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Bancária do Telebanco diz: não é só contra os 5,5%

Linha fina
Bancária do Telebanco Bradesco relata rotina de pressão e desrespeito, que a levaram a quadro depressivo; proposta da Fenaban não atende reivindicações de saúde e condições de trabalho, como fim das metas abusivas e do assédio moral
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São Paulo – “Imagina o que é trabalhar num lugar em que sua cabeça está a prêmio o tempo todo. Onde você quase não pode confiar em ninguém porque jogam as pessoas contra você, te isolam.” É assim que uma bancária do Telebanco Bradesco resume o contexto que a levou a três crises de depressão, em pouco mais de dois anos de banco.

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“Quando você entra, e está em treinamento, eles te mostram uma empresa dos sonhos. Mas logo depois que você começa a atender [clientes pelo telefone], as coisas se revelam. Seu supervisor é um grosseiro que esculacha o tempo todo quem não bate as metas. Tem reunião de abertura [no início da jornada] em que eles te expõe mesmo: passam uma lista com os f..., que venderam tudo, e com os que não bateram a meta, e esses são os fracassados. O assédio moral é muito grande. E não sou só eu, tem muita gente com depressão”, conta a trabalhadora.

Ela explica que os avisos de metas aparecem no sistema durante a ligação do cliente. “Às vezes ele liga para cancelar o cartão, e chega um aviso de que a gente tem que vender R$ 200 de crédito pessoal. Não querem nem saber se o cliente foi roubado, tem que oferecer algo, tem que vender! Nos treinamentos, eles chegam a dizer: ‘se o cliente perdeu alguém, aproveite para vender um seguro’. É absurdo!”

Saúde – A federação dos bancos (Fenaban), que está com a pauta dos bancários desde o dia 11 de agosto, também não apresentou avanços para reivindicações de saúde e condições de trabalho, tão importantes para os trabalhadores quanto as de remuneração. Os bancários querem o fim das metas abusivas que tanto adoecem a categoria e aprimorar o combate ao assédio moral. Querem ainda soluções para o desrespeito frequente dos bancos a direitos já previstos na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) como a proibição de ranking de performance, problema que a funcionária do Telebanco presencia quase diariamente.

“Chegaram a fazer reuniões de abertura sem a minha presença dizendo que eu estava louca e que era melhor me evitarem. Quem continuasse andando comigo poderia ser demitido. Algumas pessoas depois me procuraram dizendo que gostavam de mim, mas que só poderiam falar comigo fora do trabalho”, relata a bancária. O isolamento é uma das características do assédio moral: “Hoje eu fico em uma sala onde não conheço ninguém, longe da minha antiga equipe e sem nada pra fazer”.

Disposição para a greve – Mesmo assim, a bancária diz que não desanima. “É por tudo isso que eu estou firme na greve, e vou fazer o que puder pra ajudar.” Aos colegas que batem todas as metas e que estão “de boa” com os gestores, ela avisa: “É melhor nem se iludir, já vi muita gente bater meta e mesmo assim ser demitido. Uma hora você não é mais interessante pro banco e mandam pra rua mesmo. Eles preferem trocar quem tem mais tempo pelos novinhos que chegam querendo mostrar serviço. Todo o mês saem uns 90 e tem outros 90 no lugar, e se a gente não se unir, vai continuar sendo descartável.”

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Andréa Ponte Souza – 8/10/2015

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