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Cortejo Afro irradia axé pelo Centro de São Paulo

Linha fina
Manifestação conscientiza população e categoria bancária sobre desigualdade racial ainda existentes na sociedade e no setor financeiro brasileiros
Imagem Destaque

São Paulo – Sexta-feira, dia de oxalá. A água da chuva que caiu sobre São Paulo no começo desta tarde não foi suficiente para esvaziar o 13º Cortejo Afro, mas, nas palavras de um integrante, lavou a alma e levou embora energias negativas.

> Fotos: galeria de fotos do Cortejo
> Vídeo: matéria especial do ato

O ato organizado pelo Sindicato integra a semana da consciência negra que reverencia Zumbi dos Palmares – símbolo da resistência e luta contra a escravidão e morto no dia 20 de novembro de 1695.

O cortejo deste ano homenageou também a ex-vereadora Claudete Alves – que instituiu a data como feriado municipal – e o orixá Ogum – que representa a guerra e as lutas que devem ser travadas para que o atual quadro de desigualdade mude, tanto na sociedade como no embranquecido setor bancário.

A secretária geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas, ressaltou que mais da metade da população brasileira (50,7%) é formada por negros (pretos e pardos), mas nos bancos, a realidade é diferente, onde apenas 19% dos funcionários pertencem à etnia.  

“É só passar por qualquer agência bancária que nós não vemos negro nenhum. Precisamos mostrar para a categoria e para sociedade que essa realidade tem de mudar, e devemos lutar para que todos sejam tratados como iguais. O nosso Sindicato não vai esmorecer enquanto não formos todos vistos e tratados como seres humanos.”

Raquel lembrou ainda que os negros, primordialmente homens jovens, são as principais vítimas de assassinato no Brasil. Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada na semana passada apontou que este segmento social representa 70% dos homicídios no país.

Orgulho e admiração – Por onde passou, o cortejo atraiu olhares admirados e orgulhosos, como os da manicure Sheyla Silva. “É muito lindo”, exclamou, enquanto dançava ao som do batuque dos Filhos de Mãe Preta, entoado pela voz da cantora Adriana Moreira. “É muito importante termos uma data para resgatar nossa história e nossa cultura. Dia 20 [de novembro] é o nosso dia”, afirmou.

O camelô angolano José Sabino observava surpreso os orixás Exu e Ogum acompanhando o ritmo do batuque e irradiando axé – que significa energia, força e poder na linguagem Yoruba – pelo centro de São Paulo. “Me lembrei da minha terra”, disse.  

Por conta da intolerância religiosa, ao contrário dos outros anos o cortejo não teve sua apoteose no interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

Para o dirigente sindical e coordenador do coletivo racial do Sindicato, Julio Cesar Santos, os negros brasileiros ainda não são totalmente livres. “São 125 anos de uma abolição inacabada. Precisamos, a cada dia, entre irmãos e irmãs, independente do tom de pele, estarmos unidos em prol de uma sociedade mais justa e mais igualitária, e que nós todos possamos nos amar como irmãos e irmãs.”

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Rodolfo Wrolli - 22/11/2013

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