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Chapéu
27ª Conferência Nacional dos Bancários

35º CNFBB: Em defesa do banco público, direitos e da soberania, bancários do BB aprovam plano de lutas

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Bancários do BB aprovam plano de lutas

Foi realizado nesta sexta 22, em São Paulo, o segundo e último dia do 35º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (CNFBB). Ao final do dia, delegados e delegadas que representam os trabalhadores do BB aprovaram o plano de lutas para o próximo período (veja no final da matéria). 

Os trabalhos do dia iniciaram com a votação e aprovação do Regimento Interno do Congresso, e com as falas dos representantes das centrais sindicais e forças políticas. Foi feita também a leitura do manifesto da Contraf-CUT de tolerância zero para casos de violência e assédio.

Após a aprovação do Regimento Interno do 35º CNFBB, tiveram início as falas das centrais sindicais e forças políticas. Nas intervenções, além do debate sobre questões específicas dos bancários do BB, foi unânime a defesa da soberania nacional.

“Não há como defender a soberania, sem defender o BB. Temos infelizmente uma extrema-direita organizada, que elegeu parlamentares que recorrem a um país estrangeiro para lutar contra os interesses brasileiros. É fundamental que este congresso tire resoluções em defesa do BB, e que a gente vá para os locais de trabalho conversar sobre a agressão que essa extrema-direita comete contra cada funcionário do BB, ameaçando seu emprego, seu local de trabalho, indo na internet para falar mentiras sobre o banco”

Antônio Netto, representante da Fetec-CUT/SP na CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil

“Isso não significa que vamos defender o banco de forma passiva, que vamos aceitar as condições que temos hoje no BB. Por isso, temos várias questões a tratar. A questão da Previ e a defesa do seu modelo de governança; a discussão fundamental sobre a Cassi, que envolve também nossos colegas egressos de bancos incorporados. Defendemos que todos os trabalhadores do BB estejam submetidos aos mesmos deveres e direitos. Todos possuem direito a Previ e a Cassi, mas o BB é responsável pela despesa assistencial desse grupo, uma vez que foi o banco que não deu o direito destes colegas ingressarem na Cassi e na Previ”, acrescentou. 

Conjuntura e o Papel do Banco do Brasil

A primeira mesa do 35º CNFBB, com o tema “Análise de Conjuntura e o Papel do Banco do Brasil”, contou com apresentações do sociólogo Jessé Souza e de Rosângela Vieira, economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico).

Na sua intervenção, Jessé Souza abordou como o pensamento escravista que as elites impuseram ao Brasil se perpetua até hoje, sob diferentes máscaras.

“Neste país existe uma cultura de golpe de estado para garantir o saque do Estado pela elite e o monopólio do capital cultural para a classe média branca. Essas classes são um bloco de poder contra o povo. O povo contamina a Europa que eles imaginam que esse país poderia ser. Isso explica a nossa irracionalidade e mantém a legitimação do escravismo. Finge-se que existe sufrágio universal, mas quando são os pobres e pretos que elegem, montam um golpe de estado”, disse o sociólogo.

Jesse Souza na primeira mesa de debates do 35º CNFBB (Foto: Seeb-SP)

Por sua vez, Rosangela Vieira trouxe para a mesa dados macroeconômicos e sobre o resultado semestral do BB, que teve queda de 40,7% em 12 meses.

A economista demonstrou que três fatores criaram uma “tempestade imperfeita”, que impactou negativamente o resultado do BB: Selic alta; aumento expressivo da inadimplência do agro, dos grandes produtores agrícolas; e a Resolução CMN nº 4.966 que, dentre outros pontos, estabeleceu o critério de perdas esperadas, o que - dado o peso da carteira agro (33% da carteira total do BB) e do seu nível de inadimplência superior a 90 dias (4,21% no segundo trimestre) - ampliou o provisionamento no Banco do Brasil (R$ 29 bilhões no primeiro semestre, crescimento de 45% em relação ao mesmo período de 2024).

