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São Paulo – Os intelectuais que participaram na terça 21 da mesa de abertura do seminário "Trabalho e Educação no Desenvolvimento da Cidade de São Paulo", promovido pela Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo da cidade, não conseguiram controlar o ímpeto de criticar o governo interino de Michel Temer. “Há uma situação complicada desse governo interino e ilegítimo, mas isso não significa que não se deva continuar a pensar em políticas municipais, apesar da situação esdrúxula que estamos vivendo. Não é porque o governo federal não tem um projeto de desenvolvimento que não devemos ter políticas locais”, afirmou a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Marcia de Paula Leite.
“Temos um circo lá em cima, temos de assistir a um bando de pilantras. Os grupos financeiros e os planos de saúde estão nesse processo”, disse o professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Ladislau Dowbor, identificando a prevalência dos interesses do setor financeiro e o ataque aos investimentos em saúde pública como duas das frentes do governo interino que quer dobrar o país a uma rigidez fiscal que rompe com princípios constitucionais. Logo depois, Dowbor desabafou: “Estou com o saco na lua. O Jornal Nacional faz mal à saúde, se ele aparece na tevê eu quero sair fora, o impacto desse governo à saúde ainda será calculado”.
“Por que há tanto interesse em que o Brasil se insira nas cadeias globais de maneira subalterna”, indagou o secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, Artur Henrique, ao criticar a política adotada pelo ministro interino das Relações Exteriores, José Serra, que ao assumir a pasta deu uma virada na política criada por Lula e mantida por Dilma de valorizar o protagonismo no país. Serra tem sido sistematicamente relacionado à quebra da soberania do país, com projeto de sua autoria que tira exclusividade da Petrobras na exploração do pré-sal. Suas declarações também questionam o papel do país no Mercosul e nos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para criar alternativas aos organismos multilaterais de financiamento, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A pesquisadora da Unicamp disse também que a Operação Lava Jato, a despeito de combater a corrupção no país, representa do ponto de vista econômico a interrupção de um processo que começou com o primeiro governo Lula em 2003, de criar oportunidades de desenvolvimento em setores estratégicos, como os de construção civil, engenharia naval e de petróleo e gás. Esse processo, segundo lembrou, foi uma forma de retomar a economia do país, depois que nos anos 1990 várias cadeias produtivas foram desmontadas, como a do setor de autopeças, em nome da globalização. “Esse processo de 2003 foi interrompido com a Lava Jato e com o golpe e agora não sabemos o que vai acontecer”, afirmou. “O responsável pelo submarino nuclear brasileiro está preso”, disse ainda a professora, referindo-se a Marcelo Odebrecht, cuja empresa também atuava no projeto lançado por Lula de criar a tecnologia voltada à soberania do país.
Mudanças nos modelos de produção - Ao falar sobre trabalho e educação no desenvolvimento da cidade, o tema central do seminário, a professora da Unicamp disse que essa relação se dá desde os primórdios do capitalismo. Marcia fez uma retrospectiva histórica do tema, considerando o advento do taylorismo e do fordismo, que no início do século 20 instituíram novas formas de organização do trabalho, voltadas à produtividade. Mas ela também mostrou o lado perverso desses modelos, que consistem sobretudo em não necessitar mais que o trabalhador tenha conhecimento, mas apenas exigem funções específicas e limitadas, como a de apertar parafusos em uma linha de montagem. “Fragmentaram o trabalho de forma que cada trabalhador faz uma parcela muito pequena (do processo) e a empresa produz mais”, disse, explicando em seguida que essa forma significou desqualificação da mão de obra.
O modelo da linha de montagem, no entanto, começou a entrar em decadência nos anos 1970, quando começou a emergir um novo modelo, com base na globalização da economia e das possibilidades tecnológicas dadas pela microeletrônica. Ela disse também que esse processo é marcado pela financeirização da economia e que todos esses fatores convergem para hegemonia do capital financeiro, o que estamos assistindo hoje em todo o mundo. “A globalização e a financeirização não são determinados pelo avanço tecnológico, que é apenas um facilitador; o que está em questão nesse caso também é a luta de classes”, disse. Mas ela também reconheceu ao mesmo tempo que a tecnologia resgata a possibilidade de o trabalho ser novamente qualificado, como acontecia antes do taylorismo e do fordismo, e essa é uma das razões pelas quais a civilização vive hoje uma era de conhecimento.
Já o professor da PUC-SP disse que não só a crise pela qual passa o país, mas todo o contexto político mundial mostra hoje que os cidadãos devem e precisam se apropriar da política. Ele cita como exemplo o caso da Suécia, que é um modelo inspirador. “A Suécia tem 50% de carga tributária (o que é maior do que no Brasil), mas 72% dos recursos públicos são aplicados nas cidades”, diz, enquanto no Brasil as cidades ficam com 15% de toda a arrecadação. Mais do que mera diferença de números, o fato de o grosso dos recursos serem aplicados nas cidades faz com que o cidadão viva uma democracia “de rédea curta”, descentralizada, em que o a pessoa se envolve com a política para tratar de questões bem próximas, no âmbito da cidade, como por exemplo participar de reunião para tratar de investimentos na escola pública de seus filhos. Isso, segundo Dowbor, facilita e fortalece a atuação dos movimentos comunitários.
