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), obras de mobilidade urbana já previstas antes da Copa. Nenhuma delas vai ser levada por nenhuma seleção de futebol; nenhum viaduto, nem universidades, nem aeroportos serão levados do Brasil após o evento. A única coisa que poderiam levar é a Taça de campeão e isso não vai acontecer porque essa vai ficar aqui. Não tem dinheiro do Orçamento da União nas obras da Copa. Mas dirão que tem renúncia fiscal. E tem sim, em matéria-prima para construir os estádios. Mas renúncia fiscal é uma política que se pratica em função do interesse público. O Estado brasileiro, o Poder Público faz renúncia fiscal do papel jornal, por exemplo, para obter como benefício mais acesso da população à leitura de um jornal que custe menos. Quando o governo faz renúncia fiscal no setor automobilístico é em troca de empregos, de maior competitividade da indústria. Com os estádios, a renúncia serviu para modernizar a infraestrutura esportiva do nosso País, que é uma necessidade. Não estão sendo construídos estádios só para a Copa.
Ministro, este é outro senso comum e fonte de desinformação disseminada sobre a Copa no Brasil: de que estádios como o de Manaus, Cuiabá, Natal vão se tornar elefantes brancos, sem uso, após o campeonato. Como lidar com essa informação negativa, que parece ainda mais forte e disseminada no Sul e Sudeste do País? O que o sr. diz ao trabalhador para mostrar que o dinheiro do imposto que ele paga não foi gasto na construção de estádios e que essas obras não ficarão às moscas após a Copa?
Primeiro que esses estádios não são apenas campos de futebol. São arenas multiuso, que se destinam a jogos, feiras, congressos, eventos em geral. Veja o caso de Wembley (em Londres), maior estádio da Inglaterra que recebe oito jogos por ano. Estive lá e perguntei como sustentam o estádio, já que não há jogos e me responderam que sobrevive de casamentos, de museus, bares, encontros, feiras, congressos. Aqui no Brasil a lei proibiu a venda de cerveja dentro dos estádios. Em Wembley, o gramado é um detalhe, pois o que mais tem lá são bares (risos). Na Arena de Natal, que é um desses bons exemplos, o espaço interno destinado a lojas é hoje negociado pelo melhor preço da cidade, porque todo mundo quer ter lá uma academia, uma agência bancária, uma farmácia. O local é bonito, centralizado, confortável, seguro, tem estacionamento. Essas arenas multiusos estão destinadas a acolher nas cidades eventos esportivos e não esportivos que se multiplicam no País e não têm mais alternativa. Em São Paulo, por exemplo, não pudemos fazer o centro de mídia da Copa porque o espaço do Anhembi estava ocupado até 2019. O Palmeiras está inaugurando o seu estádio e a busca por espaço para eventos já é grande. Isso não acontece só em São Paulo. Fizemos pesquisa com jornalistas estrangeiros e o terceiro destino turístico mais visado, mais cobiçado na Copa, depois de Rio e São Paulo, é Manaus.
O sr. acredita que a Copa do Mundo vai conseguir trazer a democratização do conceito de esporte e de atividade física como essenciais à saúde, essenciais à qualidade de vida da classe trabalhadora? Copa e Olimpíada contribuirão para tornar o Brasil uma potência esportiva, como já ocorreu com outros Países que sediaram esse tipo de evento?
Fui procurado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 2012, para uma cooperação com o Ministério do Esporte na difusão das práticas de atividade físicas e esportivas como formas de saúde. Na ocasião, disse a eles que deviam procurar o Ministério da Saúde e me responderam que Ministério da Saúde lembra doença e o do Esporte é que lembra saúde. Fizemos o acordo e a Sociedade Brasileira de Cardiologia vai produzir informações para serem difundidas por secretarias, ministérios como forma de estimular a prática esportiva voltada à saúde.
E o que mais o governo, o seu ministério está fazendo nesta área?
O governo federal está construindo cinco mil quadras esportivas e cobrindo cinco mil quadras em escolas públicas. Já selecionamos 260 centros de iniciação ao esporte, que são equipamentos para prática de até três modalidades – de alto nível, de esporte de lazer, e educacional. Achamos que o esporte é um elemento importante da democratização da vida do País.
Mas ministro, para o trabalhador poder chegar a um espaço, a um centro esportivo ele precisa ficar menos tempo no trânsito quando vai ou sai do local de trabalho. Entra aí a questão da mobilidade urbana. O sr. declarou que as obras em andamento para a Copa já faziam parte de um projeto que nada tem a ver com esse evento. Como estão, de verdade, as obras de mobilidade, uma preocupação e item da pauta de reivindicações da CUT à classe trabalhadora?
