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Após demitir em massa, Santander fala em diálogo

Linha fina
Em carta aos funcionários, o banco refere-se às centenas de desligamentos como “pontuais” e omite dura negociação na Justiça que resultou em acordo no TRT
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São Paulo – Em comunicado a todos os funcionários, divulgado internamente na quarta 19, o Santander se refere às recentes demissões que promoveu sob o título de “Processo de ajuste na nossa organização” e fala em “ajustes pontuais” que resultaram “infelizmente, na saída de alguns de nossos colegas”.

A comunicação também cita um suposto “diálogo com o Sindicato” que teria como consequência a concessão de “alguns benefícios extras que fazem parte de um acordo”. A frase refere-se ao acordo firmado com o Sindicato, na quarta 19, intermediado pela Justiça do Trabalho, o qual prevê indenizações aos demitidos com menos de 10 anos de empresa.

> Sindicato e Santander assinam acordo judicial

A secretária de Finanças do Sindicato e coordenadora na mesa de negociação com o banco, Rita Berlofa, esclarece que não foram “alguns” trabalhadores demitidos, como diz o banco, mas 440 apenas na base do Sindicato e, segundo informações do próprio Santander, 1.280 em todo o país. E tudo isso apenas em três dias de dezembro.

A dirigente ressalta ainda que o “diálogo” citado pela instituição não existiu. “Em nenhum momento houve qualquer aviso ou diálogo com o Sindicato. Fomos surpreendidos pelas demissões e tivemos que agir realizando protestos em agências e concentrações e ingressando na Justiça do Trabalho contra a atitude autoritária e desumana do banco.”

Rita explica que a “concessão” a que o Santander se refere na verdade foi resultado de um árduo processo de negociação, realizado sob a intermediação do Núcleo de Conciliação do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), cujas reuniões foram conduzidas pela desembargadora Ivani Contini Bramante, pela juíza convocada Patrícia Therezinha de Toledo, e pela procuradora do Trabalho Lidia Mendes Gonçalves. “A negociação com o banco só ocorreu porque o Santander foi acionado na Justiça, após o Sindicato entrar com denúncia e pedido de liminar contra as demissões. O acordo judicial só foi homologado depois de um tenso debate com os representantes do banco”, conta. A dirigente lembra ainda que, diante da ação do Sindicato, o TRT concedeu liminar no dia 5 de dezembro, suspendendo todas as demissões no banco. A liminar foi revogada na quarta 19, após a assinatura do acordo judicial.

“Diante dos fatos, lamentamos profundamente o comunicado, que acabou por cumprir o papel de informar incorretamente os funcionários do Santander . Na verdade, o acordo com o banco foi fruto de um duro embate e da intervenção da Justiça, e não de um ‘diálogo’. Além disso, o documento se refere às demissões como se fossem meras casualidades, quando sabemos que os dispensados são pais e mães, alguns são arrimo de família, outros têm pai ou mãe doentes que dependem deles, e muitos estavam eles próprios doentes, alguns com câncer, outros com depressão ou LER/Dort, e a maioria era antigo no banco ”, afirma Rita.

A dirigente destaca também que o acordo foi fruto da tentativa do Sindicato de minimizar ao máximo os impactos sociais das demissões, mas que está longe de ser o ideal. “O que queríamos na verdade era reverter todos os desligamentos e que os bancários fossem tratados com a dignidade que merecem. A própria comunicação do banco se refere à unidade brasileira como a mais importante dentro do grupo espanhol. O problema é que a instituição retribui o resultado que está tendo no país com demissões e desrespeito aos trabalhadores brasileiros”, conclui.


Andréa Ponte Souza - 20/12/2012

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