Helder Lima, da Rede Brasil Atual - 21/6/2016
“Temos um circo lá em cima, temos de assistir a um bando de pilantras. Os grupos financeiros e os planos de saúde estão nesse processo”, disse o professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Ladislau Dowbor, identificando a prevalência dos interesses do setor financeiro e o ataque aos investimentos em saúde pública como duas das frentes do governo interino que quer dobrar o país a uma rigidez fiscal que rompe com princípios constitucionais. Logo depois, Dowbor desabafou: “Estou com o saco na lua. O Jornal Nacional faz mal à saúde, se ele aparece na tevê eu quero sair fora, o impacto desse governo à saúde ainda será calculado”.
“Por que há tanto interesse em que o Brasil se insira nas cadeias globais de maneira subalterna”, indagou o secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo, Artur Henrique, ao criticar a política adotada pelo ministro interino das Relações Exteriores, José Serra, que ao assumir a pasta deu uma virada na política criada por Lula e mantida por Dilma de valorizar o protagonismo no país. Serra tem sido sistematicamente relacionado à quebra da soberania do país, com projeto de sua autoria que tira exclusividade da Petrobras na exploração do pré-sal. Suas declarações também questionam o papel do país no Mercosul e nos Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para criar alternativas aos organismos multilaterais de financiamento, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A pesquisadora da Unicamp disse também que a Operação Lava Jato, a despeito de combater a corrupção no país, representa do ponto de vista econômico a interrupção de um processo que começou com o primeiro governo Lula em 2003, de criar oportunidades de desenvolvimento em setores estratégicos, como os de construção civil, engenharia naval e de petróleo e gás. Esse processo, segundo lembrou, foi uma forma de retomar a economia do país, depois que nos anos 1990 várias cadeias produtivas foram desmontadas, como a do setor de autopeças, em nome da globalização. “Esse processo de 2003 foi interrompido com a Lava Jato e com o golpe e agora não sabemos o que vai acontecer”, afirmou. “O responsável pelo submarino nuclear brasileiro está preso”, disse ainda a professora, referindo-se a Marcelo Odebrecht, cuja empresa também atuava no projeto lançado por Lula de criar a tecnologia voltada à soberania do país.
Mudanças nos modelos de produção - Ao falar sobre trabalho e educação no desenvolvimento da cidade, o tema central do seminário, a professora da Unicamp disse que essa relação se dá desde os primórdios do capitalismo. Marcia fez uma retrospectiva histórica do tema, considerando o advento do taylorismo e do fordismo, que no início do século 20 instituíram novas formas de organização do trabalho, voltadas à produtividade. Mas ela também mostrou o lado perverso desses modelos, que consistem sobretudo em não necessitar mais que o trabalhador tenha conhecimento, mas apenas exigem funções específicas e limitadas, como a de apertar parafusos em uma linha de montagem. “Fragmentaram o trabalho de forma que cada trabalhador faz uma parcela muito pequena (do processo) e a empresa produz mais”, disse, explicando em seguida que essa forma significou desqualificação da mão de obra.
O modelo da linha de montagem, no entanto, começou a entrar em decadência nos anos 1970, quando começou a emergir um novo modelo, com base na globalização da economia e das possibilidades tecnológicas dadas pela microeletrônica. Ela disse também que esse processo é marcado pela financeirização da economia e que todos esses fatores convergem para hegemonia do capital financeiro, o que estamos assistindo hoje em todo o mundo. “A globalização e a financeirização não são determinados pelo avanço tecnológico, que é apenas um facilitador; o que está em questão nesse caso também é a luta de classes”, disse. Mas ela também reconheceu ao mesmo tempo que a tecnologia resgata a possibilidade de o trabalho ser novamente qualificado, como acontecia antes do taylorismo e do fordismo, e essa é uma das razões pelas quais a civilização vive hoje uma era de conhecimento.
Já o professor da PUC-SP disse que não só a crise pela qual passa o país, mas todo o contexto político mundial mostra hoje que os cidadãos devem e precisam se apropriar da política. Ele cita como exemplo o caso da Suécia, que é um modelo inspirador. “A Suécia tem 50% de carga tributária (o que é maior do que no Brasil), mas 72% dos recursos públicos são aplicados nas cidades”, diz, enquanto no Brasil as cidades ficam com 15% de toda a arrecadação. Mais do que mera diferença de números, o fato de o grosso dos recursos serem aplicados nas cidades faz com que o cidadão viva uma democracia “de rédea curta”, descentralizada, em que o a pessoa se envolve com a política para tratar de questões bem próximas, no âmbito da cidade, como por exemplo participar de reunião para tratar de investimentos na escola pública de seus filhos. Isso, segundo Dowbor, facilita e fortalece a atuação dos movimentos comunitários.
Helder Lima, da Rede Brasil Atual - 21/6/2016