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Bradesco quer te barrar. Não pode!

Linha fina
Sindicato denuncia em diversos atos Projeto Atendimento que expõe bancários ao barrar pessoas na porta das agências; pressão agora é nas mesas de negociação
Imagem Destaque
São Paulo – Imagine tentar pagar uma conta ou então fazer um depósito direto no caixa de uma agência bancária. Básico. Só que no momento que você chega à agência, é barrado antes mesmo de entrar e orientado a usar o caixa eletrônico ou então a ir até a lotérica mais próxima. Se você alguma vez passou por esta situação, é muito provável que tenha tentado utilizar os serviços do Bradesco. Sob o nome de Projeto Atendimento, bancários são obrigados a ficar nas portas das agências para barrar clientes “desinteressantes”.

“O projeto é absurdo. Desrespeita clientes, usuários e os próprios bancários obrigados a barrar as pessoas”, diz Erica de Oliveira, diretora do Sindicato e funcionária do Bradesco. “Os clientes são desrespeitados, porém quem mais sofre são os trabalhadores, que precisam obedecer às ordens da chefia e se tornam alvo da ira dos usuários”, acrescenta o dirigente sindical Alexandre Bertazzo.

Protestos – Diante da postura do banco, o Sindicato realizou uma série de atos em agências da Grande São Paulo para denunciar de forma lúdica essa situação absurda. Em uma encenação teatral bem humorada, dirigentes sindicais alertaram a população sobre seus direitos e pediram solidariedade com os bancários responsáveis pela “triagem”. O último protesto foi realizado na quarta-feira 5, em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo.

> Fotos: galeria do ato em São Miguel Paulista
> Vídeo: matéria sobre o ato em São Miguel
> Fotos: galeria com imagens de mais atos

Em todos os sete atos, a aceitação da população foi muito boa. Além de se divertirem com o teatro, clientes e usuários relataram experiências desagradáveis que tiveram ao tentar utilizar os caixas do Bradesco.

“O banco diminuiu os caixas lá dentro [das agências]. Só querem saber de vender os produtos deles. Tinha que aumentar o número de funcionários para o atendimento e não deixar os clientes à mercê de assaltos nos caixas eletrônicos”, cobrou Elizete Semogine, que é correntista do banco há mais de 15 anos, durante ato realizado no centro de São Paulo.

Já a dona de casa Cleusa Maria de Jesus, cliente do Bradesco há mais de 30 anos, queixou-se durante o ato em São Miguel Paulista que não consegue pagar nem mesmo uma conta do banco. “Fui barrada no caixa quando fui pagar uma conta do próprio Bradesco. Me mandaram ir na Casas Bahia ou no caixa eletrônico. Não aceitam conta nenhuma, nem de água e luz”, disse.

A dirigente sindicato e funcionária do Bradesco Anatiana Alves, lembra que a prática de barrar usuários é irregular. “O Bradesco está selecionando clientes de acordo com o perfil de renda, um critério de exclusão social que empurra usuários para lotéricas e correspondentes bancários. Evita também convênios para pagamento de contas de consumo como luz, água e gás. Ao fazer isso, o banco ignora seu papel de concessão pública e descumpre obrigações legais.”

Erica Oliveira lembra que outros sindicatos estão realizando atos contra o Projeto Atendimento nas suas bases e que seu fim é uma das reivindicações da Campanha de Valorização dos Funcionários do Bradesco.

“O fim do projeto atendimento, discriminatório e que submete bancários ao estresse de ter que lidar com a justa indignação dos usuários, é um dos pontos presentes no eixo `melhores condições de trabalho´. O Sindicato cumpriu o seu papel ao denunciar essa irregularidade e continuará pressionando pelo fim desse absurdo nas mesas de negociação”, diz Erica.

Lucro com demissões e atendimento ruim – O Bradesco – segundo maior banco privado do Brasil, que acaba de comprar a operação brasileira do HSBC por R$ 17,6 bilhões – mesmo arrecadando R$ 5,7 bilhões em tarifas no primeiro trimestre de 2015, aumentou taxas e demitiu bancários.

“Nos três primeiros meses de 2014, o banco tinha 4.569 postos de trabalho mais que no mesmo período deste ano. Quem paga a conta é o cliente barrado e o trabalhador sobrecarregado”, diz o dirigente sindical Marcos Amaral. “Se alguém for impedido de entrar na agência deve denunciar imediatamente ao Procon pelo 151, Banco Central pelo 145 ou o Idec pelo 3874-2150”, orienta.

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Felipe Rousselet - 5/8/2015
 
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