No Ministério do Esporte, a primeira obra de mobilidade que inaugurei foi em dezembro de 2011, em Belo Horizonte (MG). De lá para cá, essas obras não pararam de ser executadas. A cidade de Cuiabá (MT) será outra quando terminar a Copa do Mundo.
Em uma escala de zero a dez, o sr. diria que essas obras de mobilidade urbana estão em que nível?
Das obras que constam da matriz de responsabilidade (link 6), nós vamos entregar mais de 90%. E obras inclusive que nenhuma seleção e, provavelmente, nenhum turista da Copa vai utilizar, como a ligação da Jacu-Pêssego-Radial Leste. São obras para o trabalhador. A Copa do Mundo foi apenas uma referência para o governo federal antecipar essas obras de mobilidade urbana.
Como essas obras mudarão a cara dessas grandes cidades? Ainda vai faltará muito para a mobilidade urbana melhorar no Brasil?
No caso de Cuiabá, por exemplo, o prefeito (Mauro Mendes) disse que a Copa antecipou pelo menos em 30 anos a construção do VLT - Veículo Leve sobre Trilhos. Tem o metrô de Fortaleza. Essa ligação da Jacu-Pêssego; a FATEC em Itaquera, que recebeu investimentos dos governos federal, estadual e municipal. Itaquera, que é o bairro com menor IDH de São Paulo, mudou. E isso ocorreu em todo o Brasil. O impacto da Copa do Mundo vai além do emprego que será gerado, da afirmação do País como destino de investimentos do mundo todo.
Sobre manifestações, ministro, o sr. teme que ocorram protestos contra a realização da Copa ainda antes e durante o evento ou brasileiro vai ceder à paixão pelo futebol?
Contra a Copa, não acredito. Manifestações para melhorar o transporte coletivo, a educação, a saúde, a segurança pública são protegidas pela Constituição Federal.
Mas eventuais manifestações e protestos, se ocorrerem, não poderão ser instrumentalizados politicamente por críticos ao governo federal e à realização da Copa no Brasil?
Não creio que (opositores) terão coragem nem que eles queiram correr o risco de deixar todo o êxito da Copa nas mãos do governo federal. Claro que há os desesperados, mas acho que se ocorrerem manifestações vai ser coisa isolada. Na última, em São Paulo, a polícia teve de proteger manifestantes. Em Manaus, tentaram convocar e não obtiveram êxito. Não acredito em manifestação contra a Copa, acho que isso não tem muita possibilidade de prosperar. Em defesa de reivindicações sociais, elas podem ocorrer antes, durante e depois da Copa, mas serão manifestações de outra natureza.
O sr. disse que política não tem a ver com futebol, com a Copa e vice versa. O atraso nas obras da Arena da Baixada, em Curitiba, por exemplo, chegou a ser atribuído, equivocadamente, ao governo federal - a obra é privada e sob responsabilidade do clube Atlético-PR. Foi atraso mesmo ou uma questão política, uma espécie de boicote de governos estadual e municipal que são de oposição ao Federal?
A questão da Arena da Baixada não foi política. Houve um problema na gestão da obra. O governo federal procurou ajudar como mediador, construindo um caminho que ajudasse na retomada das obras da arena. A Copa não é um empreendimento do governo federal, a Copa é do País. Aqui em São Paulo, ela é dos três governos (federal, estadual e municipal), é do construtor. No caso da Arena de Itaquera, que é privada, é do Corinthians.
O sr. acredita que a maioria do povo brasileiro tem essa visão, esse tipo de informação, de discernimento?
Tem sim. Há uma minoria que age por razões políticas e ideológicas. Uma minoria, e vamos dizer a verdade, que não perdoou o fato de a Copa do Mundo ter sido trazida para o Brasil pelo Lula. Isso é parte da agenda anti-Lula, que continua. Esse homem não vai ser perdoado nunca. Ele trouxe a Copa, trouxe a Olimpíada, os dois maiores eventos do Planeta. A China planeja levar uma Copa para lá daqui a 40 anos. A França, e até fui convidado para um debate lá - se organiza e faz um esforço de Estado para sediar a Olimpíada de 2024. E o Brasil traz uma em seguida da outra. Tem gente que não perdoa. Por isso, a gente precisa ter paciência, persistência e fazer o que é certo para preparar e organizar esses dois eventos da melhor forma possível. O Brasil vai fazer uma Copa à altura das melhores expectativas. Eu costumo dizer o seguinte: temos muito orgulho da Copa e da Olimpíada. E vamos caprichar para fazer a melhor Copa do Mundo, mas o Brasil já fez coisas mais importantes que esses dois eventos.
