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Bancários do HSBC relatam vergonha com denúncias

Linha fina
Documentos revelam que banco ajudou a sonegar impostos e a lavar dinheiro de origem criminosa; bancária afirma ter sido demitida depois de revelar desvios
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São Paulo – As recentes notícias sobre o vazamento de cerca de 30 mil contas do HSBC na Suíça totalizando US$ 120 bilhões de dólares em depósitos por clientes criminosos e sonegadores deixaram os trabalhadores do banco britânico perplexos.  Entre os correntistas estão ditadores, supostos traficantes de armas e de drogas, facínoras de guerra além de esportistas, artistas e bilionários de diferentes nacionalidades.

De acordo com a lista, os 8.867 clientes brasileiros revelados pelo que ficou conhecido como Swissleaks possuem no banco US$ 7 bilhões em dinheiro suspeito, fazendo do Brasil o nono país com mais dinheiro no HSBC da Suíça e o quarto, em número de clientes. As informações foram divulgadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICGI, na sigla em inglês) menos de dois anos após a instituição britânica ter assumido a culpa por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas mexicano e colombiano, além de organizações ligadas ao terrorismo.

Apesar do interesse público despertado pelo tema, o único jornalista brasileiro que participa do ICGI, Fernando Rodrigues, do UOL, vem recusando-se a divulgar a lista completa. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, questiona o silêncio da mídia tradicional sobre negócios ilícitos que envolvem HSBC e milionários brasileiros. Para o filósofo, a elite rentista é blindada no Brasil pela mídia e por políticos. Ouça a entrevista

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“É vergonhoso para a gente. Trabalhamos em uma instituição tão grande e conhecida no mundo inteiro. É deprimente”, afirma uma funcionária do banco há mais de 12 anos. “Estamos assustados, porque devemos ser honestos em uma empresa com um nome tão forte, e agora estoura um negócio desses. Me sinto envergonhada”, reforça outra trabalhadora.

Mas a honestidade parece não ser o padrão no HSBC. Uma ex-funcionária com mais de 20 anos de banco relata ter sido demitida após denunciar irregularidades aos seus superiores. “Tenho comprovantes de contas com saldo de R$ 10 reais e CDB com quase R$ 500 mil, conta de microempresa com faturamento de mais de R$ 500 mil, contas para as quais foram feitos empréstimos que nunca foram pagos. Se investigarem com seriedade o HSBC aqui no Brasil vão achar muita, mas muita coisa”, afirma. “Se você for honesto, trabalhar direito no banco, mas não bater de frente, vai estar tudo certo, mas quem denuncia e combate os desvios está na rua”, acrescenta.

O documento sobre as contas suíças, de acordo com o ICGI, joga luz sobre a ligação entre negócios considerados lícitos e o crime organizado, além de ampliar suspeitas sobre o comportamento ético de um gigante do setor financeiro internacional. O período coberto pelas informações reveladas vai de 1997 a 2007.

“Os bancários são obrigados diariamente a fazer inúmeras contas, ler as normas do banco para prevenir lavagem de dinheiro e outras fraudes, são constrangidos constantemente para seguir essas normas”, ressalta o diretor do Sindicato Luciano Ramos da Silva. “Esse vazamento prova que quem comete desvios não são os bancários e sim gente graúda do banco. Por isso fica essa indignação: quem não tem cargo de diretoria faz tudo direitinho e só vê coisa errada sobre o banco no noticiário”, afirma.

Histórico marginal – Os negócios sujos estão na origem do HKSC, depois transformado em HSBC (Hong Kong and Shangai Bank Corporation). O banco foi fundado na segunda metade do século XIX para financiar o tráfico de ópio na China. Naquela época, grandes fatias do país asiático estavam sob domínio de países europeus, dentre eles o Reino Unido, que travou guerras contra o governo local para garantir o lucrativo comércio da droga no mercado chinês.

De acordo com Vladimir Safatle, o HSBC adquiriu o status de um dos maiores conglomerados financeiros do mundo a partir dos anos 70 do século passado, por meio da compra de corporações nos Estados Unidos e no Reino Unido.

“Sua expansão deu-se, em larga medida, por meio da aquisição de bancos conhecidos por envolvimento em negócios ilícitos, entre eles o Republic New York Corporation, de propriedade do banqueiro brasileiro Edmond Safra, morto em circunstâncias misteriosas em seu apartamento monegasco”, escreveu em artigo na Carta Capital.

No Brasil começou a operar em 1997, após comprar o falido Bamerindus – apenas a parte boa, as dívidas ficaram à custa do Estado brasileiro. Atualmente tem 270 mil funcionários e atua em mais de 80 países.


Rodolfo Wrolli – 19/2/2015
Atualizada às 13h39 de 20/2/2015
 
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