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"Com esse Congresso, não dá", bradam movimentos

Linha fina
Ato político com a presença de 600 representando 14 estados reafirma cobrança por assembleia constituinte exclusiva para a reforma polícia
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São Paulo – Sem uma reforma ampla do sistema político, elaborada por uma constituinte exclusivamente eleita para essa tarefa, não haverá as demais mudanças desejadas e necessárias para o Brasil. Essa é a conclusão de movimentos de moradia, sindicatos, organizações da juventude, professores universitários, políticos, juristas e lideranças indígenas, durante o Ato Nacional pela Constituinte, na noite de sábado 10, no salão do clube Trasmontano, centro da capital paulista. O evento reuniu mais de 600 pessoas, vindas de 14 estados.

O lema que resumiu o encontro, e que também faz parte de manifesto divulgado pelas entidades presentes, dá bem a medida dessa conclusão: “Com esse Congresso, não dá”. Para as entidade que assinam o documento, a representação política brasileira, do modo como se constitui atualmente, não aprovará  reformas que alterem a distribuição de poder, que desconcentrem renda e ataquem as injustiças sociais existentes.

No encontro, foram citadas como exemplos de reformas que não ocorreram, apesar de serem reivindicadas há décadas: agrária, tributária, urbana, sindical e desmilitarização das polícias.

Também se argumentou que como o Congresso Nacional atual é composto majoritariamente por representantes de banqueiros, empresários, grandes proprietários de terras e donos de meios de comunicação, a reforma política, que poderia alterar essa estrutura e abrir caminho para a aprovação das demais reformas, também não vai sair.

Plebiscito – Vem daí a defesa de uma constituinte exclusiva. Um dos objetivos do ato foi mobilizar todas as entidades a trabalhar pela maciça adesão popular a um plebiscito, organizado pelos movimentos sociais, que será realizado entre os dias 1º e 7 de setembro, a Semana da Pátria, em todo o país.

As pessoas serão convidadas a responder uma pergunta impressa em cédulas: “Você é a favor de uma constituinte exclusiva para elaborar a reforma política?” Com duas alternativas de resposta: Sim ou Não.

Acredita-se que se houver uma grande participação popular e se o “sim” vencer, estará criado um fato político capaz de forçar governos e parlamento a convocar eleições para a constituinte exclusiva.

Mobilização – Estão previstos outros atos como o de sábado em diversas regiões do Brasil, sempre com o objetivo de popularizar a ideia e engajar a militância na tarefa. Enquanto isso, mais de 300 comitês organizadores do plebiscito já foram criados no território nacional, com previsão de aumento desse número.

Políticos presentes – “Estamos em uma encruzilhada. Ou se escolhe uma mudança por inteiro, ou não dá pra escolher pela metade e esperar pelas mudanças reafirmadas pelas mobilizações da juventude desde junho do ano passado. Hoje, até os partidos de origem popular ficam reféns desse sistema, onde predomina o poder econômico, travando as decisões. A gente elege governo, mas não leva, porque precisamos ficar presos a coalizões que não correspondem à vontade do povo”, disse o deputado federal do PT Renato Simões.

Uma das propostas para a reforma política é o fim do uso de dinheiro de empresários e banqueiros para financiar campanhas políticas, com o consequente fim do chamado “rabo preso”, e a criação do voto em lista.

O professor da USP Lincoln Secco se mostrou otimista. “Aqueles que têm memória histórica lembram que em 1984 começou um movimento pequeno que logo depois virou um movimento de massas, que foi a luta pelas Diretas Já. Temos uma democracia que é racionada, não plena, que distribui direitos para quem está em cima e porrada em quem está embaixo. Para mudar, temos de destravar o sistema político. Eu me comprometo a levar esse debate para a universidade pública”

“Nós estamos montando vários comitês para discutir esse tema com a população. Não dá para discutir com esse Congresso, que está repleto de latifundiários, banqueiros”, bradou a estudante Carla Emanuelle Silva de Carvalho, representante da Juventude Revolução.

Emanuelle lembrou que a presidenta Dilma, em julho do ano passado, apresentou à sociedade a proposta de uma constituinte exclusiva para elaborar a reforma política, mas a ideia foi de pronto rechaçada por partidos aliados e pela grande mídia.

Mãe das reformas – “A reforma política é a mãe de todas as reformas”, destacou Celina Simões, representante da Escola da Cidadania Santo Dias, do Jardim Ângela, bairro que já foi considerado o mais violento de São Paulo e que atualmente, devido em grande parte ao trabalho de inclusão social capitaneado pela escola, reduziu em 80% o índice de homicídios dolosos. “Com essa reforma aprovada, as demais ficarão mais fáceis”, concluiu.

O senador Eduardo Suplicy, também presente à mesa de debates, rendeu homenagem ao jurista Fábio Konder Comparato, que há vários anos vem lutando pela reforma política e formulando propostas para tal. Comparato, inclusive, ajudou a CUT a formular propostas que resultaram numa resolução de defesa da reforma, aprovada no Congresso Nacional da CUT em 2012, como lembrado por Júlio Turra, dirigente executivo.

“As mudanças não andam por causa da correlação de forças que é infinitamente maior a favor do capital. O maior sub-representado em nossa política é o povo brasileiro. A luta por esse plebiscito é nossa grande chance de fazer uma pressão a partir de baixo”, disse Turra. “Se aprovada sua realização, vamos cobrar que a presidenta Dilma encaminhe o projeto”, completou.

Descrédito – Para o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP), o descrédito nas instituições do sistema político é um sintoma grave. Ele perguntou aos movimentos de moradia presentes no plenário se confiavam na Justiça, a mesma que ordenou recentemente a desocupação na Vila Maria. Diante do sonoro “não“, vaticinou: “Se não mudarmos a Constituição, as instituições podem entrar em colapso”.

O dirigente da FUP (Federação Única dos Petroleiros) João Antonio de Moraes também lembrou que a reforma política é necessária para quebrar a espinha dorsal da coalizão conservadora que, com a ajuda da imprensa, tenta impor retrocessos. “Essa campanha aberta para manchar a imagem da Petrobrás nada mais é que uma tentativa de enfraquecê-la para depois poderem propor mudanças nas regras de exploração e venda do pré-sal e tirarem a empresa da posição de única operadora dessas jazidas”.

Leia o manifesto divulgado pelo encontro

Ato Nacional pela Constituinte, 10 de maio de 2014
Reunidos em São Paulo, mais de 600 vindos em delegações de 14 estados do País.

“O Brasil precisa de uma reforma política para destravar as aspirações de justiça social e soberania do povo brasileiro. Com esse Congresso não dá!

Tem razão a presidenta da República ao dizer que a reforma não se fará sem consulta ao povo.

É preciso dar a palavra ao povo. O meio para isso é a convocação de uma Assembléia Constituinte, unicameral, proporcional, sem financiamento empresarial e com voto em lista. Não tem outro jeito, é o único meio!

Por isso, estamos engajados no Plebiscito Popular Pela Constituinte Soberana e Exclusiva Sobre o Sistema Político, que vai ocorrer de 1º a 7 de setembro. E esperamos o mesmo de todas as forças democráticas, sindicais e populares, bem como o compromisso com seu resultado da presidenta Dilma do PT e daqueles que, nos vários níveis das eleições, defendam o interesse da Nação.



CUT, com edição da Redação – 12/5/2014

 

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