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Rede Brasil Atual
27/10/2016
São Paulo – A relação entre a democracia, investimentos em áreas sociais, a garantia de direitos e um projeto de desenvolvimento esteve no centro do debate Ideias para um Projeto Nacional, da série Futuros do Brasil, realizado na tarde de quarta 26 no Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (CEE/Fiocruz).
O professor Luís Fernandes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e também do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, criticou a extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) pelo governo de Michel Temer, ao fundi-lo com as Comunicações, e o projeto de congelamento de investimentos em áreas estratégicas, como educação, saúde, ciência e tecnologia por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, aprovada ontem em segundo turno na Câmara.
"Cada vez mais atividades estruturadas em torno de ciência, tecnologia e inovação estão relacionadas a agregação de valor à produção econômica, que vai definir a posição que o país vai ocupar. Isso porque desde meados do século 20 o domínio da inovação tomou o lugar da industrialização na configuração da economia mundial e do conceito de desenvolvimento", disse Fernandes, que já presidiu a agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). "Daí a gravidade de esse governo ilegítimo extinguir o MCTI, rebaixando ações estratégicas, como a Agência Espacial e o CNPq, à subordinação de um único diretor. Tanto que ontem a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) divulgou nota de repúdio. Um rebaixamento."
O professor criticou ainda a PEC 241. "É a violência do Estado, que extrai riqueza da sociedade e transfere ao mercado financeiro por meio da política de juros altos, como vai ser acentuado. É a lógica espoliativa." Ele lembrou que em 2014 o volume de operações no mercado mundial de derivativos, a chamada globalização financeira, foi de US$ 1,4 quadrilhões, 15 vezes maior que o PIB mundial. "Isso ainda num contexto de crise. É o capitalismo de cassino, desvinculado da produção. A questão é que a escala das operações financeiras tem sido via dívida pública."
Soluções simplistas - Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde da Fiocruz, Carlos Grabois Gadelha destacou a falta de projeto de desenvolvimento para a sociedade brasileira, que corre o risco de adotar "soluções simplistas" com potencial destrutivo para as conquistas da última década.
"O modelo que se acentua com o atual governo, por meio de suas propostas, é recessivo, enfraquece o trabalho, quebra direitos e agrava a desindustrialização. Nessa estrutura produtiva com queda na participação do PIB não vamos mais pagar salários dignos. Está emergindo um darwinismo produtivo, com alta taxa de mortalidade das pequena empresas."
Para Gadelha, o ajuste de Temer não se presta nem como economia do lar. "Quando as finanças vão mal, a gente primeiro renegocia as dívidas com o cartão de crédito e só depois, em último caso, vai cortar gastos com saúde e educação. Mas aqui trata-se de um ajuste a serviço de uma mudança estrutural mais profunda, por isso é para vigorar por 20 anos. E esse tipo de 'darwinismo econômico' pode extinguir também a agricultura familiar e ampliar as desigualdades regionais."
27/10/2016
São Paulo – A relação entre a democracia, investimentos em áreas sociais, a garantia de direitos e um projeto de desenvolvimento esteve no centro do debate Ideias para um Projeto Nacional, da série Futuros do Brasil, realizado na tarde de quarta 26 no Centro de Estudos Estratégicos da Fundação Oswaldo Cruz (CEE/Fiocruz).
O professor Luís Fernandes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e também do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, criticou a extinção do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) pelo governo de Michel Temer, ao fundi-lo com as Comunicações, e o projeto de congelamento de investimentos em áreas estratégicas, como educação, saúde, ciência e tecnologia por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, aprovada ontem em segundo turno na Câmara.
"Cada vez mais atividades estruturadas em torno de ciência, tecnologia e inovação estão relacionadas a agregação de valor à produção econômica, que vai definir a posição que o país vai ocupar. Isso porque desde meados do século 20 o domínio da inovação tomou o lugar da industrialização na configuração da economia mundial e do conceito de desenvolvimento", disse Fernandes, que já presidiu a agência Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). "Daí a gravidade de esse governo ilegítimo extinguir o MCTI, rebaixando ações estratégicas, como a Agência Espacial e o CNPq, à subordinação de um único diretor. Tanto que ontem a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) divulgou nota de repúdio. Um rebaixamento."
O professor criticou ainda a PEC 241. "É a violência do Estado, que extrai riqueza da sociedade e transfere ao mercado financeiro por meio da política de juros altos, como vai ser acentuado. É a lógica espoliativa." Ele lembrou que em 2014 o volume de operações no mercado mundial de derivativos, a chamada globalização financeira, foi de US$ 1,4 quadrilhões, 15 vezes maior que o PIB mundial. "Isso ainda num contexto de crise. É o capitalismo de cassino, desvinculado da produção. A questão é que a escala das operações financeiras tem sido via dívida pública."
Soluções simplistas - Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Complexo Econômico-Industrial e Inovação em Saúde da Fiocruz, Carlos Grabois Gadelha destacou a falta de projeto de desenvolvimento para a sociedade brasileira, que corre o risco de adotar "soluções simplistas" com potencial destrutivo para as conquistas da última década.
"O modelo que se acentua com o atual governo, por meio de suas propostas, é recessivo, enfraquece o trabalho, quebra direitos e agrava a desindustrialização. Nessa estrutura produtiva com queda na participação do PIB não vamos mais pagar salários dignos. Está emergindo um darwinismo produtivo, com alta taxa de mortalidade das pequena empresas."
Para Gadelha, o ajuste de Temer não se presta nem como economia do lar. "Quando as finanças vão mal, a gente primeiro renegocia as dívidas com o cartão de crédito e só depois, em último caso, vai cortar gastos com saúde e educação. Mas aqui trata-se de um ajuste a serviço de uma mudança estrutural mais profunda, por isso é para vigorar por 20 anos. E esse tipo de 'darwinismo econômico' pode extinguir também a agricultura familiar e ampliar as desigualdades regionais."