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Chapéu
NEFASTA

Fogo e corte de madeira nobre surgem como principais vilões da Amazônia e do clima

Linha fina
Estudo inédito sugere que a degradação é tão nociva quanto o desmatamento para a floresta e o equilíbrio climático. A boa notícia é que as terras indígenas são as menos degradadas
Imagem Destaque
PAULO SANTOS/2001/AMAZÔNIA SOB PRESSÃO

Quando se fala em perda da cobertura vegetal, aumento das emissões de carbono e redução de biodiversidade em toda a Floresta Amazônica, o desmatamento é apontado como a principal causa. No entanto, as atenções devem ser voltadas principalmente para a degradação causada por queimadas e o corte seletivo de árvores de maior valor econômico, responsável por 50% da redução de densidade florestal no período de 2003 a 2016.

A constatação é de cientistas, especialistas e líderes indígenas vinculados ao Woods Hole Research Center (WHRC), Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG), Fundo de Defesa Ambiental (EDF) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que participaram de estudo publicado na segunda-feira na revista Proceedings of the National Academy of Science, da Academia de Ciências dos Estados Unidos. Eles analisaram imagens de satélite combinadas com dados de campo relativos à toda a Amazônia, que se estende pelo Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa).

A novidade é preocupante. Enquanto o desmatamento por corte raso, seja por meio de correntões ou de maquinário, converte rapidamente a floresta original principalmente em pasto, a degradação consiste em um processo de longo prazo, que envolve a ocorrência de fogo acompanhado ou não da exploração madeireira insustentável, com intensidade que varia conforme as causas e os fatores envolvidos.

“Além disso, é muito mais difícil identificar a degradação por imagens de satélite”, disse à RBA o engenheiro cartográfico Cícero Cardoso Augusto, coordenador de geoprocessamento no Instituto Socioambiental (Isa), que participou do estudo, cuja continuidade terá como objeto as causas da degradação.

Ciclo do carbono

O monitoramento é fundamental para a preservação da floresta em pé e também para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. As árvores estão diretamente envolvidas no chamado ciclo do carbono. Por meio da fotossíntese, sequestram o gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera. Usam parte do gás no crescimento de galhos e folhas e enviam o restante, por meio de suas raízes, para o solo, onde serão alimentados micro-organismos responsáveis por criar complexas e estáveis formas de carbono. Caso preservado, o solo continuará armazenando carbono por centenas de milhares de anos.  Quanto menos árvores, mais gases pró-efeito estufa na atmosfera.

Na análise da dinâmica florestal do período analisado, os pesquisadores identificaram que a perda de floresta é duas vezes maior que o ganho. Em meio a tamanha degradação, os pesquisadores encontraram um dado que confirma o papel de destaque dos povos indígenas e comunidades locais na preservação da Amazônia.

“A degradação é menor em áreas naturais protegidas e terras indígenas. Não significa que estão intactas, 100%. Mas a densidade de florestas é maior em comparação com as demais áreas, onde a perda de floresta é mais evidente, com solo  exposto. Então praticamente não tem carbono aí, ao contrário do que acontece nos territórios indígenas e comunidades locais”, disse Augusto, ressaltando a importância das terras indígenas e áreas protegidas para o cumprimento de metas climáticas.

Para o cientista, o estudo alerta governos para a adoção de políticas de controle e combate à degradação. “Outro aspecto, que vale tanto para o desmatamento como para a degradação, é pensar a Amazônia como um sistema integral para toda a região, para além das barreiras políticas. Depende de uma coordenação dos países amazônicos o combate a ambas para a preservação dos estoques de carbono que são tao importantes para a questão climática”, disse.

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