Previ: o papel dos associados na gestão dos fundos de pensão

Na sequência, foi realizada a mesa sobre a Previ, a caixa de previdência dos funcionários do BB. Participaram João Fukunaga, presidente da Previ; Wagner Nascimento, diretor de Seguridade; Paula Goto, diretora de Planejamento; e Márcio de Souza, diretor de Administração.

A mesa foi iniciada com um ato simbólico em defesa da Previ e da sua governança, seguido por uma atividade proposta por Wagner Nascimento, diretor de Seguridade da Previ, sobre práticas previdenciárias.

Na sua intervenção, Fukunaga fez uma enfática defesa do corpo técnico e da gestão paritária da entidade. “Esse corpo técnico, formado por associados, por colegas do BB, que garante todos os nossos investimentos. Ao contrário do que vemos na mídia, é um corpo técnico qualificado, que defende o seu próprio futuro e o nosso futuro. A outra fortaleza, com certeza, é a gestão paritária, com eleitos e indicados pelo banco (...) O nosso modelo de gestão é o que garantiu a perenidade da Previ até hoje."

Ato em defesa da Previ e da sua governança (Foto: Seeb-SP)

“O nosso maior tesouro é a nossa governança, a participação dos associados na gestão. Qualquer proposta que venha a colocar em risco essa participação deve ser rechaçada. A regra de o patrocinador indicar diretores com pelo menos 10 anos de associação na Previ e a eleição de diretores pelos associados é o nosso melhor processo seletivo”, reforçou Márcio de Souza.

Por fim, Paula Goto destacou avanços na promoção da diversidade na Previ e anunciou a adesão da entidade ao manifesto da Contraf-CUT de tolerância zero para casos de violência e assédio.

Saúde e as negociações do custeio da Cassi

Após a pausa para o almoço, teve início a última mesa de debates do 35º CNFBB, que teve como tema a Cassi e as negociações sobre o seu custeio. Participaram da mesa Alberto Alves Junior, diretor de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Cassi; e Fernando Amaral Baptista Filho, diretor de Risco Populacional, Saúde e Rede de Atendimento.

Alberto Junior iniciou sua intervenção falando sobre o adoecimento dos bancários do BB, acarretado pela cobrança abusiva por metas. “Não existe paz. Quando batem a meta, no dia seguinte a meta já é outra.”

Para ele, o BB é o grande responsável pelo déficit na Cassi, não só pelo adoecimento dos trabalhadores devido ao modelo de gestão do banco, mas também pela redução da remuneração média, o que impacta nas contribuições para o plano de saúde. “Estamos brigando para que o banco assuma a sua responsabilidade pelo dano que está sendo causado na saúde do associado e também na assistência.”

Por sua vez, Fernando Amaral Baptista Filho pontuou que a Cassi é o item mais importante para os trabalhadores do BB e citou a economia de mais de R$ 3 bilhões nas despesas. “Mesmo diante dos desafios para atender com qualidade todos os participantes, fomos capazes de economizar mais de R$ 3 bilhões entre 2019 e 2024. Porém, ainda precisamos lidar com o equilíbrio, porque a arrecadação do Plano Associados é menor do que o custeio”, declarou.

De acordo com o diretor de Planos de Saúde e Relacionamento com Clientes da Cassi, o principal problema no custeio é a redução da participação do BB ao longo dos anos. "A remuneração tem que ser conforme com o que a gente produz. E a tecnologia tem que se a favor do ser humano. Nesse sentido, é possível melhorar a participação do banco no custeio da Cassi", concluiu.

Plenária final

Após as mesas de debates, foi realizada a plenária final do 35º CNFBB, na qual foram aprovados os eixos do plano de lutas dos bancários do BB.  

