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Votação sobre Cunha é adiada mais uma vez

Linha fina
Deputada Tia Eron, cujo voto será decisivo para cassação do presidente afastado da Câmara, não apareceu na Casa. Votação de relatório que pede cassação ficou para quarta 8
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Brasília – O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados encerrou no início da tarde de terça 7 os trabalhos iniciados pela manhã e deixou para esta quarta-feira 8 a apreciação do relatório que pede a cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A grande expectativa do dia está relacionada à posição da deputada Tia Eron (PRB-BA), cujo voto vai ser decisivo, e que não compareceu à sessão, tornando-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.

Tia Eron foi bastante criticada pelos parlamentares. Uma das preocupações do grupo que quer a cassação de Cunha está no fato de o PRB, partido de Tia Eron, ter tido vários dos seus principais representantes chamados para uma conversa de última hora segunda 6, no Palácio do Planalto, com o presidente interino Michel Temer. “O PRB precisa atentar para a responsabilidade do partido neste momento tão importante para o país”, disse o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ).

Tia Eron deu declarações recentes à imprensa de que votará “pela moralidade do país” – dando a entender que seu posicionamento será pela aprovação do relatório que pede a cassação do presidente afastado da Câmara.

A deputada, porém, fez muitas reclamações aos colegas de que a pressão que tem recebido tem sido imensa, tanto por parte de pessoas ligadas a Cunha como também pelos que querem a cassação do parlamentar. “É claro que estão tentando fazer todo tipo de articulação e busca de subterfúgios para livrá-lo”, denunciou Ivan Valente (Psol-SP).

Voto em separado - No início da tarde, em mais uma medida para amenizar a situação de Eduardo Cunha, o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) apresentou um voto em separado em contraposição ao documento do relator, deputado Marcos Rogério (DEM-RO). O voto de Bacelar pede que seja considerado apenas o fato de Cunha ter mentido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, sem que sejam considerados outros pontos. E, com isso, defende que a pena seja de suspensão do mandato por um período de três meses.

Conforme estabelece o regimento interno da Casa, o voto em separado de Bacelar só será submetido a apreciação caso o relatório de Rogério seja rejeitado, mas o deputado pediu que os integrantes do órgão avaliem a possibilidade de o seu voto ser incluído no parecer do relator como uma outra alternativa à punição. Ele pede que a condenação a Cunha seja referente apenas aos casos relacionados à Operação Lava Jato.

O deputado argumentou que seu pedido tem como base o fato de Eduardo Cunha constar de citações em outras ações que tramitam no Judiciário e disse que esta é uma situação na qual se encontram vários parlamentares da Câmara. “Se formos votar de outra forma, sem restringir as ações do deputado afastado à sua ida à CPI da Petrobras, precisaremos ser coerentes e votar da mesma forma no caso de outros deputados a serem alvo de representações neste Conselho”, disse Bacelar.

Bacelar afirmou que tomou a decisão de apresentar o voto em separado por uma questão de “juízo de consciência”. E sugeriu que a suspensão do mandato de Cunha por três meses apenas, seguida de advertência é a que considera “mais correta para o momento”.

‘Enxergar a realidade’ - A leitura do voto em separado foi contestada por vários deputados. Júlio Delgado (PSB-MG) disse que não via lógica em uma sessão com tantos atrasos e tantos inscritos para se pronunciarem, ser dada a vez para a apresentação de um voto que, regimentalmente, só poderá vir a ser apreciado se por acaso o relatório de Marcos Rogério for rejeitado.

“Vamos adiantar os trabalhos e não voltar atrás. Se o resultado da votação for diferente do que estamos imaginando, aí sim, poderemos avaliar votos que sejam apresentados em separado”, protestou. Mesmo assim, o presidente da Comissão, José Carlos Araújo (PR-BA) considerou que Bacelar tinha o direito de se manifestar.

Chico Alencar (Psol-RJ) rebateu Bacelar. “Não estamos julgando aqui um indivíduo apenas, mas práticas políticas de uma pessoa que feriu a ética parlamentar. Cunha tem um passivo histórico que degrada a política no Brasil e não reconhecer isso significa não querer enxergar a realidade nem a crise política que estamos vivendo. Nós clamamos por uma profunda mudança na cultura dos deputados e dos políticos brasileiros e entendemos que o relatório do deputado Marcos Rogério é um impositivo ético e republicano”, disse.

O deputado Ivan Valente lembrou que Eduardo Cunha mentiu ao dizer que não tinha contas no exterior, mas tem um segundo aspecto na questão que é o fato de, no dia em que Cunha depôs espontaneamente na CPI, já existia um requerimento o convocando. “Ele na época se recusou a abrir o seu sigilo fiscal e bancário dizendo que não gostaria de abrir um precedente para não constranger os demais colegas. Este homem é um enganador.”


Hylda Cavalcanti, da Rede Brasil Atual - 7/6/2016
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