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Lula pede 'nova esquerda' e integração regional

Linha fina
Ex-presidente sugere contraponto ao chamado Consenso de Washington: 'Um novo consenso das esquerdas'. E ironiza espionagem norte-americana: 'Tengo que hablar bajito'
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São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na noite de sexta 2, na abertura do Foro de São Paulo, que, em um período de enfraquecimento da esquerda mundial, a América Latina poderá ser o "novo farol da esquerda que precisamos criar no mundo". Ele manifestou preocupação com a necessidade de fortalecer a integração no continente. "Se o Brasil não assumir a responsabilidade, tudo será mais difícil. Temos de ser uma espécie de animadores desse processo", afirmou.

Ele destacou as várias conversas e reuniões que teve nesse sentido com o ex-presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que morreu em março. "Chávez vai fazer muita falta. É muito triste o Chávez não estar aqui. Ele era uma figura diferenciada. Espero que o (Nicolás) Maduro cumpra exatamente o papel que o Chávez vinha fazendo. Estamos vendo que os Estados Unidos não brincam em serviço", afirmou Lula, identificando um "interesse geopolítico" de enfraquecer as políticas de integração na região. "Eles não toleram que alguém que não seja do Conselho de Segurança da ONU seja ator global." No início de seu discurso, em "portunhol", Lula brincou com as denúncias de espionagem feita pelos órgãos de inteligência dos Estados Unidos. "Tengo que hablar bajito, porque o Departamento de Estado americano está gravando ou filmando."

Para Lula, o Foro de São Paulo "é a melhor coisa que já criamos neste continente" e foi parte importante da chegada da esquerda ao poder na América Latina. "Em 1990, a esquerda latino-americana não acreditava que fosse possível chegar ao poder pela via da disputa democrática e sobretudo pela via eleitoral. E a história se encarregou de provar que a democracia exercida a partir da participação das massas pode ser o melhor caminho para que a esquerda chegue ao poder em qualquer país do mundo."

Em contraponto ao chamado Consenso de Washington, ideário neoliberal que dominou parte do pensamento político no continente a partir dos anos 1990, Lula disse que pode ser pensado um "novo consenso das esquerdas". "Nós poderemos criar um novo jeito de governar."

Para o ex-presidente, houve evolução, "mas do ponto de vista da integração precisamos avançar 50 ou 100 vezes mais".  Para isso, os dirigentes precisam trocar mais informações e o governos têm de dividir seu tempo, explicou. "Política externa a gente não faz por telefone", afirmou. Também cobrou renovação da política, lembrando que as manifestações de junho no país surpreenderam a todos – partidos de esquerda e de direita, movimento sindical, movimento social. "Nós fomos ficando velhos e perguntando: cadê a juventude em nossos partidos? Ainda agimos da forma antiga para fazer política."

Lula também destacou a importância da comunicação, afirmando que é preciso buscar novas formas de transmitir notícias e ideias. "Não podemos continuar chorando o problema da mídia conservadora. E não podemos continuar reclamando que nossos adversários usem a mídia contra nós. Com a internet, temos pela primeira vez a chance de criar instrumentos de comunicação entre nós e não ficar devendo favor a ninguém no mundo. Precisamos parar de reclamar e fazer o que está ao nosso alcance para que a gente possa ter a nossa própria mídia, nossa própria informação."

Nacionalismo - O 19º Encontro do Foro de São Paulo foi aberto na quadra do Sindicato dos Bancários de São Paulo, na região central da capital paulista, com uma saudação em vídeo da presidenta Dilma Rousseff, que destacou a presença de “novos governos democráticos e populares”, segundo ela “firmes na defesa da soberania nacional”, mas sem se refugiar “em um nacionalismo estreito”.

Em seguida, a presidenta citou medidas de integração continental, como o Mercosul, a Unasul e a Celac. E disse reafirmar sua disposição, dela e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de “associar o futuro do Brasil ao futuro da América do Sul, de toda a América Latina e do Caribe”.

Dilma também fez menção às recentes manifestações, interpretadas por ela como demandas de jovens por melhorias de políticas públicas. "Meu governo e meu partido entenderam rapidamente o recado das ruas. Saudamos essas manifestações, convidamos os movimentos ao diálogo." E acrescentou que esses movimentos não pediram a "volta ao passado", mas avanços.

Na mesa de abertura estavam representantes da Bolívia, Cuba, El Salvador, Equador, México e Venezuela. Pelos partidos brasileiros, participaram os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PCdoB, Renato Rabelo, além do primeiro vice-presidente do PSB, Roberto Amaral.

A primeira a falar foi a presidente da Assembleia Nacional do Equador, Gabriela Rivadeneira, que manifestou "repúdio absoluto" à espionagem do governo norte-americano a países e cidadãos. "Não somos mais quintais de nenhum império", afirmou.

Também discursou o vice-presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, candidato à presidência nas eleições que se disputarão em fevereiro de 2014. Ele afirmou apoiar o processo de pacificação em curso na Colômbia e defendeu o entendimento entre Argentina e Reino Unido e o fim do bloqueio econômico a Cuba.

O pronunciamento seguinte foi justamente de Olga Lidia Tapia, do Partido Comunista de Cuba, que citou os golpes recentes no Paraguai e em Honduras. "O aprofundamento da crise global teve consequências sociais, com aumento das desigualdades", acrescentou.

Segundo a organização do encontro, estão inscritas 1.118 pessoas – entre delegados, observadores e convidados –, sendo 805 do Brasil e 238 dos demais países das Américas, além de representantes da África, Ásia e Europa. O encerramento será no domingo 4, com presença do presidente da Bolívia, Evo Morales.


Rede Brasil Atual - 5/8/2013

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