“A gente sai daqui com um plano de lutas muito bem definido. Pensando no Banco do Brasil que queremos, que atue como banco público, mas também cuide dos seus funcionários. Queremos que os funcionários tenham tranquilidade para trabalhar, não adoeçam. Temos hoje uma cobrança de metas muito grande. E as pessoas querem ser reconhecidas. Não querem adoecer. Também tiramos um plano de defesa da Previ e da Cassi. E também para os funcionários dos bancos incorporados”

Fernanda Lopes, coordenadora da CEBB (Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil)

Fernanda Lopes, coordenadora da CEBB (Foto: Seeb-SP)

Entre os eixos do plano de luta aprovado, estão:

  • Defesa da função pública do Banco do Brasil, essencialmente quanto ao desenvolvimento econômico e social, da agroecologia e da agricultura familiar;
  • Expansão do PRONAF, volta do DRS (Desenvolvimento Regional Sustentável) e maior apoio à agricultura familiar;
  • Abertura de agências em municípios desbancarizados;
  • Novo concurso (cumprindo efetivamente a cota de PCDs);
  • Fim das terceirizações;
  • Distribuição de dividendos em proporção que garanta investimentos no setor produtivo, assegurando o desenvolvimento econômico e social do Brasil;
  • Revisão dos processos de financiamento ao agro, aprofundando o cuidado para garantir a produção sustentável tanto com viés ambiental, como o retorno para a garantia de alimentos para o Brasil;
  • Ampliação do atendimento à população nas agências com maior movimento em regiões carentes e/ou periféricas;
  • Ampliação de postos de trabalho, garantindo o atendimento de caixa e preenchimento de claros;
  • Que o banco se responsabilize para que efetivamente não aconteça desvios éticos para cumprimento de metas;
  • Fim do assédio moral e metas abusivas.
  • Previdência: defesa da governança da PREVI e do modelo de gestão paritária pelos funcionários do banco; o papel dos órgãos controladores/reguladores. Planos e aspectos dos perfis de investimentos;
  • Os funcionários do Banco do Brasil devem seguir na defesa intransigente da Previ, cujo modelo de governança prevê a gestão compartilhada entre a empresa patrocinadora, por sua indicação com a representação dos funcionários, por meio democrático de eleição participativa, o que garante a permanência da robustez da sua governança impedindo interferência externas, seja do mercado ou de governos, com respeito inequívoco aos órgãos controladores e reguladores competentes;
  • A Previ deve ser para todos, com tratamento isonômico aos egressos de bancos incorporados, com direito à adesão ao plano PREVI Futuro e seus benefícios; 
  • Saúde: modelo de custeio e sustentabilidade do plano de associados da Cassi; Adoecimento e saúde mental;
  • Os funcionários do Banco do Brasil devem seguir na defesa intransigente da Cassi, objetivando o fortalecimento da caixa de assistência, em modelo de autogestão e patrocínio do empregador; 
  • A forma de custeio não pode se basear tão somente na folha de pagamento, sendo necessária a busca de outras fontes de receitas oriundas do patrocinador. Com as premissas de aumento da contribuição patronal para 70% (setenta por cento), sem aumento na contribuição do associado;
  • A Cassi é para todos e deve ser garantida a isonomia de tratamento para os egressos dos bancos incorporados e funcionários que ingressaram no Banco após a reforma estatutária de 2018;
  • É de fundamental importância que o banco informe precisamente os dados do EPS (exame periódico de saúde) e do adoecimento profissional;
  • Necessário incluir a cirurgia de afirmação de gênero/redesignação sexual no rol de procedimentos da Cassi, custeadas pelo banco, com apoio das instituições no acolhimento de pessoas trans;
  • Fortalecer e ampliar as CliniCassi e a rede credenciada;
  • O banco deve, ainda, cumprir de imediato as diretrizes da NR1;
  • Campanhas: Em Defesa do Banco do Brasil; Menos Metas Mais Saúde; Contra o Assédio Moral; Dias de Luta em todas as datas de negociação sobre a Cassi.

Também foram aprovadas moções sobre a defesa do BB e de sua função pública, sustentável e inclusiva; menos metas, mais saúde; repúdio aos ataques de Trump contra a soberania nacional; transparência na destinação de verbas parlamentares; contra o genocídio praticado por Israel contra os palestinos; em defesa do deputado Renato Freitas; e contra as ameaças de grupos de extrema-direita a Jones Manoel.

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