São Paulo – “Como a taxa básica de juros real brasileira é a mais elevada do mundo, o crédito do BNDES desempenha um papel fundamental para promoção do investimento e crescimento econômico.” O trecho consta de estudo da Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo, com base em entrevistas junto a 1.063 empresas industriais.
A Fiesp foi uma das patrocinadoras do processo que depôs Dilma Rousseff e consequentemente levou Michel Temer ao poder. Uma das medidas anunciadas por Temer para o BNDES é a extinção da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), uma taxa subsidiada de juros, menor do que as cobradas pelos bancos privados.
De acordo com o levantamento da Fiesp obtido pelo jornal Valor Econômico, uma das principais dificuldades apontadas pelas empresas que conseguiram aprovação do crédito do BNDES considera justamente um custo muito elevado para a TJLP. E vai piorar. A partir de primeiro de janeiro de 2018, a TJLP será substituída pela Taxa de Longo Prazo (TLP). Com isso, os juros nesse tipo de transação, hoje próximos de 7%, subirão lentamente até se igualar às taxas cobradas pelo mercado.
“Se mesmo o atual custo da TJLP é considerado elevado e apontado como entrave para os empresários obterem empréstimos, imaginem os danos que serão causados na economia com sua extinção”, critica o diretor executivo do Sindicato Dionísio Reis. “Podemos esperar ainda mais retração e desemprego. Por isso é fundamental que a sociedade compreenda a importância dos bancos públicos e defenda essas instituições que atuam em nichos de mercado pouco atraentes aos bancos privados, que só visam o lucro”, acrescenta o dirigente.
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“A TJLP é uma maneira de mitigar os efeitos dos juros altos, porque o investimento no setor produtivo gera emprego, renda, e amanhã vai gerar eficiência e capacidade produtiva que permite que a economia cresça mais aceleradamente. É essa dinâmica de investimento, em um quadro de juros estruturalmente altos – que é uma falha da macroeconomia brasileira –, que garante que o investimento seja protegido”, avaliou o economista do BNDES Marcelo Miterhof, em seminário promovido pelo Sindicato.
Outras justificativas comuns para a não aprovação do crédito do BNDES, de acordo com os empresários ouvidos pela Fiesp, foram o excesso de exigências quanto à documentação; falta de garantias ou exigências de garantias muito elevadas; redução no limite disponível para financiamento e prazos/carências inadequados. As empresas que não conseguiram crédito apontaram que algumas linhas de crédito estariam fechadas.
Do total de empresas ouvidas pela Fiesp, menos da metade (39%) tentou nos últimos dois anos obter financiamento junto ao banco estatal de fomento. Essa amostragem de 403 empresas foi a considerada para avaliar o acesso ao crédito na instituição. Os dados mostram que, nesse universo, 45% das que tentaram não conseguiram aprovar seus projetos, mas 55% obtiveram.
O volume de empréstimos liberados pelo BNDES apresentou queda de 13% entre janeiro e maio deste anos, totalizando R$ 27,7 bilhões.
“Por conta da pressão dos grandes empresários junto com os banqueiros, a Fiesp patrocinou o golpe no país e agora os pequenos e médios empresários sentem o que o movimento sindical já vinha alertando: a falta dos investimentos públicos na economia, que é a principal fonte de investimento para o desenvolvimento do país”, afirma Dionísio Reis.
“O que estão querendo impor é a aniquilação das garantias sociais e a destruição dos bancos públicos, o que irá levar a um grande prejuízo para os pequenos empresários. Por isso nossas mobilizações têm como base a defesa dos direitos trabalhistas, da aposentadoria do povo brasileiro e dos bancos públicos”, enfatiza Dionísio.