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Brasília – Críticas à escolha dos novos ministros e às recentes medidas do governo, ponderações de que é preciso entender o modelo que as entidades sociais optaram por apoiar para o país nas últimas eleições e alertas para que as reclamações ao modelo econômico adotado sejam discutidas de forma construtiva e democrática. Estes foram os destaques principais da primeira mesa de debates do seminário que está sendo promovido pela CUT, quarta-feira 4, no Senado.
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Representantes dos movimentos sociais ponderaram que o momento é delicado para o país e pontuaram as insatisfações de várias entidades, mas deixaram claro que a discussão precisa ser feita com “amadurecimento”. O economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), disse que o Brasil vive atualmente uma fase de falência do seu sistema político. Segundo ele, a economia brasileira não está diante de uma catástrofe, mas corre o risco de entrar em crise, motivo pelo qual estão sendo observadas as medidas de ajuste. “No fundo, a questão primordial é política, dos rumos a serem tomados daqui por diante”, afirmou.
Para Pochmann, o sindicalismo no Brasil é amadurecido e tem condições de fazer um debate democrático sobre estas questões. “Devemos lembrar as bandeiras que têm sido levantadas desde 2002 e deixar claro que não vamos deixar que sejam derrubadas tão rapidamente, mas isso tem que acontecer no campo das negociações.”
"Bola nas costas" - O representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alexandre Conceição, por sua vez, disse que as entidades sociais e em especial o movimento, “tomou muita bola nas costas” do governo Dilma. “Votamos na presidenta Dilma esperando por mudanças que ainda não saíram. Tomamos bola nas costas e continuamos tomando, mas fizemos a opção de estar aqui porque sabemos que o contrário, que seria ter votado no PSDB, significaria para nós retornar à época de massacres de agricultores como o de Eldorado dos Carajás”, disse em meio a aplausos.
Conceição criticou quatro ministros nomeados pela presidenta neste seu segundo governo: Joaquim Levy (Fazenda), Kátia Abreu (Agricultura), Isabella Teixeira (Meio Ambiente) e Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia). Sobre Levy, lembrou das medidas de ajuste fiscal e o modelo defendido por ele. Sobre Kátia Abreu, destacou que o MST só espera da ministra o apoio ao latifúndio e a redução de políticas de combate ao trabalho escravo.
Em relação a Isabella Teixeira, afirmou que a ministra tem se firmado em fazer os agricultores aguardarem entre quatro a cinco anos para conseguir uma autorização ambiental, quando para atender aos projetos do agronegócio o mesmo tipo de autorização demora poucos dias. Quanto a Aldo Rebelo, ressaltou o fato do ministro ter solicitado, recentemente, avaliação para que sejam liberados cinco produtos transgênicos.
"Briga grande" - Em contrapartida, o representante do MST elogiou a postura do ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), que tem feito no governo, segundo ele, o debate sobre a função social da terra e a propriedade. “O ministro tem uma briga grande pela frente, diante de tantos colegas oponentes à ideia, mas poderá contar conosco nesta luta. Faremos nossa parte a partir das mobilizações que estão sendo programadas”, frisou.
Alexandre Conceição enfatizou ainda que a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) tem tentado ditar regras sobre a formação de cooperativas e diretrizes para o campo e a expectativa dos agricultores é de que, com a entrada no ministério de Kátia Abreu, que também é presidente da entidade, essa linha de diretriz a partir das propostas da confederação fique ainda mais forte. “Classe média rural uma ova, nos somos é a classe trabalhadora do Brasil”, afirmou, numa referência ao estudos da CNA se referirem dessa forma aos trabalhadores do campo.
O economista Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, abordou a grande capacidade dos movimentos sociais de bater no governo, o que tem sido observado em diversas ocasiões nos últimos meses. Ele alertou para uma postura mais equilibrada destas entidades, caso estas se coloquem numa estratégia extrema.
"Estamos quase na antessala do movimento ‘Fora Dilma’, batendo cabeça", diz Clemente. "E neste período não é o caso de ficarmos batendo cabeça, e sim de avaliar o momento político, o que representa para nós este governo, que chegou ao poder em 2002 por um representante legítimo dos trabalhadores, conseguiu se reeleger, elegeu sua sucessora que se reelegeu agora”, salientou, ao lembrar que “a luta tem que vir incrementada com um sentido estratégico de negociação”.
À noite, a CUT realizou um ato para marcar o lançamento do seu 12º congresso nacional, previsto para 13 a 16 de outubro, em São Paulo.
Hylda Cavalcanti, Rede Brasil Atual - 5/3/2015