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Chapéu
Absurdo

Desmonte dos bancos públicos abre mercado para privados

Linha fina
Em maio, saldo de crédito do setor privado ultrapassou instituições financeiras públicas pela primeira vez desde maio de 2013, o que ocorreu mais pela retração do setor público do que pelo crescimento do sistema privado
Imagem Destaque
Charge: Márcio Baraldi

Como o Sindicato constantemente denuncia, o desmonte de bancos públicos como BNDES, Caixa e BB pelo governo federal tem apenas um grande beneficiário: o setor financeiro privado. No mês de maio o saldo de crédito do setor privado ultrapassou o saldo das instituições públicas, algo que não ocorria desde maio de 2013. A inversão se deu principalmente pela retração do saldo no setor público, e não pelo crescimento no setor privado.

Um exemplo dessa retração no setor público são os dados referentes ao BNDES, onde ocorreu a maior queda no saldo de crédito entre as instituições públicas. Em maio de 2019, a carteira de crédito do BNDES caiu a uma taxa real acumulada de 11,4%, em doze meses. Já as instituições financeiras públicas retraíram 3% nas suas carteiras, enquanto o setor privado ampliou sua oferta de crédito em 8,2%.

As sucessivas quedas no saldo da carteira de crédito do BNDES impactaram sua proporção no saldo total da carteira do crédito público. Em janeiro de 2008 a carteira do BNDES correspondia a 48,6% do total do saldo da carteira de controle público, enquanto que em maio de 2019 essa proporção caiu para apenas 29%, uma queda real de 60% do montante da carteira.

“Este movimento de desmonte dos bancos públicos é uma estratégia coordenada pelo governo Bolsonaro, extremamente neoliberal e privatista, que se iniciou ainda no governo Temer, que ascendeu ao poder após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Os bancos públicos cada vez mais se distanciam da sua função social e do seu papel estratégico para a retomada econômica. Aumentam suas tarifas e enxugam o quadro de funcionários, o que sobrecarrega ainda mais os empregados e abre mercado para o sistema financeiro privado”, critica o diretor do Sindicato e coordenador da CEE/Caixa, Dionísio Reis.

Crescimento e queda livre do crédito público

Os bancos públicos foram fundamentais na política anticíclica que o governo Lula adotou durante a crise financeira de 2008 e no período de crescimento econômico pós 2010. Por meio dessa política, os bancos públicos - principais intermediários na concessão dos recursos direcionados - adotaram postura mais agressiva do que os bancos privados na concessão de crédito. A adoção dessa política foi fundamental para que o país não sentisse os efeitos da crise e retomasse rapidamente o crescimento econômico.

Entre janeiro de 2008 e dezembro de 2015 houve crescimento de 165% no saldo da carteira do BNDES, em termos reais, 315,7% no saldo de controle público (exceto BNDES), e de apenas 37,8% na carteira do setor privado.

Porém, a partir de 2016 houve a reversão da tendência de crescimento, sobretudo nos bancos de controle público, onde todos os saldos passaram a cair, mas no caso do BNDES a queda foi ainda mais significativa do que nos demais. De janeiro de 2016 a maio de 2019, as quedas nos saldos das carteiras foram de 38,9% no BNDES, 10% nos bancos públicos (exceto o BNDES) e o setor privado apresentou um pequeno crescimento de 2,7%.

Em três anos, a carteira dos bancos públicos teve uma queda de 6,6 p.p. Em janeiro de 2016 representava 30,2% do PIB e em maio deste ano é de 23,6%.

“O desmonte dos bancos públicos faz parte de um grande desmonte do Estado brasileiro promovido por um governo entreguista”, destaca Dionísio.  

Caixa

O balanço da Caixa no primeiro trimestre também exemplifica a retração dos bancos públicos em relação à oferta de crédito.  A carteira de crédito ampliada da Caixa apresentou queda de 2% em doze meses, e de 1,2% em relação ao quarto trimestre de 2018. A Carteira Comercial Pessoa Física (PF) teve queda de 10,7% em doze meses, atingindo, aproximadamente, R$ 81,1 bilhões. A Carteira Comercial Pessoa Jurídica (PJ) foi o segmento que apresentou a maior queda (-28,2%).

“Defender os bancos públicos e a importante função social desempenhada por eles é uma importante missão para nós, empregados da Caixa, e para a sociedade em geral. O desmonte dessas instituições prejudica a todos. É um ataque contra o patrimônio público brasileiro. E lutar em defesa dessas instituições é também lutar pelos nossos empregos e direitos. Só a luta nos garante”, conclui Dionísio.

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