São Paulo – O Centro Administrativo Raposo, uma das concentrações mais importantes do Itaú, começou o quinto dia de greve nacional da categoria parado por conta da intransigência dos bancos em apresentar um reajuste salarial digno aos seus funcionários.
> Fotos: galeria do CA Raposo
A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, esteve com os bancários do local, na manhã da segunda-feira 23 e ressaltou que a responsabilidade da greve, que entrou no seu quinto dia, é dos banqueiros. “Os seis maiores bancos lucraram R$ 30 bilhões em 2013, por isso não tem cabimento propor aos trabalhadores um reajuste sem aumento real, e eles sabem que a gente não vai aceitar essa proposta”, afirmou.
“O reajuste oferecido pelos bancos foi totalmente insatisfatório. As contas e os produtos aumentaram bem mais. O meu contrato de aluguel, por exemplo, aumentou mais de R$ 100. Como que um aumento de 6% no salário vai ajudar?”, questionou outro bancário.
Castigo – Mas um aumento que contemple os anseios dos trabalhadores está longe de ser a única reivindicação dos bancários do CA Raposo. Ali, como em praticamente todos os demais centros bancários, o assédio moral e as metas abusivas que levam os lucros dos bancos a valores estratosféricos, são uma reclamação onipresente.
“As metas nos castigam demais. É muita pressão e muito assédio moral. No nosso setor a gente não pode nem atender telefone celular. Por ser uma parte de TI, acho que não precisaria ser um ambiente tão severo”, queixou-se um bancário.
Outro contou que no setor onde ele trabalha existe um sistema de pontuação para avaliar os procedimentos do atendimento ao cliente. “Se a gente desviar um pouco do padrão estabelecido, como por exemplo, falar um ´tchau´, ao invés de um ´um bom dia´, ao finalizar o atendimento, nós somos pontuados negativamente.”
Valorização – Outro trabalhador destacou que os bancos têm que valorizar para serem valorizados. “Se o profissional for valorizado, ele vai se dedicar mais à empresa e produzirá bem mais do que por meio de pressão e assédio moral.”
Outro acrescentou: “na minha opinião, uma forma de valorização é o reconhecimento profissional. Aqui existe muito ‘Quem Indica’. A meritocracia, que o recursos humanos do banco tanto gosta, pode até existir, mas o jogo de cartas marcadas é mais forte. Quando surge a oportunidade de promoção, já sabemos antes quem vai ocupar a vaga”, denuncia.
Teve empregado que mencionou a consulta Fale Francamente, que o Itaú faz saber a opinião dos funcionários sobre o ambiente de trabalho. “Só que na verdade não podemos falar francamente, pois por causa da pressão e do assédio que vivemos dentro do banco, temos medo de sermos repreendidos. Ou seja, não tem sentido essa pesquisa”, pondera.
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Terceirização – Nem só de funcionários próprios vive o CA Raposo, concentração que engloba setores operacionais, como tecnologia da informação, central de atendimento e de processamento. Dos cerca de 3 mil trabalhadores, aproximadamente mil são terceirizados. E eles também querem valorização e isonomia de direitos.
“Nós somos desvalorizados. Eles sempre arrumam um jeito de mostrar que a gente é de segunda classe, que a gente não é tão importante para o banco, que a gente é descartável, mas eu tenho colega que hoje está lá dentro, trabalhando desde a madrugada, por causa da greve. Imagina se a gente fosse importante”, ironiza a trabalhadora, que ganha cerca de mil reais e tem como único benefício vale-refeição de R$ 8.
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Rodolfo Wrolli – 23/9/2013
Linha fina
Bancários do CA Raposo paralisam atividades no quinto dia de greve para exigir proposta digna de reajustes, reconhecimento profissional e fim das metas abusivas
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