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Chapéu
Bancos públicos

O que deve ser discutido não é o apoio às grandes empresas, mas como isso deve ser feito

Linha fina
Economista do BNDES contesta declaração do presidente em exercício, Rodrigo Maia, de que banco de desenvolvimento privilegia poucos em detrimento de muitos e afirma que responsáveis pelo investimento em capital bruto nas contas nacionais são grandes empresas e não somente pequenas e médias
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Foto: Divulgação

São Paulo – O presidente da República em exercício, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aproveitou o discurso em um seminário sobre segurança pública para fazer crÍticas que ajudam a reforçar o desmonte do governo Temer ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O Brasil vem há muitos anos privilegiando poucos em detrimento da maioria da população brasileira”, disse. “Digo também no sistema financeiro, o BNDES beneficia poucos em detrimento de muitos, muitos pequenos e médios empresários que poderiam gerar milhões de empregos”, completou.

“Um dos grandes mitos que se criou é que o BNDES só apoia grandes empresas ligadas aos campeões nacionais. É uma distorção completa e muito grave da realidade”, contesta o economista do BNDES e vice-presidente da associação dos funcionários do banco público, Arthur Koblitz.

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Para rebater essa afirmação, Koblitz ressalta que o número de empresas operando com recursos do BNDES saltou de 44 mil em 2007 para mais de 277 mil em 2014, sendo praticamente todo esse crescimento em micro, pequena e média empresas (MPMEs).

O relatório de efetividade do BNDES demonstra crescimento de 40% em micro e pequenas empresas entre 2010 e 2014. Em termos de desembolso, a valores atualizados, os desembolsos para MPMEs, saltaram de cerca de R$ 28 bilhões em 2007 para cerca de R$ 80 bilhões em 2013, recuando um pouco para cerca de R$ 70 bilhões em 2014.

Ainda de acordo com o relatório, as grandes empresas atingiram um pico de 76% do orçamento do banco no quadriênio 2005-2008. No período 2011-2016 essa participação caiu para 63%.

“Os responsáveis pelo investimento em capital bruto nas contas nacionais são as grandes empresas e não as pequenas e médias”, afirma Koblitz. “Se cobra que o BNDES tenha mais impacto no investimento nacional, mas não querem que o banco invista em grandes empresas. Isso é contraditório. O que deve ser discutido não é apoiar ou não as grandes empresas, mas as formas de se apoiar: se devem ser exigidas contrapartidas mais rígidas para financiar essas grandes empresas”, opina.

E essas contrapartidas já são exigidas, ressalta Koblitz. Como exemplo, ele citou a Embraer, para a qual o BNDES condicionou empréstimo ao desenvolvimento de uma cadeia produtiva de peças e equipamentos instalada no Brasil para a produções dos aviões; e a JBS, que teve de apresentar progresso em questões sanitárias. Segundo o economista, nos anos 1990 metade do abate no país era feito de forma informal. Esse índice foi reduzido para 10% atualmente.

Na terça 20, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, anunciou, em conjunto com o presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, que as instituições trabalham para desenvolver uma nova linha para pequenas e médias empresas. Entretanto, os gestores não deram mais detalhes.

Desmonte – No final de 2016, Michel Temer determinou remanejamento de R$ 100 bilhões do BNDES ao Tesouro Nacional. Além disso, promulgou a Medida Provisória 777, que estabelece o fim da taxa subsidiada de juros concedida pelo BNDES (TJLP), e cria a Taxa de Longo Prazo (TLP), que será definida pela inflação medida pelo IPCA e por uma taxa de juros prefixada. Na prática, a TLP será estabelecida pelo mercado e encarecerá o financiamento.

A TJLP é o parâmetro do custo dos financiamentos concedidos pelo BNDES desde 1994. A TLP será calculada de acordo com metodologia definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e passa a vigorar a partir de 2018.

“Acabar com a TJLP e anunciar medidas de financiamento para as pequenas e médias empresas é contraditório, porque se aumentar o custo do financiamento, vai aumentar o custo na ponta, e as pequenas e médias empresas vão sofrer com isso”, critica Koblitz. “Apoiar pequena e média empresa, da forma como isso vai ser feito, é jogo de cena. Não é só vontade politica que garante isso. Se não tiver nenhuma proposta nova, não trará resultado.” 

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