Pular para o conteúdo principal

Copa mostra ao mundo que brasileiro tem "pedigree"

Linha fina
Torcida, jogadores brasileiros e estrangeiros exaltam clima de festa e confraternização na primeira rodada do mundial. Em campo, show de bola
Imagem Destaque

São Paulo – Copa do Mundo já é uma grande festa em qualquer lugar e, quando foi confirmada para o “país do futebol”, a expectativa não poderia ser outra: seria a melhor de todas, a Copa das Copas. Passados os primeiros dias, o evento caminha para isso. Houve até quem deixasse se levar pela famosa complexo exposta por Nelson Rodrigues, de “vira-latas”, mas nem bem os primeiros minutos da competição se desenrolaram e o mundo viu o que a imensa maioria dos brasileiros sempre soube. Temos pedigree na bola e na convivência.

Jogadores, ex-jogadores, jornalistas e torcedores se renderam. Tanto que, de acordo com a plataforma Apita Brasil, que reúne e interpreta a opinião do brasileiro sobre o evento a partir de redes sociais, antes do início da competição, 86% dos posts eram negativos e, pouco depois passaram a ser 65% positivos.

Logo que chegou ao Rio nos primeiros dias de junho, Alexi Lalas, carismático ex-zagueiro dos EUA, disparou em sua conta no Twitter: “aeroporto do Rio foi mais rápido e fácil que qualquer um nos EUA. Aterrissamos, passamos pela alfândega, e pegamos nossas malas em 32 minutos”. Depois, completou: “A Copa do Mundo me deixa excitado. A Copa do Mundo no Brasil me deixa ainda mais excitado”.

O craque alemão Schweinsteiger, uma das estrelas do mundial, concorda. Depois de cantar o hino do Bahia com torcedores, em Salvador, afirmou: “Fiquei surpreso em saber que o Brasil tem 200 milhões de habitantes e que há um grande percentual de pessoas com raízes africanas. O resultado é um mix perfeito. Diria que os brasileiros são um exemplo, com sua alegria, positividade e amor pela vida. E, pelo que ouvi, a economia brasileira também está se fortalecendo já faz algum tempo – uma combinação excelente”.  E não foi só isso: “Estamos todos dominados pela ‘febre brasileira’. Sinto-me completamente em casa. Pelo que eu vivi até agora, posso dizer que é um grande país, como um povo maravilhoso. Quando parar de jogar, certamente voltarei como turista para aprender mais”.

O craque italiano Balotelli, o Super Mario, publicou no Instagram uma foto da viagem de volta de Manaus, onde se via a capital do Amazonas. O comentário: “parece o paraíso”.

O atacante Didier Drogba, maior jogador da história da Costa do Marfim, contou de onde tirou forças para comandar a virada por 2 a 1 para cima do Japão. “É fantástico sentir esse amor, essa paixão. Sinto como se estivesse no meu país, na minha casa, na minha Costa do Marfim”.

Outro impressionado é o jornalista Jason Davis, da ESPN britânica. Em seu perfil pessoal do Twitter, soltou: “Se a Copa do Mundo no Brasil for assim, que todas as Copas do Mundo sejam no Brasil”. Já o Yahoo News postou: “Brasil 2014 já está a caminho de ser melhor Copa de todos os tempos”.

Futebol – Se o clima fora dos estádios foi especial na primeira rodada. Dentro deles, emoção à flor da pele.

Uma primeira olhada dá a impressão de que a Copa do Brasil é, na verdade, de todos os latino-americanos. Talvez alimentados por décadas de distância das sedes de mundiais anteriores, colombianos, chilenos, equatorianos, mexicanos, uruguaios, costarriquenos, mexicanos e argentinos aproveitaram a oportunidade e vieram em peso. Tanto em quantidade quanto em empolgação.

No jogo contra a Grécia, os colombianos pintaram o Mineirão de amarelo, cantaram o hino à capela e fizeram os jogadores se sentirem em Bogotá. Placar final: 3 a 0 com autoridade.

Os chilenos, na noite anterior, já haviam dado mostra de que se sentem em casa e entoaram o hino a plenos pulmões mesmo após a versão da Fifa ser cortada. Também cantaram alto o famoso “Chi-chi-chi-le-le-le, Viva Chile” e fizeram da Arena Pantanal, em Cuiabá, um pedaço de Santiago. “Em casa”, Valdivia e sua turma responderam com 3 a 1 no placar.

Bonito também fizeram os mexicanos. Na Arena das Dunas, em Natal, mesmo debaixo de uma chuva torrencial, comemoraram três gols apesar de apenas um valer, mas ser suficiente para bater Camarões. Milhares deles vieram, até de transatlântico, e não deixaram de soltar o famoso grito uníssono de pressão toda a vez que o goleiro rival bate um tiro de meta. Parecia o estádio Azteca.

No confronto latino da primeira rodada, uruguaios e costarriquenhos disputaram uma das partidas mais eletrizantes da primeira rodada. Os celestes, em maior número, gritavam alto, confiantes na vitória, mais ainda após fazerem 1 a 0. Porém, a brava Costa Rica virou o jogo empurrada pela barulhenta torcida vermelha, reforçada pelos brasileiros.

E como descrever o Maracanã azul (foto ao lado), “gritando” que o Maradona é melhor que o Pelé e vibrando em alto e bom som com as diabruras de Messi? Ou será ainda mais singular o “tamanho” da torcida da Bósnia, reforçada pelos brasileiros, fora de seu país? Aliás, será que os bósnios já haviam sentido tanto frisson a seu favor em um estádio?

O Equador também se sentiu em casa contra os suíços e fez 1 a 0. Tomou o empate e, em uma traquinagem típica do futebol, levou a virada no último minuto. Foi a primeira festa europeia em cima dos latino-americanos neste mundial. Serviu, também, para lembrar que os europeus estão aqui e merecem respeito.

Lembrar porque a Holanda já havia um dia antes mostrado sua força ao atropelar os atuais campeões, a Espanha, em um sonoro 5 a 1. Ainda mais bonita foi a torcida holandesa. Fizeram das vielas de Salvador, local da partida, um grande mar de festa, cantoria e confraternização com brasileiros. Viraram os Filhos de Ghandi de laranja.

Ingleses e italianos também mostraram a força europeia no clássico vencido pelos latinos, 2 a 1, em um confronto único no meio da floresta amazônica. Que país do mundo pode colocar um palco tão especial para receber cinco títulos mundiais? Isoladas chorumelas inglesas à parte, a torcida abraçou Manaus e comemorou em frente ao Teatro Amazonas e no estádio.

“Nós estamos aqui em Manaus para apoiar a Inglaterra, mas sempre foi ambição de uma vida inteira vir para o Brasil e, em especial, à Amazônia”, contou Neal Sandry, para o G1. Teve até inglês batendo bola em saguão de aeroporto.

Os japoneses? Perderam em campo, mas voltaram a ensinar a agir com educação independente da satisfação com a realidade vigente e recolheram todo o lixo que produziram na Arena Pernambuco. Coisa de quem não se sente nem mais nem menos do que os estrangeiros, mostrando tanto pedigree quanto os três casos distintos de brasileiros que acharam valiosos ingressos perdidos – 40 em um só caso – por turistas e fizeram o que puderam para devolver.

De negativo, por enquanto, um "rosnado" de ódio feito por quem parece não se sentir brasileiro, prontamente rechaçado por todos os cantos do país, e a abertura. Aquela, do padrão Fifa.


Redação - 16/6/2014

seja socio