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Metrô: deputados pedem inquérito sobre publicidade

Linha fina
Marcolino e Alencar denunciaram propaganda machista à Promotoria de Justiça e Direito Humanos. Spot de rádio fala que trem lotado é bom pra “xavecar” mulheres
Imagem Destaque

São Paulo – Os deputados estaduais petistas Luiz Claudio Marcolino e Alencar Santana protocolaram na Promotoria de Justiça e Direitos Humanos representação contra o secretário Edson Aparecido, da Casa Civil, contra o diretor presidente da CPTM, Mário Manoel Seabra, e contra o diretor presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco. O motivo foi a propaganda sexista do governo de São Paulo veiculada na Rádio Transamérica.

Na propaganda sobre o sistema metroviário, o personagem “Gavião” afirma que vagões lotados, comuns durante os horários de pico, são “bons para xavecar a mulherada”. O spot foi veiculado apenas algumas semanas depois de ganhar corpo na imprensa denúncias de assédio sexual contra mulheres no Metrô e na CPTM. De acordo com a Delegacia do Metropolitano, ao menos 23 pessoas foram vítimas de abusos nos trens e metrôs da Grande São Paulo em 2014. As práticas costumam ocorrer justamente em vagões lotados. A propaganda foi suspensa.

Na representação, entregue ao promotor Luiz Roberto Cigogna Faggioni, os parlamentares ponderam que não bastasse o sofrimento vivenciado por homens e mulheres no transporte coletivo oferecido pelo governo de São Paulo, e dos casos de violência sexual sofridos pelas mulheres, o executivo estadual ainda promove uma campanha publicitária que em nada contribui para a mudança desse estado de coisas e reforça a cultura machista.

“O governo de São Paulo, na contramão da história e insensível ao cotidiano enfrentado pelas mulheres que utilizam desse transporte, e que são vítimas de crimes sexuais, veiculou propaganda institucional que faz verdadeira apologia e incitação ao crime. Conclui-se então que o trem lotado é um ambiente que favorece o “xaveco”, a “cantada”? Então o governo do Estado se posiciona contra as mulheres que têm o direito de não serem importunadas no seu trajeto e se posiciona a favor dos abusos cometidos nos trens do Metrô e da CPTM?,” indagam os deputados.

Marcolino e Alencar pedem ainda a instauração de inquérito para apuração das responsabilidades civis e administrativas; a imediata suspensão da propaganda; e a adoção de providências para compelir o governo do Estado a promover propaganda educativa de promoção dos direitos das mulheres.

Spot – “Nos horários de pico, é normal trem e metrô ficar lotado. É assim também nas grandes metrópoles espalhadas pelo mundo”, diz o personagem Gavião. Além de promover o conformismo dos passageiros com a superlotação, o narrador ainda comemora o aperto diário nos vagões. “Pra falar a verdade, até gosto do trem lotado. É bom pra xavecar a mulherada, né, mano? Foi assim que eu conheci a Giscreusa.”

Jogo de empurra – À reportagem da Rede Brasil Atual, a assessoria de imprensa da CPTM afirmou que não tem qualquer responsabilidade sobre o spot publicitário, e afirmou que o conteúdo foi preparado pelo Metrô. O Metrô admitiu, em nota, que o conteúdo da propaganda é “totalmente inapropriado” e colocou a responsabilidade por sua veiculação sobre a Rádio Transamérica.

“Assim que tomou conhecimento do referido comercial, totalmente inapropriado, o Metrô consultou a agência responsável pela publicidade e foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o briefing passado como também não fora aprovado – nem pela agência tampouco pelo Metrô.” O Metrô diz ainda que advertiu a Rádio Transamérica, que então “tirou o comercial do ar e informou que a produção desse infeliz comercial é de sua inteira responsabilidade”.

Procurada pela RBA, a assessoria de imprensa da Rádio Transamérica afirmou que está “apurando responsabilidades” sobre a veiculação da propaganda com seus próprios funcionários e com a agência de publicidade que intermediou a relação entre a emissora e o governo do estado. Por isso, não comentou as acusações do Metrô.

Contudo, a Transamérica argumentou que o personagem Gavião, narrador do spot, é caricato e humorístico. “O testemunhal amplamente apontado tem o exclusivo intuito de entreter e divertir o público.” Em nota, disse ainda que “em nenhum momento o texto incentiva atitudes lascivas, pois de forma alguma faz qualquer alusão a qualquer tipo de violência ou abuso sexual”.

Ao empregar o termo “xavecar a mulherada”, continua o texto, o personagem “se refere única e exclusivamente à paquera, conduta lícita que acontece naturalmente em qualquer lugar com grande circulação de pessoas”. Por fim, a rádio lamenta que o spot tenha sido veiculado concomitantemente com as ocorrências de abusos sexuais e atentados ao pudor ocorridos no transporte público, “fato absolutamente condenável com o qual a emissora jamais seria complacente”.

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Rede Brasil Atual com edição da Redação – 26/3/2014

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