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“Ajustes” no Bradesco geram demissões

Linha fina
Sindicato considera imotivados os desligamentos; para dirigente, banco vive choque geracional
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São Paulo – Um grave problema está instalado no Bradesco. Não só no banco, mas na mentalidade de parte considerável dos funcionários. Muitos dos bancários mais novos acreditam que uma reestruturação para “oxigenar” os quadros seria bem vinda, e ela deveria vir por meio da demissão dos funcionários mais antigos. Muitos desses, quando demitidos, não procuram o Sindicato para que a entidade defenda seus direitos, o que é preocupante.

A avaliação é da dirigente sindical Erica Simões, que alerta para o perigo desse raciocínio. “Não podemos naturalizar a demissão como punição pelo não cumprimento de metas abusivas e muito menos achar normal o descarte de um funcionário.”

> Protesto contra demissões e assédio no Bradesco

A dirigente ressalta que o Sindicato tem realizado protestos em diversas ocasiões contra demissões imotivadas. “Procuramos chamar a atenção do bancário e da sociedade para a necessidade de um sistema de gestão que valorize o trabalhador, que combata o assédio moral e as metas abusivas e que promova um plano de cargo, carreiras e salários democrático, que valorize não somente por mérito, mas também por antiguidade”, salienta.

Como exemplo dessas campanhas, Erica destaca o Homem de Lata e, mais recentemente, os protestos pela “champanhe”. “Para mudar essa realidade nefasta, é fundamental a organização sindical”, afirma, acrescentando que a luta vale a pena. “Foi protestando e lutando que conseguimos trazer de volta para a categoria 2 mil comerciários que hoje trabalham no Bradesco Financiamento e voltaram a ser bancários.”

> Campanha Homem de Lata
> Vídeo Homem de Lata
> Dois mil comerciários do Bradesco serão bancários

Contramão – O Bradesco, no entanto, segue na contramão da valorização do trabalhador e vem promovendo nos últimos meses uma série de ajustes que estão gerando demissões consideradas imotivadas pelo Sindicato, tanto em agências quanto nos departamentos. As justificativas do banco para os desligamentos, segundo Erica, são os mais variados: baixo desempenho, créditos mal concedidos, idade próxima da aposentadoria, dentre outros.

Em todo o país ocorreram mais de 50 movimentações de gerentes regionais, que resultaram em 12 demissões, sendo ao menos três desligamentos apenas na base do Sindicato – todos em período de pré-aposentadoria.

De acordo com apuração da entidade, as demissões começaram na gerência média. Num segundo momento, os demitidos foram os gerentes gerais, e na terceira fase, os gerentes regionais. Por outro lado, as agências continuam lotadas, os funcionários que ficam estão sobrecarregados de trabalho, acumulando diversas funções esperando pela promoção que nunca vem.

“Os trabalhadores dedicam 20, 25 anos de suas vidas trazendo resultados ao Bradesco e, quando não entregam a meta em um curto período de tempo, são desligados e sem plano de saúde. O movimento sindical não concorda com esse tipo de tratamento e vai insistir no debate, pois essa situação precisa melhorar”, pondera.

Ao ser cobrado pelo Sindicato, o banco alegou que não há processo de demissão em massa em andamento. De acordo com os números da homologação, de janeiro a novembro de 2013 ocorreram 1.678 desligamentos na base do sindicato, ante 1.041 no mesmo período de 2012. Vale lembrar que esses números englobam pedidos de aposentadoria, pedidos de demissões, falecimentos etc.

O Bradesco gerencia mais de 26 milhões de contas-correntes e 48 milhões de contas-poupança. O lucro anual da instituição financeira atingiu R$ 9 bilhões.

Erica avalia que o Bradesco vive atualmente um choque geracional.  “Os funcionários novos têm pressa, querem reconhecimento rápido e, quando o banco não corresponde, pulam fora. Os funcionários mais antigos se sentem desprestigiados e o próprio banco está demitindo eles. E aí eu pergunto: quem ficará?”


Rodolfo Wrolli – 16/12/13

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