São Paulo - A Caixa completou 154 anos de fundação em 12 de janeiro em meio a um debate que pode significar mudança radical em seu caráter público. Isso porque, no final de dezembro, foram veiculadas notícias de que o governo federal pretende iniciar processo de abertura de capital na instituição financeira.
O Sindicato, a Fenae (Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Federal), a Contraf-CUT, com CUT e outras centrais sindicais se contrapõem a essa medida, e enviaram ofício à presidenta Dilma Rousseff, no qual defendem a manutenção da Caixa 100% pública. Além disso, aguardam retorno à solicitação de audiência para discutir o assunto.
A presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, reforça que a medida seria um erro estratégico, destacando ser fundamental um banco 100% público, pois foi isso que ajudou o país a enfrentar a crise financeira internacional. “A instituição federal ofertou crédito que ajudou a estruturar a economia, coisa que a lógica de mercado não permite. Isso sem contar o importante papel da empresa para colocar em prática os programas do governo em todo o país”, defende a dirigente, acrescentando que a abertura de capital serviria apenas para a obtenção rápida do lucro, comprometendo a função social da empresa. ”A PLR Social que é paga aos empregados, por exemplo, é baseada a partir dos serviços da Caixa voltados ao cidadão e à sociedade.”
Jair Pedro Ferreira, presidente da Fenae, destaca que se ocorrer a oferta de ações, mesmo que a União seja majoritária, a empresa terá de se submeter às regras de mercado. “Os acionistas irão pressionar para que o resultado do banco seja cada vez maior. Isso poderá comprometer programas como o Minha Casa Minha Vida que tem juros baixos para propiciar o acesso à moradia das camadas menos favorecidas da sociedade”, defende o dirigente. “É o que ocorre hoje, por exemplo, com a Sabesp, que mudou seu caráter público a partir do momento que abriu seu capital. Os efeitos disso estão sendo sentidos agora com a escassez de água.”
O diretor executivo do Sindicato Dionísio Reis também defende a manutenção da empresa em seu formato atual. “Hoje há países da Comunidade Europeia que reconhecem que se tivessem bancos 100% públicos não estariam tão reféns do mercado e poderiam também enfrentar a crise”, diz o dirigente, reforçando que a Caixa vem cumprindo seu papel social e ainda tendo lucro.
Segundo balanços da Caixa entre 2008 e 2013, a carteira de crédito passou de R$ 80,1 bi para R$ 494,2 bi, aumento de 517%; o lucro líquido aumentou 72%, passando de R$ 3,9 bi para R$ 6,7 bi. Além disso, os programas de transferência de renda distribuíram cerca de R$ 26,5 bilhões em 2013, totalizando 181,2 milhões de benefícios pagos. O Minha Casa Minha Vida, apenas em 2013, destinou R$ 49 bilhões para a construção de 692,9 mil unidades habitacionais. Dessas, 48,8% foram destinadas aos trabalhadores com renda mensal de R$ 1,6 mil.
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“Somente o Bolsa Família pagou cerca de 159,7 milhões de benefícios ou R$ 24 bilhões, alta de 18,2% em relação a 2012. Os programas voltados ao trabalhador pagaram 169 milhões de benefícios. Que banco privado estaria voltado a esse tipo de serviço tão essencial à sociedade?”, questiona Dionísio. “Não há sentido em alterar essa política. O desempenho pode melhorar ainda mais se a Caixa aumentar o número de empregados por setor, como temos reivindicado nos últimos anos.”
Jair Rosa - 8/1/2015
(Atualizado às 18h27 de 28/1/2015)
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Abertura de capital da instituição financeira pode comprometer ações de inclusão social do banco. Representantes dos trabalhadores cobram audiência com governo federal para discutir o assunto
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