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Aumento da Selic só beneficia os bancos

Linha fina
Para economista Ladislau Dowbor, além de não reduzir a inflação, elevação da taxa básica de juros transfere centenas de bilhões em recursos públicos para intermediários financeiros
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São Paulo – Sob o pretexto de conter a inflação, o Banco Central vem aumentando consecutivamente a taxa básica de juros do país. Na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), de quarta-feira 3, a Selic foi elevada em 0,5 ponto percentual, passando de 13,25% para 13,75% ao ano. Para o doutor em economia e professor da PUC-SP Ladislau Dowbor, a justificativa usada pelo BC é “um erro econômico crasso”. Isso porque parte do pressuposto de que a inflação no país é causada pela demanda excessiva, e isto, segundo ele, não corresponde à realidade.

“Só se justificaria aumentar a Selic se a inflação fosse causada pela demanda. Lógico que quando se compra muito, acima da capacidade produtiva de um país, isso leva à inflação. Mas não é absolutamente o caso do Brasil porque aqui temos uma subutilização do equipamento produtivo”, diz o professor. E acrescenta: “A maior parte dos países desenvolvidos tem a taxa de juros da dívida pública, o equivalente à Selic daqui, próxima de zero. Nos países da Europa, os Estados Unidos, o Japão... a taxa Selic deles é próxima de zero e eles não têm inflação.”

Quem ganha – Ele explica que o aumento da Selic só beneficia as instituições financeiras, principais detentoras de títulos da dívida pública. “Quando se aumenta a Selic, aumenta-se a dívida pública e isso leva a uma transferência da ordem de R$ 300 bi anuais dos recursos públicos, ou seja, dos nossos impostos, para o intermediário financeiro. Isso equivale a 5% do PIB. E tudo isso a pretexto de defender a população da inflação.”

Em nota divulgada na sexta-feira 5, o Sindicato denuncia a perda de recursos públicos com as altas constantes da Selic. “Tal elevação fez com que o governo federal pagasse R$ 130 bilhões em juros apenas entre janeiro e abril deste ano, o que corresponde a 6,95% do PIB. No mesmo período de 2014 este valor havia sido 58% inferior.

> Sindicato contra a alta da Selic

Dowbor afirma ainda que, ao aumentar a Selic, o BC está cedendo à pressão dos grupos financeiros nacionais e internacionais. “Os grupos internacionais pegam dinheiro no Japão, por exemplo, onde os juros são baixos, e aplicam na dívida pública brasileira, onde os juros são altos. Fazem o que se chama de carry trade.”

Inflação construída – Mas se a inflação no país não é consequência de demanda excessiva, qual sua causa? O economista responde: “Chamo de uma inflação construída. A mídia consulta economistas sobre sua previsão de inflação que em geral é alta. Depois, amplamente divulgada na mídia, isto gera predisposição para elevar os preços por parte de milhões de empresas produtoras e comerciantes. Ou seja, se gera inflação pela expectativa da inflação”, diz.

E a grande maioria dos economistas consultados pela mídia, ressalta Dowbor, são ligados ao mercado financeiro. Ele cita como exemplo reportagem de um jornal de grande circulação em que todos os 21 especialistas ouvidos preveem IPCA alto e são do setor financeiro, de bancos como ABC, Bradesco, Opportunity, Itaú, Santander e HSBC. “Veja que não há economistas independentes, de institutos ou pesquisadores, e sim representantes de intermediários financeiros, que têm tudo a ganhar com a inflação e a elevação da Selic.”


Andréa Ponte Souza – 8/6/2015
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