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Luta contra apartheid de Israel é pela humanidade

Linha fina
Quem afirma é Afirmou Javier Solana, da Organização para a Libertação da Palestina, para delegação brasileira que contou com a participação da CUT
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Ramallah - “Lutar contra o apartheid de Israel é lutar pela Humanidade, pelos direitos humanos e contra a violação sistemática do direito internacional. A presença de vocês aqui representa um forte estímulo à resistência popular contra a ocupação”, afirmou Javier Abu Solana, assessor do negociador chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), durante reunião com a delegação brasileira nesta quinta-feira 2 em Ramallah.

Solana lembrou que, comprometida com a Justiça, a Autoridade Nacional Palestina entrou na Corte Penal Internacional para que o governo israelense seja julgado pelos crimes de guerra praticados cotidianamente nos territórios ocupados. A decisão se fortaleceu depois do assassinato em massa ocorrido após o bombardeio por terra, ar e mar contra a população civil de Gaza. “Estamos cansados da cultura da impunidade e de declarações que não têm qualquer repercussão prática na vida das pessoas. Nos fortalecemos quando vemos a bandeira palestina tremulando em manifestações em Tóquio, nos EUA, no Brasil, o que amplia a pressão sobre os governos para que parem de comercializar com Israel enquanto durar a ocupação”, frisou.

Elogiando a campanha do movimento internacional por Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), o representante da OLP frisou que a iniciativa teve papel chave na luta contra o regime de segregação racial na África do Sul. Neste momento, a crescente rejeição a produtos israelenses fez com que o país começasse a maquiar a etiquetagem com outras procedências, a fim de evitar a retaliação. Ainda assim, denunciou, “há países que continuam comprando até armamento de Israel, que transformou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia em prisões a céu aberto e que mantêm Gaza sob um bloqueio criminoso”. “Infelizmente a Europa, que é a principal parceira comercial de Israel, reflete a respeito do Holocausto, mas não sobre a vítima das vítimas”, condenou Solana. O Brasil é o quinto principal importador de armas de Israel.

Sem entrar no mérito do conflito na Criméia - envolvendo o governo da Ucrânia e a Rússia - o representante da OLP lembrou que quando interessou às grandes potências, rapidamente a ONU adotou uma política de sanções. “Em um mês todos os produtos já haviam sido boicotados. No nosso caso, levamos 47 anos sem que tenha sido adotada uma única sanção contra o regime de apartheid de Israel.  Isso é ou não é uma política de dois pesos e duas medidas?”, questionou.

Destacando que o Brasil tem tido historicamente uma postura exemplar em relação ao direito humanitário, Solana rechaçou os ataques feitos pelos sionistas à conduta brasileira de reconhecimento do Estado palestino. Ele recordou que foi um brasileiro, Oswaldo Aranha, quem foi o responsável pela criação do Estado de Israel.

Condenando a manipulação das principais agências internacionais de notícias e dos grandes meios de comunicação, o representante da OLP disse desconhecer um único correspondente brasileiro na Palestina: “Todos vivem em Tel Aviv, encantados com Israel”. Exemplificando a grosseira parcialidade da cobertura da agressão a Gaza,  Solana denunciou que “enquanto mostravam o trauma das crianças israelenses com as sirenes de alerta, diante da possibilidade de ataques, a morte de palestinos passava desapercebida”.

Boicote - Um dos fundadores do movimento BDS, o médico e deputado palestino Mustafa Barghouti acredita que é por meio do crescente isolamento internacional do sionismo, conjugado com a asfixia econômica das suas empresas, que seu país será livre. Na prática, algo semelhante ao que aconteceu na derrubada do apartheid na África do Sul.

“Hoje temos a Cisjordânia dividida em áreas A, B e C. Na A, que compreende cerca de 17%, supostamente a Autoridade Nacional Palestina teria controle total. Mas desde 2002, Israel passou a invadir, não existindo qualquer autonomia. Na B, equivalente a 20%, onde haveria o controle administrativo palestino e militar israelense são 225 ilhas, atravessadas por assentamentos e todo tipo de restrições. E na área C, que corresponde a 60% da Cisjordânia, Israel tem controle total, a Palestina não tem autoridade civil muito menos militar. Esta lógica serve apenas para a extensão dos assentamentos, a partir da fragmentação do território palestino”, declarou Barghoti.

Como se isso não bastasse, sublinhou o líder palestino, “Israel mantém 120 assentamentos ilegais” e “bases militares as quais ninguém tem acesso”, “além do muro da segregação, com 850 quilômetros, três vezes mais longo e duas vezes mais alto que o muro de Berlim”. Segundo Barghouti, o racismo fica evidenciado nas “estradas da segregação”, uma malha rodoviária exclusiva para os colonos – dentro do território palestino - nas quais os palestinos não podem circular, sob pena de seis meses de prisão. Para complicar ainda mais o trajeto dos não-israelenses, abundam os check points (mais de 500 fixos e outro tanto em pontos surpresa. Sentimos na pele o que isso significa ao não poder entrar em Ramalah, sendo obrigados a trocar um trajeto de cinco minutos por um outro de 45 minutos.

Os exemplos, infelizmente, são abundantes: “enquanto os palestinos consomem 50 metros cúbicos de água por mês, os israelenses consomem 2400 metros cúbicos de água por mês, 48 vezes mais. Enquanto o PIB per capita em Israel é de US$ 34 mil, na Palestina é de US$ 1.400 e em Gaza de apenas US$ 800. Além disso, os palestinos têm de pagar o dobro do preço pela água e pela eletricidade”.

Na avaliação de Barghouti, “a luta de resistência popular se fortalece com o BDS” ao mesmo tempo em que estimula a unidade interna para ajudar as pessoas a permanecerem na terra – a fim de que não sejam apropriadas indevidamente pelo Estado sionista. “Temos claro que a Palestina não pode resistir sozinha e que países como o Brasil, a África do Sul e Índia são importantes. Não podemos aceitar que se fechem acordos de livre comércio com Israel, pois isso significa financiar a ocupação”, concluiu. 


Leonardo Severo e Luiz Carvalho, da CUT, com edição da Redação - 6/4/2015

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