São Paulo - Todo mundo reclama das metas, filhos reclamam dos pais, alunos reclamam da escola, atletas reclamam do treinador, ninguém nunca está satisfeito. Foi com frases desse tipo que os integrantes da federação dos bancos (Fenaban) receberam as demandas dos bancários sobre saúde e condições de trabalho na segunda rodada de negociação da Campanha Nacional 2012, realizada nesta quarta-feira 8.
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Os representantes dos trabalhadores apresentaram as reclamações da categoria apontadas em estudos realizados por sindicatos e universidades. E destacaram a preocupação revelada pela consulta em que mais de 12 mil trabalhadores de São Paulo, Osasco e região indicam o fim das metas abusivas, com 72%, e combate ao assédio moral, 67%, como necessidade urgente para melhorar o ambiente de trabalho. Mas para os bancos, metas não são abusivas, pelo contrário, “são desafiadoras”. E que são uma questão de gestão que está fora dos limites de atuação do movimento sindical.
“Deixamos claro que há um grande adoecimento da categoria em função das metas abusivas que desrespeitam a condição humana. Não queremos discutir gestão, posição no mercado, nada disso. Mas mudanças para que os bancários parem de adoecer”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, integrante do Comando Nacional dos Bancários, que negocia com a Fenaban.
Assédio – Ficou estabelecido na negociação que o instrumento de combate ao assédio moral deve ser mantido e aprimorado. “Essa foi uma importante conquista e no nosso Sindicato a resposta tem sido boa, com mais de 600 denúncias, muitas delas solucionadas com êxito. Mas queremos avançar. Todos os bancos têm de assinar e levar a sério. O BB não faz parte e na Caixa eles usam resposta padrão, sem solucionar os casos. É preciso diminuir, por exemplo, o prazo de resposta para os casos de reincidência e vamos voltar a debater isso”, destaca a dirigente. “Mas os bancos querem individualizar o problema, quando na verdade é um sistema que precisa ser mudado, não tem a ver com uma pessoa ou um grupo.”
Reabilitação – O Comando cobrou da Fenaban respeito ao acordo assinado em 2009, que trata do programa de reabilitação nos bancos, mas ao qual nenhuma instituição aderiu. A mesa temática de saúde tem cobrado isso, mas não houve avanços. “Hoje eles assumiram o compromisso de, até o final das negociações, dizer quem vai aderir ao programa”, relata Juvandia.
Sem nexo – Diante dos dados apresentados sobre o alto nível de adoecimento da categoria, principalmente LER e doenças mentais como depressão e estresse, os bancos contestaram o nexo entre essas enfermidades e o trabalho realizado, reconhecido inclusive pelo INSS.
Estudo feito pelo Sindicato em 2011, indica que 84% dos entrevistados relataram já ter sentido algum problema de saúde com uma frequência acima do normal – 65% deles com estresse. Mais da metade (52%) disse ter dificuldade para relaxar e estar sempre preocupado com o trabalho. Para 65% dos funcionários de agências e 52% dos de concentrações, a pressão excessiva por cumprimento de metas abusivas é um grande problema; 72% dos caixas e 63% dos gerentes declararam sofrer pressões abusivas para superar as metas abusivas, e 42% dos bancários afirmaram ter sobrecarga de trabalho.
Sem avanço – A reunião foi realizada somente na parte da manhã – em função da participação de integrantes do Comando e da Fenaban na Conferência Nacional do Trabalho e Emprego Decente. O debate de saúde que será retomado com demandas como a pausa de 10 minutos a cada jornada de 50 minutos em trabalhos e a situação dos bancários afastados por doença que, diante da demora na realização da perícia pelo INSS, ficam sem salário e sem benefício.
“Saúde é uma pauta fundamental para a categoria e vamos insistir em avançar”, afirma Juvandia, lembrando que o Comando sugeriu à Fenaban organizar um estudo conjunto para avaliar o que os bancários pensam sobre o tema – já que os bancos duvidam das informações passadas pelos sindicatos. Mas a Fenaban se negou afirmando que o setor não vai fazer pesquisa para subverter gestão dos bancos ao escrutínio dos trabalhadores. “Para eles, o movimento sindical estaria passando da linha ao querer se meter na gestão dos bancos. Mas se a meta apresenta risco para os trabalhadores e prejuízo para sociedade, temos de discutir sim”, destaca Juvandia.
Próximas – Além da pauta de saúde, que será retomada nos dias 15 e 16, estarão em debate na mesa de negociação segurança, igualdade e remuneração.
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Redação - 8/8/2012
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Apesar de bancários terem doenças mentais e LER em níveis epidêmicos, representantes da Fenaban contestam relação entre esses problemas e a pressão nos locais de trabalho
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