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São Paulo terá política de segurança alimentar

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Objetivo da medida a ser implantada pela prefeitura é fortalecer a agricultura familiar e permitir que a população tenha acesso a alimentos de qualidade por preços baixos
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São Paulo – A prefeitura de São Paulo vai implantar na cidade, nos próximos meses, uma política municipal de segurança alimentar, que terá objetivo de fortalecer a produção de alimentos de qualidade nas áreas rurais e possibilitar que cheguem a preços baixos para os consumidores.

A política prevê, ainda, a criação de interpostos de venda, aulas sobre alimentação saudável nas escolas, implantação de centros de referência em saúde alimentar e criação de bancos de alimentos. Atualmente, existe apenas um na cidade, localizado na Vila Maria, na zona norte. No ano passado, foram entregues 700 toneladas de alimentos para 270 instituições que atendem 44.987 famílias em vulnerabilidade social. A ideia é que, até o final de 2014, o banco passe a funcionar também como o primeiro centro de referência em saúde alimentar municipal.

O pontapé inicial da política de segurança alimentar já foi dado, no dia 26 de junho: o prefeito Fernando Haddad transferiu o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (Comusan-SP) da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras para a Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, que ficará responsável pela iniciativa.

“É um conjunto de medidas que vai fortalecer nossa segurança alimentar e, ao mesmo tempo, o empreendedorismo, o cooperativismo, a economia solidária, os pequenos produtores de alimentos orgânicos, os feirantes e as próprias feiras livres. Serão espaços de socialização e as pessoas poderão comprar alimentos de qualidade”, afirma o titular da pasta, Arthur Henrique.

O Conselho, hoje, conta com a participação de representantes do governo municipal e de produtores da agricultura familiar de São Paulo. A ideia, agora, é que ele tenha mais representantes da sociedade civil e de sindicatos da agricultura, incluindo cidades do entorno. “Queremos dar outro caráter ao conselho e fortalecê-lo para criar na cidade uma política de segurança alimentar, que envolve a agricultura familiar e a criação de um sistema de logística que possa distribuir produtos de forma mais rápida e barata”, diz Henrique.

Para facilitar a circulação de alimentos, a política prevê a criação de interpostos de venda de produtos. Assim, os produtores rurais paulistanos, que, na maioria, ficam nos extremos das zonas sul e leste da cidade, não precisarão mais transportar toda a produção até regiões centrais e conseguirão vender mais próximos do local de produção, para a população do entorno.

“Isso diminui o preço porque você faz uma venda direta do produtor com o consumidor, sem passar pelo intermediário”, comenta o secretário. “Estamos falando de garantir que os alimentos de melhor qualidade não sejam comprados apenas em supermercados, como acontece hoje. Os agricultores familiares poderão dar outra alternativa para a população comprar comida de boa qualidade, mais barata e direto do produtor”, garante Arthur Henrique.

A secretaria realiza o cadastramento dos agricultores familiares de São Paulo. Apesar de a cidade ser caracterizada como um local predominantemente urbano, pelo menos 400 pessoas trabalham com agricultura familiar, a maioria no distrito de Parelheiros, na zona sul, onde funciona a Cooperativa de Agricultura Orgânica de Parelheiros (Cooperapas).

O novo Plano Diretor da Cidade, aprovado no último dia 30, voltou a reconhecer as áreas rurais de São Paulo, que não haviam sido contempladas no plano anterior, de 2002. Isso impedia que os produtores rurais obtivessem certificação e pudessem participar de programas federais de segurança alimentar. O novo documento assegura a necessidade de “promover o desenvolvimento sustentável da zona rural com o apoio à agricultura familiar, em especial orgânica e ao turismo sustentável, de base comunitária.”

Um dos cooperados é Ernesto Oyama, que tem uma propriedade de um hectare e meio em Parelheiros, em que cultiva, com a ajuda do pai e da mãe, de 83 e 73 anos, respectivamente. A área é dividia entre as plantações de orgânicos, como couve, brócolis, cebola, mostarda, alface e rúcula, e do cultivo de agro-floresta, uma técnica que permite apenas a extração de frutos em áreas com vegetação nativa preservada.

O principal ponto de comercialização de Oyama é na Feira de Produtos Orgânicos do Ibirapuera, que ocorre todos os sábados, no Melódromo do Parque do Ibirapuera, na zona sul. “Já tentamos vender na feira em Parelheiros, mas as pessoas por aqui não conhecem ainda a proposta dos produtos orgânicos e como eles são cerca de 30% mais caros que os convencionais acabavam não tendo muita saída”, conta Oyama. “Além de eles serem de melhor qualidade, conseguimos manter o mesmo preço o ano todo. Cobro, em um pé de alface, R$ 2, em qualquer mês.”

A cada sábado, Oyama tem um ganho médio de R$ 1.500 com a venda de orgânicos no Ibirapuera. A feira deixará de funcionar no Melódromo a partir da segunda quinzena de agosto e ainda não está definido um novo local, segundo a Secretaria de Trabalho. A possibilidade é que ela seja transferida para o Parque das Bicicletas, em Moema, também na zona sul. Segundo o órgão, não existe a possibilidade de a feira deixar de funcionar.

A família de Oyama vive da agricultura familiar em São Paulo há gerações, contabilizando mais de 100 anos de dedicação ao cultivo de alimentos em Parelheiros. A produção de orgânicos, no entanto, é uma novidade, iniciada em 2007, quando ele regressou do Japão, onde viveu por dez anos. A partir daí, iniciou uma série de estudos e cursos para garantir uma produção de qualidade completamente livre de agrotóxicos e insumos químicos.

“Nós sempre deixamos o mato próximo das verduras e legumes que plantamos. Não tiramos porque mantém a umidade do solo”, explica. “Também usamos a técnica chamada de consórcio, na qual plantamos próximas dois tipos diferentes de hortaliças, que se ajudam na troca de nutrientes.”

A técnica usada para o cultivo de orgânicos é chamada de biodinâmica, que prevê a interação dos alimentos plantados com animais, como explica Oyama. Como se trata de uma área de mananciais, não é possível criar animais domésticos, a exemplo de vacas, cavalos e galinhas, que podem poluir as nascentes com dejetos. A interação fica com animais silvestres, que visitam a propriedade rural na maior cidade do país: bugios, lebres, cervos e pacas.

“Se temos uma lagarta atacando uma cultura, nós tentamos recolher uma que já tenha morrido, separar o fungo que a matou e espalhá-lo nos demais pés, para que as outras também morram. Não usamos nenhum tipo de química nesse processo. Por isso, os alimentos orgânicos são mais saudáveis. Se mais pessoas tiverem acesso a eles, será bom para todos”, conclui.


Sarah Fernandes, da Rede Brasil Atual - 15/7/2014

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