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“Temos que ter orgulho do Brasil”, diz Lula

Linha fina
Ex-presidente fala sobre mídia, política e Copa em encontro de blogueiros e ativistas em São Paulo
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São Paulo – “Vamos torcer para o Brasil ganhar, gente!” Foi uma das mensagens de otimismo que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva compartilhou com blogueiros e ativistas digitais, na manhã desta sexta-feira 16, em São Paulo.

No evento, promovido por blogueiros em defesa da democratização dos meios de comunicação, Lula discorreu sobre ataques da grande imprensa, falou sobre a necessidade da esquerda se comunicar com a juventude e entender mais a internet, dando um recado: “Não acredito em política sem esperança”.

“A única mágoa que eu tenho é que quando eu faço crítica à imprensa, eles dizem que o Lula ataca a imprensa , e quando eles me atacam, dizem que fazem crítica”, brincou o ex-presidente, ao criticar a cobertura da mídia contra os governos do PT.

“Todo santo dia há tentativa de desmoralizar a política e as instituições. Nós precisamos voltar a ter orgulho de fazer as coisas”, afirmou ao se referir à negação da política, incentivada pelas grandes empresas de comunicação, que segundo ele se mostra perigosa para a democracia. “Hoje na televisão qualquer um se dá ao luxo de esculhambar a política.”

Democratização da comunicação – Aos blogueiros e aos militantes digitais, o ex-presidente afirmou que não vale a pena chorar por ataques da imprensa porque os tempos são outros. “Não vale mais a pena chorar, porque temos internet, blogs e temos que utilizar os mecanismos à disposição nesse país inteiro. Como a gente cresceu? A gente cresceu indo às 5 horas da manhã com panfleto. Você acha que em 1975, em 1977 ou 1978, a imprensa divulgava o que a gente fazia? Era a nossa comunicação e a gente não chorava não. Hoje qualquer manifestação tem cobertura em tempo real.”

Lula disse que a sociedade está se preparado para o debate sobre a regulação da mídia, pela liberdade de expressão e pluralidade nos meios de comunicação. Ele citou o Marco Civil da Internet , aprovado recentemente, como fruto da mobilização da sociedade. “A coisa está amadurecendo. Estamos ganhando espaço para começar a fazer um debate maduro sobre regulação dos meios de comunicação desse país.” E garantiu: “Toda vez que eu puder abrir a boca, a questão da regulação estará como primeira palavra.”

Projeto de lei – A temática de regulação dos meios de comunicação foi o mote do Dia do Tabalhador de 2014. Projeto de Lei de Iniciativa Popular das Comunicações poderá ser apresentado ao Congresso Nacional para regulamentar o que diz a Constituição em relação às rádios e televisões brasileiras. Para isso, será preciso apresentar 1 milhão e trezentas mil assinaturas.

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Esperança – Lula expressou uma preocupação com um “certo momento de diminuição de esperança” e uma falta de perspectiva de um mundo melhor. Segundo ele, os mais jovens, pela pouca idade, não lembrariam como tinha sido os anos 1990, com o PSDB no governo federal, portanto, seria fundamental a comunicação com essa faixa etária.

Lula analisa que aquele jovem que entrou na faculdade quer mais – um emprego melhor, um salário melhor, mais educação – e o objetivo seria atender essas expectativas e falar com esse público.

Ele expôs dados que mostram a melhoria do país – com investimentos em saúde e educação, com criação de diversas universidades federais – e a resistência à crise econômica mundial.

Economia – Lula ainda falou de como o Brasil conseguiu ser o primeiro a sair da crise. “Enquanto em cinco anos de crise, desde 2008, a Europa jogou fora 62 milhões de postos de trabalho, este país criou, no mesmo período, 10 milhões de novos empregos.”

De acordo com ele, o sistema financeiro e setores privados passaram a se sentir incomodados pelo governo dos trabalhadores: “Na crise de 2008, quando liberamos R$ 100 bilhões de reais do compulsório para alavancar o financiamento nesse país, os bancos privados ao invés de pegar o dinheiro e colocar no comércio para fazer crédito, compraram títulos do governo. Então fomos obrigados a comprar 50% do Banco Votorantim, fomos obrigados a comprar a Nossa Caixa, fomos obrigados a comprar bancos nos estados de Santa Catarina e Espírito Santo para que a gente tivesse um sistema financeiro público sólido, para não deixar o país quebrar, como alguns queriam que quebrasse”, afirmou.

“A nossa inflação está controlada há onze anos. Alguns economistas defendem que para controlar a inflação tem que ter um ‘pouquinho’ de desemprego. É isso que os tucanos querem: um ‘pouquinho’ de desemprego. Mas nós não queremos! Porque eles não sabem o que é ficar desempregado. Não é fácil, é um milagre você manter a inflação dentro da meta, mantendo, no ano passado, um desemprego de 4,3%”, afirmou.

Copa – O otimismo e a disposição para continuar a acreditar fez também parte do discurso sobre a Copa. Lula destacou que sua preocupação quando o Brasil se propôs a sediar grandes eventos, como a Copa e as Olimpíadas, não foi financeira – de quanto o país ganharia ao sediar os campeonatos – mas relacionada ao orgulho do brasileiro.

“A Copa é uma oportunidade extraordinária desse país mostrar ao mundo o que ele é, mostrar a beleza desse povo que é resultado de uma mistura de negros, índios e europeus, que deu nesse povo alegre, respeitoso, que passa tanta desgraça e que nem deveria rir, mas ri. Nós somos fantásticos.”

Lula destacou que o Brasil deve mostrar sua cara e “esconder pobre está fora de qualquer cogitação”. Nesse sentido, também disse não haver motivo para ter medo das ruas, recusando lei que venha tratar, por exemplo, de manifestantes que estejam mascarados.

“Do que eu tenho medo? Tenho medo é de acontecer o que aconteceu com o Uruguai em 1950”, brincou, lembrando a primeira Copa sediada no Brasil, em que a seleção perdeu a final para os vizinhos da América do Sul.

O IV Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais continua neste sábado e domingo, no Hotel Braston, na Rua Martins Fontes, centro de São Paulo.


Mariana Castro Alves – 16/5/2014

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