São Paulo - Os indicadores econômicos foram altamente positivos para os bolsos dos banqueiros no ano passado. Os lucros aumentaram consideravelmente mais uma vez, consequência da elevação da abertura de contas e também do volume de dinheiro emprestado. Já para os bancários, os indicadores mostram apenas mais e mais trabalho.
De acordo com os dados mais atualizados dos balanços divulgados pelos próprios bancos, o lucro total dos seis maiores do setor – Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa, Santander e Safra – foi de R$ 38,8 bilhões entre janeiro e setembro do ano passado. Valor 18,17% maior do que o mesmo período para 2010.
Os empregos, no entanto, caminham em rumo contrário. Segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2010 o saldo de contratações de trabalhadores de instituições financeiras foi de 34 mil. Em 2011, porém, caiu para 31,2 mil.
Em outras palavras, enquanto o volume de crédito subiu quase 20% e o de abertura de contas correntes apresentou aumento de até 10%, o de contratações caiu 8,14%.
Em relação ao total de trabalhadores nas instituições financeiras, as 31,2 mil contratações representam aumento de 5%, abaixo da média nacional, de 5,41%. Abaixo também em relação à extração mineral, aumento de 10%, da construção civil (8,78%) e do comércio (5,61%).
As instituições financeiras também fizeram feio na comparação com a média geral da categoria serviços, na qual estão incluídas, que ficou em 6,43%. Vale reforçar que os bancos foram os campeões de lucros nos nove primeiros meses do ano passado, tendência que não deve ver grandes alterações nos balanços finais do ano ainda a serem divulgados.
Dinheiro os bancos têm para contratar e os números comprovam. De acordo com o Dieese, somente com o que arrecadam com tarifas os bancos pagam toda a folha de pessoal e ainda sobra. A Caixa, por exemplo, paga 1,1 folha. O Santander, 1,66. Nos outros bancos, o número varia entre 1,24 e 1,39.
“Em outras palavras, atualmente os bancos nem usam tudo o que arrecadam com tarifas para pagar pessoal. E ainda arrecadam em muitas outras frentes, com juros altíssimos e aplicações no mercado financeiro, por exemplo”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. “Contratações em um ritmo maior do que o aumento do volume de trabalho não melhoraria apenas a qualidade de vida do bancário, mas também a do cliente, que receberia o atendimento devido. Também seria justo com o país, afinal a geração de empregos é uma forma de devolver à sociedade um pouco do que retiram dela”, completa a presidenta.
Vale ressaltar que a dívida está concentrada nos bancos privados, já que nos bancos públicos está havendo contratação: o Banco do Brasil está promovendo concurso e na Caixa serão pelo menos 5 mil nova vagas até o fim do ano.
Dívida social – Parte do resultado dos bancos vem dos juros cobrados nos empréstimos para famílias ou empresas. Em 2011, segundo o Banco Central, o volume superou os R$ 2 trilhões, valor 19% mais alto do que no ano anterior. Vale lembrar que em 2010 o crescimento já havia sido de 20% sobre 2009. Em relação ao PIB, o montante de crédito – que envolve trabalho do bancário – ficou em 49,1% em dezembro do ano passado, ante 45,2% em 2010.
“Fica nítido por números como esses que os bancários estão ainda mais sobrecarregados”, ressalta Juvandia. “Diante disso, e dos lucros para lá de estratosféricos, os banqueiros precisam contratar mais para aliviar a rotina dentro de agências e concentrações. Investir em contratações é valorizar os bancários, já vítimas de diversos tipos de doenças por excesso de trabalho, e toda a sociedade, a quem os bancos devem tanto.”
André Rossi - 30/1/2012
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Enquanto volume de trabalho aumenta para gerar mais ganhos, ritmo de admissões fica 8% mais lento
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