Chegamos ao fim do processo eleitoral municipal. Não podemos atribuir derrota do campo progressista, tampouco devemos comemorar vitória. A leitura merece uma análise menos dualista e mais complexa, a questão é muito maior que a tal autocrítica.
Claro que é fundamental a ampliação do diálogo com a totalidade da classe trabalhadora, sobretudo, com a grande massa de autônomos em plataformas, com a ala evangélica e com a juventude. A pauta precisa ganhar os corações e dar esperança à sociedade.
É preciso dar maior foco no combate ao discurso neoliberal que prioriza o indivíduo e rompe com o discurso da coletividade e solidariedade. Mais do que isso. A esquerda precisa encontrar caminhos que tragam ao debate o interesse pelo processo democrático, a confiança pela transformação nas urnas. A alta proporção de abstenções foi notada em todos os municípios do país. Na capital paulista, ocorreu o maior índice de sua história em um segundo turno de eleição municipal com a ausência de 31,5% dos eleitores. Quase 3 milhões de eleitores não compareceram às urnas.
O aparente desinteresse do eleitorado pode, inclusive, estar associado às desinformações, à desesperança da política ou às falsas notícias que comprometem a lisura do processo. Ou ao desencanto da população que não vê nas urnas uma mudança imediata nas suas condições de vida precárias, afinal, no dia seguinte às eleições, ainda não vão ter emprego, não vão ter saúde, não vão ter remédio e não vão ter creche.
A decepção ocorre quando não há respeito com a população. Um exemplo foi a atitude do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas. Mal terminou as eleições, foi realizado um leilão com 17 escolas e quem ganhou a licitação foi a concessionária que faz a gestão do cemitério da Consolação, a mesma que acumula reclamações sobre os altos valores oferecidos. O governador já planeja passar a gestão administrativa de mais 143 escolas estaduais para a iniciativa privada.
Durante as eleições, Guilherme Boulos, candidato do PSOL, foi alvo de inúmeras mentiras. Foi vítima de Pablo Marçal, de Ricardo Nunes e do governador Tarcísio no dia da eleição. A grave acusação que afirmou, sem provas, que o PCC estaria indicando votos a favor de Boulos é crime. A Justiça Eleitoral foi acionada e precisa dar respostas não somente ao candidato prejudicado e aos seus mais de 2,3 milhões de eleitores. A Justiça precisa dar respostas a toda a sociedade, precisa fortalecer a democracia.
O respeito à decisão do voto é soberano; contudo, deve estar associado ao respeito por todo o processo eleitoral. Valorizamos, como Sindicato agente da sociedade civil, cada elemento do pleito e manteremos essa certeza durante os mandatos através da participação dos conselhos municipais, como o das mulheres, de saúde, de políticas LGBTQI+, atuando junto aos vereadores eleitos que partilham dos nosso ideias e na defesa de toda a classe trabalhadora.
Enquanto essa for a forma de participação política que a sociedade oferece, os trabalhadores têm de se envolver, colocando a sua vontade, para que ela mude. Quando não contribuímos, as pessoas que participam fazem a política somente a favor de uma parcela da sociedade. E é por isso que o Sindicato insiste tanto para que as pessoas se organizem e façam valer os seus direitos.