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Retirar ciclovias é embate erosivo, diz especialista

Linha fina
Arquiteto e urbanista da FAU defende diálogo com a sociedade na implantação de vias exclusivas para bicicletas, mas critica liminar que determina paralisação e reversão das obras
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São Paulo – Paralisar as implantação das ciclovias e reverter as obras em andamento, como quer o Ministério Público Estadual, “não favorece o diálogo e leva a sociedade a um embate erosivo e mortífero”. A opinião é do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e especialista em mobilidade urbana, Alexandre Delijaicov.

Ele comentou a decisão da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo de ingressar na Justiça com pedido de liminar determinando a suspensão de todas as obras de construção de ciclovias na cidade de São Paulo até que sejam disponibilizados estudos técnicos para a implantação da rede no município.

Segundo a promotora Camila Mansour Magalhães da Silveira, que assina a ação civil pública, a prefeitura não enviou ao Ministério Público os projetos básico e executivo das obras, nem realizou audiências públicas para a instalação das ciclovias. Na quinta 19, a Justiça aceitou em parte os argumentos.

> Justiça suspende construção de ciclovias em SP

“Nós, brasileiros, somos totalmente resignados a uma política que promove um urbanismo muito cruel, mercantilista, rodoviarista, implacável, que não dá chance de construirmos uma cidade para todos, então é muito importante investir em uma infraestrutura cicloviária para uma cidade completamente insensível a isso, para que todo trabalhador possa ir trabalhar de bicicleta. Muitos tinham vergonha disso e agora têm confiança, portanto é um atestado de inteligência e solidariedade [do poder público]. Faz bem para todo conjunto da sociedade, sobretudo psicologicamente”, defende.

O movimento de parte da população paulistana, principalmente a de alta renda, contrária a implantação das vias exclusivas para bikes, também é lembrado com críticas por Delijaicovic. “O comerciante que reclama da ciclovia em Higienópolis muitas vezes é o mesmo que vai para Nova York, Paris, e lá adora viajar de metrô, mas chega em São Paulo e fala que não quer metrô no seu bairro porque vai trazer gente diferenciada. É injusto. Muitos falam isso com consciência, mas outros repetem isso por lavagem cerebral”, afirma.

As ciclovias incentivam a atividade econômica ao invés de atrapalhar, na opinião de Delijaicov. “O conector que está por trás das ciclovias é a rua viva, elas estimulam o comércio de rua. É o que acontece em várias cidades do mundo, e é comprovado por estudos. A ciclovia, onde foi implantada, recuperou bairros mortos, o comércio fica mais ativo, e não trouxe nenhum prejuízo aos comerciantes.”

O especialista em mobilidade urbana enfatiza a importância de se construir pontes entre a sociedade, o poder público e o corpo técnico, mas defende a continuidade da implantação das obras.

“Nessa difícil arte da construção coletiva da coisa pública dentro de uma república democrática participativa inclui toda a sociedade, mas vamos encarar que é uma vitória uma prefeitura como São Paulo se dedicar ao urbanismo voltado ao ser humano, ao pedestre, ao ciclista, ao transporte público. É uma vitória uma prefeitura, em quatro anos, ter como meta implantar 400 quilômetros de ciclovias.”


Rodolfo Wrolli – 19/3/2015
(atualizado às 13h48 de 20/3/2015)

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