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São Paulo – No momento em que o Brasil, principal força econômica regional, assume a postura de negar legitimidade à Venezuela para assumir a presidência do Mercosul, a interpretação possível é que o governo interino brasileiro aposta na instabilidade da América do Sul. “Só podemos pensar que, em vez de contribuir para a estabilidade, a atual política contribui justamente para a instabilidade da região”, diz a professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Analúcia Danilevicz Pereira.
“A ideia é retomar as posições dos países mais alinhados aos Estados Unidos, ideia dos anos 1990, ultraliberal. É a ideia de um bloco dos pobres que vão receber a ajuda dos ricos. Essa visão é extremamente atrasada e míope em relação às mudanças internacionais dos últimos anos”, acrescenta. “É um retorno ao que foi o ultraliberalismo dos anos 90.”
Depois do silêncio em que se manteve nas últimas semanas, sobre o impasse na transferência da presidência do Mercosul, do Uruguai para a Venezuela, o ministro interino das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, se manifestou na segunda-feira 1°, após Caracas comunicar que estava assumindo o comando do bloco. Serra informou que o país considera “vaga a presidência pro tempore do Mercosul”, o que consolida a postura de boicote de Brasil e Paraguai, principalmente, e da Argentina de Mauricio Macri, mais discretamente. O boicote vale tanto em relação ao governo de Nicolás Maduro quanto ao bloco regional.
Para Analúcia, é “curiosa” a postura do atual chanceler, de abandonar a política externa dos governos petistas, que priorizava o multilateralismo e “se definia pelo pragmatismo”, segundo ela. Outra característica desenvolvida pelo Itamaraty no período anterior, em sua opinião, era desenvolvida “no sentido de garantir a cooperação em detrimento do conflito”.
Com essa política de cooperação e procura de superação de conflitos nos últimos 13 anos, o Brasil desempenhou papel fundamental, por exemplo, no acordo entre Irã e Turquia sobre combustível nuclear, em 2010.
A situação de crise interna pela qual passa a Venezuela é um cenário que se adequaria à política de cooperação, o inverso da prática de Serra. “A Venezuela precisaria justamente de um apoio mais substantivo dos demais países para superar essa crise”, diz a professora. “Com Lula e Dilma, o Brasil foi acusado de ideologizar a política externa. É curioso isso. Agora vem um ministro que age com uma conduta extremamente ideológica, condenando, reprimindo, criticando e tentando excluir o país do conjunto regional, dos processos integrativos, principalmente o Mercosul.”
Em entrevista, na terça 2, à TVT, o jornalista Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), manifesta opinião semelhante sobre a guinada e a contradição do Itamaraty sob o comando do chanceler interino. “Os mesmos que pouco tempo atrás diziam que a política externa (do governo Dilma) era ideológica, que não era regida por interesses de Estado, hoje jogam no lixo o interesse de Estado do Brasil, em função de uma questão partidária.” Para ele, a postura do governo interino brasileiro tem também o objetivo de “ajudar os partidos venezuelanos que são iguais” aos que participam do golpe parlamentar no Brasil.
> Vídeo: confira reportagem da TVT
Fuser diz que, por trás da posição brasileira, existe a “tentativa de interferir na política interna da Venezuela: eles querem prejudicar um governo de esquerda, criar uma situação vexatória para favorecer a direita dentro da Venezuela”.
Regra é clara - Paraguai e Brasil argumentam que a Venezuela não incorporou cláusulas e protocolos econômicos e relativos aos direitos humanos e, portanto, não é membro pleno do bloco. Para Igor Fuser, tal posição é um “pretexto”. “A regra é muito clara: o mandato de cada país dura seis meses e ao final desses seis meses entra o próximo país na ordem alfabética. A mudança é automática. Não depende de uma decisão dos países membros. A regra é cumprida há 25 anos.”
Diante do impasse que se manteve durante todo o mês de julho, o Uruguai declarou encerrada sua gestão na sexta-feira 29 e, imediatamente, a Venezuela anunciou que assumia a presidência do bloco.
Em artigo na revista Carta Capital, o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, afirma que “o Mercosul passa pela maior crise desde a sua criação, em 1991”.
Nele, Amorim diz que “privar a Venezuela da presidência do Mercosul em nada contribuiria para melhorar a situação no país vizinho”. Segundo ele, “a psicologia do ‘cerco’ nunca produziu bons resultados”. “A menos que o objetivo seja outro: o de contribuir para uma desestabilização maior da Venezuela, sem atentar para as terríveis consequências que isso acarretaria.”
Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 4/8/2016
“A ideia é retomar as posições dos países mais alinhados aos Estados Unidos, ideia dos anos 1990, ultraliberal. É a ideia de um bloco dos pobres que vão receber a ajuda dos ricos. Essa visão é extremamente atrasada e míope em relação às mudanças internacionais dos últimos anos”, acrescenta. “É um retorno ao que foi o ultraliberalismo dos anos 90.”
Depois do silêncio em que se manteve nas últimas semanas, sobre o impasse na transferência da presidência do Mercosul, do Uruguai para a Venezuela, o ministro interino das Relações Exteriores do Brasil, José Serra, se manifestou na segunda-feira 1°, após Caracas comunicar que estava assumindo o comando do bloco. Serra informou que o país considera “vaga a presidência pro tempore do Mercosul”, o que consolida a postura de boicote de Brasil e Paraguai, principalmente, e da Argentina de Mauricio Macri, mais discretamente. O boicote vale tanto em relação ao governo de Nicolás Maduro quanto ao bloco regional.
Para Analúcia, é “curiosa” a postura do atual chanceler, de abandonar a política externa dos governos petistas, que priorizava o multilateralismo e “se definia pelo pragmatismo”, segundo ela. Outra característica desenvolvida pelo Itamaraty no período anterior, em sua opinião, era desenvolvida “no sentido de garantir a cooperação em detrimento do conflito”.
Com essa política de cooperação e procura de superação de conflitos nos últimos 13 anos, o Brasil desempenhou papel fundamental, por exemplo, no acordo entre Irã e Turquia sobre combustível nuclear, em 2010.
A situação de crise interna pela qual passa a Venezuela é um cenário que se adequaria à política de cooperação, o inverso da prática de Serra. “A Venezuela precisaria justamente de um apoio mais substantivo dos demais países para superar essa crise”, diz a professora. “Com Lula e Dilma, o Brasil foi acusado de ideologizar a política externa. É curioso isso. Agora vem um ministro que age com uma conduta extremamente ideológica, condenando, reprimindo, criticando e tentando excluir o país do conjunto regional, dos processos integrativos, principalmente o Mercosul.”
Em entrevista, na terça 2, à TVT, o jornalista Igor Fuser, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), manifesta opinião semelhante sobre a guinada e a contradição do Itamaraty sob o comando do chanceler interino. “Os mesmos que pouco tempo atrás diziam que a política externa (do governo Dilma) era ideológica, que não era regida por interesses de Estado, hoje jogam no lixo o interesse de Estado do Brasil, em função de uma questão partidária.” Para ele, a postura do governo interino brasileiro tem também o objetivo de “ajudar os partidos venezuelanos que são iguais” aos que participam do golpe parlamentar no Brasil.
> Vídeo: confira reportagem da TVT
Fuser diz que, por trás da posição brasileira, existe a “tentativa de interferir na política interna da Venezuela: eles querem prejudicar um governo de esquerda, criar uma situação vexatória para favorecer a direita dentro da Venezuela”.
Regra é clara - Paraguai e Brasil argumentam que a Venezuela não incorporou cláusulas e protocolos econômicos e relativos aos direitos humanos e, portanto, não é membro pleno do bloco. Para Igor Fuser, tal posição é um “pretexto”. “A regra é muito clara: o mandato de cada país dura seis meses e ao final desses seis meses entra o próximo país na ordem alfabética. A mudança é automática. Não depende de uma decisão dos países membros. A regra é cumprida há 25 anos.”
Diante do impasse que se manteve durante todo o mês de julho, o Uruguai declarou encerrada sua gestão na sexta-feira 29 e, imediatamente, a Venezuela anunciou que assumia a presidência do bloco.
Em artigo na revista Carta Capital, o ex-ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Celso Amorim, afirma que “o Mercosul passa pela maior crise desde a sua criação, em 1991”.
Nele, Amorim diz que “privar a Venezuela da presidência do Mercosul em nada contribuiria para melhorar a situação no país vizinho”. Segundo ele, “a psicologia do ‘cerco’ nunca produziu bons resultados”. “A menos que o objetivo seja outro: o de contribuir para uma desestabilização maior da Venezuela, sem atentar para as terríveis consequências que isso acarretaria.”
Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 4/8/2016