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Bancários debatem estratégia para ação sindical

Linha fina
Seminário promovido pela Confederação do Ramo Financeiro, reúne representantes de trabalhadores de todo o Brasil para falar dos rumos da categoria nacional e internacionalmente
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São Paulo – Olhar para o trabalho bancário no presente e no futuro, no Brasil e no mundo, e a interação com as mudanças por que passa toda a sociedade. Assim estão organizados os temas do Seminário Nacional de Estratégia do Ramo Financeiro, promovido pela confederação de trabalhadores do setor, a Contraf-CUT.

Iniciado na noite de quarta-feira 20 – com a participação do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas – o evento segue até a sexta 22, em São Paulo.

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A palestra Retrato da Categoria Bancária e Estratégia da Política Internacional abriu os trabalhos na quarta-feira. André Luís Rodrigues, dirigente sindical bancário na UNI Américas – braço continental da UNI Sindicato Global –, falou sobre o papel dessas entidades no lobby de pressão internacional, na negociação com empresas, e participando de greves principalmente de sindicatos mais fracos, “nos quais a participação da UNI é estratégica”.

André lembrou que há dois tipos de sindicatos. Os nacionais e os que se organizam de forma nacional. “Colômbia, Uruguai e Argentina, por exemplo, contam com sindicatos de âmbito nacional, mas fecham acordos por empresa. Em outros países, ainda, os sindicatos são por empresa, o que é muito ruim para os trabalhadores, enfraquece a organização, desmobiliza. Negociações por empresa devem ser tratadas como aditivos às convenções coletivas.”

E lembrou que por todo o mundo existem iniciativas de desregulamentação paralela dos direitos trabalhistas. “Seria algo como não desmontar a CLT diretamente, mas descaracterizar tanto que esfacela”, afirmou. Semelhante ao que vem acontecendo no Brasil com o projeto de lei da terceirização que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e agora tramita no Senado.

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O dirigente relatou que empresas multinacionais latino-americanas estão implementando a mesma lógica das grandes empresas norte-americanas e européias. Lembrou as lojas de departamentos chilenas que atuam como bancos que não respeitam direitos e reprimem duramente trabalhadores. “É uma lógica global das empresas multinacionais muito forte no setor de serviços.”

Mario Raia, secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, destacou a importância dessa atuação internacioal para os trabalhadores. “A Contraf faz parte do comitê mundial da UNI Finanças, UNI Américas, UNI Mulheres e promove um trabalho importante na organização dos trabalhadores americanos, com a CWA.”

Terceirização desmobiliza – Os números apresentados pela economista Regina Camargos, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, reforçaram um dos principais objetivos da terceirização almejada pelo empresariado.

Os bancários, que mantêm há mais de 20 anos uma das mais fortes e importantes Convenções Coletivas de Trabalho, em nível nacional, contam com uma taxa média de sindicalização de quase 40% (39,6%), ou cerca de 200 mil trabalhadores associados aos sindicatos. A taxa média na economia brasileira é de 18%, e o patamar onde estão os estão só empregados de atividades auxiliares do setor, os terceirizados, fica em 16,1%. “Isso reforça o estrago para a organização e mobilização do setor que pode ser promovido com o PL da terceirização”, comentou.

A economista relatou, ainda, participação em um debate na FEA-USP (Faculdade de Economia e Administração) sobre terceirização, promovidos por estudantes preocupados com seus empregos futuros. “Um economista da Fiesp disse: 'se não fossem os bancários, esse projeto (da terceirização) já teria passado'. É uma categoria mobilizada, organizada de forma nacional, que pode resistir.”

Regina mostrou, ainda, que vem caindo a diferença entre a quantidade de bancários em instituições públicas e privadas – o número de profissionais cresce devido às contratações dos públicos, principalmente e praticamente divididos igualmente entre esses segmentos. O ano de 2014 deve ter fechado com em torno de 506 mil bancários no Brasil.

A diferença na quantidade de trabalhadores por sexo caiu: de 54% de homens e 46% de mulheres em 2004, para 51% a 49% em 2013, respectivamente. Apesar disso, a diferença da remuneração média entre homens e mulheres pouco se alterou de 26% para 23%.

A remuneração média subiu mais nos bancos públicos, com o papel que assumiu na economia brasileira nos últimos anos: de R$ 5.335 em 2004 para R$ 6.289 em 2013. Nos privados, a evolução foi menor: de R$ 4.895 para R$ 5.176. Os sucessivos aumentos reais conquistados ao longo dos últimos anos ajudaram a puxar toda a curva salarial para cima: 18% de ganho real entre 2004 e 2013. Nos bancos públicos, esses ganhos na remuneração média ficou em 17%, nos privados em 9%, devido à política de demissão para rebaixar salários. Isso baixou a média do setor para 14%.

Ação sindical – O presidente da Contraf-CUT, Roberto Von Der Osten, falou sobre a importância de representar o ramo financeiro, na palestra que tratou das Diretrizes da Ação Sindical. “Temos uma centena de sindicatos de bancários, mas e os securitários e as novas categorias no sistema financeiro, como correspondentes bancários, banco postal, lotéricas, securitários, cooperativas de crédito, financiários, promotores de vendas.” Lembrou ainda dos profissionais liberais como advogados, engenheiros, arquitetos, e os de limpeza e conservação, segurança, transporte de valores, primeiros a passarem pelo processo de terceirização.

Essa transformação nos locais de trabalho também foi referendada pelo secretário-geral da CUT, Sérgio Nobre. “Setores precisam se juntar para enfrentar essa realidade, com a criação do macro setor. Construir agenda comum em relação às reivindicações. No caso dos bancários seria o macro setor de comércio, serviço e logística. A tecnologia vai impactar cada vez mais o trabalho. Temos de pensar o futuro. Não podemos apenas resolver um problema , mas pensar em como avançar futuramente.”


Cláudia Motta - 21/5/2015
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