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Artigo

Um país onde ser cotista virou xingamento

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Imagem de Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Os xingamentos direcionados a alunos cotistas da Universidade de São Paulo (USP), feitos por torcedores uniformizados da PUC, foi mais uma cena de racismo no país.

O episódio, registrado em vídeo e divulgado na imprensa durante os  jogos universitários realizados no sábado (16), aconteceu enquanto as equipes das duas instituições se enfrentavam em uma partida de handebol dos jogos jurídicos, em Americana (SP), interior paulista. Os torcedores uniformizados da PUC gritavam “cotista” e “pobre”, entre outras frases preconceituosas contra os estudantes cotistas da USP.

As cenas de racismo se multiplicam, mas agora temos mais facilidade para gravar e provar esse crime juridicamente. A quantidade de processos criminais relacionados ao racismo, injúria racial e intolerância está crescendo de forma exponencial no Brasil: em 2020 somavam 150; em 2022 subiram para 1.773 e em 2024, saltaram para 4.205. Ao todo são 11.620 processos pendentes, sendo que a maioria está em primeiro grau: 9.523. Em segundo grau são 370 e nos Juizados Especiais, 1683. Os dados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Os estudantes envolvidos foram demitidos de seus estágios de Direito, em escritórios de advocacia. As associações atléticas dos dois cursos e das direções das duas faculdades, além da reitoria da PUC-SP, enviaram notas de repúdio. E a organização dos Jogos Jurídicos também se manifestou e disse que o caso será punido.

A Lei de Cotas, sancionada em 2012, é fruto de uma longa luta de diversos setores da sociedade. As cotas são políticas públicas de ação afirmativa que visam promover a igualdade de oportunidades e combater a desigualdade social e racial, promovendo o acesso ao ensino superior. Estima-se que, entre 2012 e 2022, mais de R$ 1,1 milhão de pessoas foram beneficiadas pela Lei de Cotas no Brasil.

Por gerações, a elite viveu sem ter de conviver diretamente, em seus espaços diários, com pessoas de outras classes. E há os que ainda defendem a universidade para “poucos”, como declarou em 2021 o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro: “O ensino superior não deveria ser para todos, mas “para poucos”.

O combate ao racismo é um dever de toda a sociedade. A luta antiracista tem permeado as discussões da organização dos trabalhadores há cerca de quatro décadas. Nas resoluções da 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras, a Conclat, em 1983, a questão racial foi incorporada no Plano de Lutas: Contra todo tipo de discriminação do negro, da mulher e das minorias. 

Desde então, temos ampliado as políticas relacionadas ao combate ao racismo. Na categoria bancária, o tema é tratado na Mesa de Igualdade de Oportunidades, desde o início dos anos 2000. De acordo com dados da RAIS do MTE, 26% da categoria é formada por trabalhadores negros. Os dados mostram desigualdade salarial, especialmente quando o recorte combina raça e gênero, verifica-se que a remuneração média das mulheres negras é 36% inferior à remuneração média do bancário branco do sexo masculino.

A nossa defesa nas mesas de negociação é pela presença da população negra nos bancos, pela permanência e também pela progressão de carreira.

Além disso, dialogando com a sociedade e fortalecendo nosso objetivo de sindicato cidadão, vamos lançar a Cartilha “Desconstruindo o Racismo”, no próximo dia 29, organizada pela advogada, ativista e conselheira do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT), Jacque Cipriany.

Acreditamos e afirmamos: "Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista".

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