Apesar do corte de 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira 2, os juros no Brasil estão longe de estar no patamar ideal. Somos o país com o juro real mais alto do mundo.
Mas o que impacta na vida das pessoas e no país? Juros altos comprometem o crescimento do Brasil, à medida que os investimentos produtivos são afetados, estimulando investimentos no mercado financeiro com retorno garantido de juros altos.
O real também se valoriza em relação ao dólar, o que pode desestimular exportações e estimular importações, afetando o nível interno da atividade econômica.
Interfere, neste sentido, na geração de emprego e renda, inibindo efeito multiplicador e inviabilizando o dinamismo da economia. Numa espécie de efeito dominó, menor atividade da renda impacta na arrecadação de tributos, ou seja, no orçamento público, diminuindo a capacidade do Estado em investimentos sociais.
Os gastos do governo com juros da dívida pública sobem, comprometendo parcela maior do orçamento público. Estima-se que caso a Selic já fosse de 9,5% ao ano, conforme prevê projeção do Boletim Focus do BC para 2024, o Brasil iria economizar cerca de R$ 182 bilhões ao ano só com o pagamento de juros da dívida.
Em relação ao Sistema Financeiro, a taxa de juros elevada dificulta a tomada de crédito, encarecendo-o e tornando-o mais restrito ao tomador. Os bancos passam a ser mais cautelosos nas concessões, sendo mais seletivos e exigentes para quem busca recursos financeiros.
De acordo com pesquisa da CNI, Confederação Nacional da Indústria, a dificuldade mais citada pelas empresas industriais na obtenção de crédito foi o nível elevado das taxas de juros, independentemente da modalidade do crédito. A Pesquisa Sondagem Especial da CNI contou com a participação de 2022 empresas industriais, sendo 808 pequenas empresas, 712 médias empresas e 502 grandes empresas. Para as empresas que afirmaram ter dificuldades na contratação/renovação de crédito, 71% apontaram a taxa de juros elevada como fator determinante.
Na esteira da elevação de juros do BCB, os juros bancários também vêm subindo, contribuindo para onerar o orçamento de famílias e empresas e, consequentemente, elevando a inadimplência num ciclo vicioso. O percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer, em junho, atingiu 78,5% das famílias no país, as que se consideram muito endividadas são 18,5%. O total de famílias com dívidas atrasadas chegou a 29,2%.
Dos consumidores com dívidas atrasadas, 4 em cada 10 entraram em junho sem condições de pagar os compromissos de meses anteriores, maior proporção desde agosto de 2021. Os juros elevados dificultam a melhora desse quadro. O volume de consumidores com atrasos há mais de 90 dias também cresceu, alcançando 46% do total de inadimplentes em junho. Ou seja, a cada 100 consumidores com dívidas atrasadas, 46 possuem atrasos há mais de três meses.
O sistema financeiro precisa se comprometer com o desenvolvimento do país e é urgente que se responsabilizem com a construção de um pacto social civilizado e democrático.