Vai ser a Copa das Copas, como disse a presidenta Dilma Rousseff em discurso recente?
Nós somos o único país que participou de todas as edições da Copa do Mundo. Somos o único país a ganhar cinco títulos em 19 edições. Temos o maior astro das copas, que é o jogador que ganhou três, o Pelé; temos o maior artilheiro de todas as copas, o Ronaldo; somos um país onde o futebol, além de esporte, é uma plataforma de identidade nacional, a primeira grande plataforma de inclusão social de um país desigual. A primeira celebridade negra e pobre do Brasil foi dada pelo futebol, quando os pobres e negros não tinham acesso a nada. Por que o futebol é tão forte no Brasil, sendo uma instituição que se formou à margem do Estado e do mercado? Quando olhamos para uma sociedade como a nossa tudo que existe ou tem a força do Estado ou a força do Mercado. Quando o Estado chegou ao futebol, com Getúlio Vargas, em 1940, o futebol já era uma instituição consolidada. O mercado é uma presença ainda mais recente. O futebol para nós é essa instituição querida pelo povo, por essa razão é que a campanha contra a Copa é fadada ao fracasso, porque o futebol é muito forte, mesmo com suas contradições, com suas deformidades. Você vai a uma aldeia indígena e não encontra nada que lembre uma sociedade urbana, mas vê índios com camisas do Palmeiras, do Corinthians, do Vasco, do São Paulo, do Cruzeiro, de todos os times de futebol do Brasil. A Espanha tem clubes regionais: Catalunha, País Basco, Bilbao - e não há como imaginar alguém da Catalunha, do Barcelona, torcendo pelo Real Madri. Aqui no Brasil é diferente, e isso é que dá ao mundo inteiro a ideia de que nós podemos fazer a Copa das Copas. Vamos fazer, como disse a presidenta Dilma, a Copa das Copas.
No Brasil, a TV é monopolizada e controlada por poucas empresas familiares que decidem, por força dos patrocinadores, qual é o horário em que o torcedor vai assistir o seu time jogar, se antes ou depois da novela das nove (a CUT luta pela democratização dos meios de comunicação). Tem o preço alto dos ingressos, a dificuldade de acesso aos estádios. Tudo isso não tira um pouco o brilho do que o sr. acabou de falar sobre a instituição futebol?
Essa é uma relação que hoje o futebol tem com o mercado. O futebol tornou-se uma fonte importante para detentores dos meios de transmissão, patrocinadores. Mas não podemos ter uma visão unilateral das coisas. A presença desses patrocinadores ajudou a melhorar o salário dos jogadores, a renda dos clubes, mas, ao mesmo tempo, também traz um risco inerente da mercantilização de qualquer relação social. A relação do torcedor com seu clube é uma relação de paixão, de afeto, não é de consumidor, de alguém que vai receber algo em troca. Quando o patrocínio entra, isso cria na cabeça do torcedor uma ambiguidade, porque para o patrocinador o futebol e o clube são um produto, mas para o torcedor é algo afetivo.
Então, ministro, o que pode ser feito por um esporte nacional tão adorado pela população e que promete trazer esse legado para o Brasil por meio da Copa?
Nós temos debatido desde o calendário, complicado porque há excessos e, ao mesmo tempo, tem a maior parte com ausência de calendário, jogadores que ficam três meses sem jogar ou jogam uma série e acabam desempregado. Esses são dilemas que precisamos enfrentar.
Ministro (que na sequência se reuniria com o Bom Senso Futebol Clube), qual é a previsão do pódio da Copa do Mundo no Brasil? E o seu Palmeiras?
Brasil (1º), Alemanha (2º), depois pode vir Itália, Argentina. O Palmeiras. O mínimo que nós queremos este ano...ah! não pode ser Libertadores, né?
Vanilda Oliveira, da CUT - 11/3/2014
Linha fina
Em entrevista exclusiva à CUT, ministro do Esporte, Aldo Rebelo, destaca os 3,6 milhões empregos gerados, garante 90% das obras de mobilidade e diz que minoria não "perdoa Lula por ter trazido a Copa"
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