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Bancários entortam bancos e fazem greve

Linha fina
Itaú, Bradesco e Santander tentaram deslocar funcionários de centros administrativos para Contax, terceirizada conhecida pelas péssimas condições de trabalho: Sindicato garantiu direito de paralisação
Imagem Destaque
Rodolfo Wrolli, Spbancarios
8/9/2016


São Paulo – Um lugar imundo, onde pombos e ratos perambulam pelo refeitório. Uma rotina degradante que impede os funcionários até de irem ao banheiro, e o assédio moral, a superexploração e o adoecimento são regra. Assim, funcionários e a Justiça trabalhista resumem a empresa de telemarketing Contax. E foi esse o local escolhido por Santander, Bradesco e Itaú para desrespeitar o direito de greve dos bancários.

> Vídeo: contingência denunciada e greve ampliada

Mas não conseguiram. Na quinta-feira 8, o Sindicato convenceu os bancários deslocados para lá a aderirem ao movimento. Na tentativa de limitar ou impedir o livre exercício do direito de greve, os bancos utilizam-se desse tipo de plano de contingência, transferindo trabalhadores de setores inteiros para outros prédios, antevendo que piquetes serão levantados em seus centros administrativos.

“Pergunta pra qualquer um, quem quer entrar para trabalhar de livre e espontânea vontade”, reclamou uma bancária do Itaú. “O povo está tendo de se matar de trabalhar porque as agências estão fechadas. E este reajuste que estão querendo dar? Pelo amor de deus! O salário não chega nem a R$ 2 mil e ainda querem que a gente tenha faculdade, curso de CPA”, disse a trabalhadora, resumindo sua insatisfação.  

Coação – Por volta das 8h da manhã, a Polícia Militar foi acionada em uma investida contra o direito constitucional de greve. Soldados tentaram coagir bancários a denunciar um suposto impedimento ao direito de ir e vir por conta do piquete em frente à entrada da empresa. Em vão. Os trabalhadores apoiaram o movimento.

Em outra tentativa de desrespeitar o direito de greve, bancários do Itaú receberam crachás da Contax. Os funcionários da empresa de call center não podem aderir à paralisação, pois estão vinculados a outra categoria.  

“Hoje não vai entrar nenhum bancário”, desafiou Carlos Damarindo, secretário Jurídico do Sindicato e bancário do Itaú.  “A Contax usa o aparato da Polícia Militar para colocar os trabalhadores para trabalhar, para comerem o pão que o diabo amassou, para fraudar a greve, mas quando o Ministério Público do Trabalho vem fiscalizar as leis trabalhistas, a Contax fica quietinha, não tem coragem de chamar a PM”, protestou.

Justiça contra a Contax – A Contax é responsável pelas principais centrais de teleatendimento do Bradesco, Citibank, Itaú e Santander. Em 2014, o Ministério Público do Trabalho executou megafiscalização em unidades de São Paulo e outros seis estados. O órgão considerou a prática da terceirização ilegal e responsabilizou os bancos e empresas de telefonia por um conjunto de infrações trabalhistas que somaram R$ 300 milhões em multas e R$ 1,5 bilhão em débitos salariais.

Outra ação civil pública (nº 0029000820055020055), que corre em São Paulo, com trânsito em julgado (decisão que não cabe mais recurso), determina que Citibank e Itaú contratem diretamente os trabalhadores da Contax que executam serviços bancários, e R$ 4 bilhões de multa por não cumprimento de decisão judicial.

Com salários de cerca de R$ 900 – muito menores do que os bancários, cujo piso é de R$ 1.976,10 – e sem outros direitos, como vale-alimentação ou auxílio-creche, funcionários da Contax fazem serviços idênticos aos dos bancários para o Citibank, Santander, Itaú, Banco do Tóquio e Bradesco. É a famosa terceirização fraudulenta, que a Justiça Trabalhista ainda considera ilegal, mas que pode ser legalizada se o projeto de lei 30/2015 – defendido pelo governo Temer – for aprovado.

“A Contax pagou R$ 1 milhão e foi obrigada a acabar com a terceirização, mas a empresa está fazendo a justiça de boba, porque a prática continua em nível nacional devido a um acordo com um integrante do Ministério Público do Trabalho”, informa Carlos Damarindo. “O Sindicato já acionou a subprocuradora-geral do trabalho Sandra Lia informando sobre esse acordo vergonhoso e, no dia 12 de outubro, terá audiência com o procurador que o assinou”, acrescenta.

“Aqui falta humanidade” – Durante a paralisação, na qual os abusos e desrespeitos da Contax foram evidenciados, coincidentemente (ou não) uma moça parada em frente à porta da empresa esperava um perito da Justiça do Trabalho. Ela está processando a ex-empregadora pelo assédio moral sofrido durante os 13 meses em que trabalhou ali.

“É um lugar sujo, mal organizado, onde te desrespeitam, te humilham, te subestimam porque você está exercendo quase um subemprego. Você fica doente, dependendo da sua sensibilidade. Eu tive de sair por uma questão de saúde. Comecei a ter depressão, faço terapia até hoje. Foi o meu primeiro empego, eu era uma menina. Tinha acabado de sair do ensino médio, e aqui eu passava umas coisas que nunca imaginei que fosse passar na minha vida. É um lugar em que falta humanidade.”
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