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Seminário debate terrorismo e democracia na África

Linha fina
Sétima edição do Conversas Sobre África, promovido pelo Instituto Lula e sediado no Sindicato, abordou complexidade do combate ao terror e risco para estabilidade do continente
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São Paulo – A África é uma das regiões que mais cresce no mundo. Desde 2000, seu PIB médio aumenta a uma taxa de 5% ao ano. Também nesse período, o investimento estrangeiro quintuplicou. A democracia também avançou: em 2015 serão realizadas 23 eleições. Entretanto, o continente possui desafios. Um deles é o terrorismo e sua ameaça para os sistemas políticos da região, muitos ainda frágeis. Para discutir esses aspectos, o Instituto Lula promoveu na quarta-feira 30 o seminário O avanço da democracia na África e a ameaça do terrorismo, parte da série Conversas Sobre África, sediada no Sindicato.

Participaram do encontro o diretor do Instituto Lula Celso Marcondes; os professores Reginaldo Nasser, chefe do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP; Paulo Hilu, coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF); e Salem Nasser, integrante do Conselho África do Instituto Lula e coordenador do Centro de Direito Global da Escola de Direito da FGV.

Reginaldo Nasser abordou mitos que são disseminados sobre a questão do terrorismo. Por meio de dados, demonstrou que, ao contrário do senso comum, as mortes ocasionadas por atentados terrorista ocorrem na imensa maioria em países afastados dos grandes centros econômicos mundiais. “Apenas 5% das mortes ocasionadas pelo terrorismo ocorreram em nações que fazem parte da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Já 85% dessas mortes concentram-se em cinco países: Afeganistão, Iraque, Nigéria, Paquistão e Síria”, disse Nasser. “É o ocidente que está sendo ameaçado?”, questiona.

O professor da PUC-SP também falou sobre a interdependência entre organizações terroristas e os atores que se colocam como protagonistas da “guerra ao terror”. “O terrorista gosta de aparecer muito mais [poderoso] do que ele é. Por vezes, boa parte daqueles que o combatem também gostam de vê-lo assim. Afinal, dessa forma são demandados mais recursos e suspensão de liberdades individuais através de medidas de exceção, que por fim atingem a democracia”, explicou.

Paulo Hilu abordou a formação do islã político, do jihadismo globalizado e suas diferenças.

O professor explicou que o islã político nasceu no Egito na forma da Irmandade Mulçumana, em 1928, a partir da frustração com uma independência de fachada, já que o país ainda era controlado pelo Reino Unido. Inicialmente composto por uma elite intelectual, o grupo tenta assumir o controle do Estado por meio da luta armada. Duramente reprimida, a irmandade volta-se para a conquista da sociedade via atuação nas classes populares com a realização de aulas de alfabetização para adultos e outras atividades. Com isso, perde o caráter revolucionário e torna-se um movimento moralista, conservador e reformista.

Por outro lado, segundo o acadêmico, o jihadismo globalizado nasce no Afeganistão, com o treinamento de combatentes islâmicos para lutar contra a invasão soviética. Derrotado um império, a URSS, esses soldados voltam aos seus países treinados, dispostos, e confiantes para derrotar outro império, o capitalista.

“Ao contrário do jihadismo, o islã político é territorialista e participa do jogo político. Já os jihadistas globalizados, conceitualmente, não possuem interesses políticos de tomar o Estado”, explicou. “Com o Estado Islâmico, o jihadismo globalizado ganhou uma nova marca registrada, adquirindo características do islã político. Embora tenha todos os elementos jihadistas, por outro lado é territorial e constrói um Estado”, acrescenta o professor da UFF.

Fechando o seminário, Salem Nasser abordou preconceitos que envolvem o debate sobre democracia e conflitos na África. Para ele, o conceito de democracia é relativo e deve ser encarado como um processo, e não como um fim. “Democracia quer dizer eleições? Um líder pode se reeleger inúmeras vezes através de eleições limpas. Isso é democracia? Um dos termômetros para avaliar se estou em ambiente democrático é poder fazer uma palestra como essa falando o que eu quiser, sem ser intimidado na saída por conta do que eu falei”, comentou.

Por fim, Salem afirmou que é perigosa a tendência em explicar os conflitos na África por intermédio de chaves sectárias e étnicas. Para o professor, isso simplifica o problema e leva a conclusões como “esse pessoal nunca se entendeu, mesmo”, encerrando o espaço para uma solução. “Isso me parece terrivelmente perigoso”, concluiu.

Também estiveram presentes no seminário o conselheiro da embaixada de Angola, Augusto Inácio; o consul da Etiópia, Abdela Negussei; o cônsul-geral da Nigéria, Muntari Abdu Kaita; e o cônsul-honorário de Mali, Gerard Scerb.

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Felipe Rousselet, com informações do Instituto Lula – 30/7/2015
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