Em artigo, Francisco Alexandre (ex-diretor eleito da Previ) e João Fukunaga (Coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB) estranham que uma estrutura do tamanho da do BB não seja considerada na atuação da crise do covid-19 e argumentam que diante da pandemia mundial do novo cornavírus, caberá as empresas estatais, e não ao setor privado, executar as políticas públicas necessárias para mitigar os efeitos do desastre econômico, social e sanitário causado pelo vírus. Leia abaixo:
O governo tomou posse anunciando que tudo “estava à venda”, “estamos em liquidação” dizia o Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, mundo afora, sobre o que chamou novo momento do país. Novo nem tanto, modelo antigo, ultrapassado e minoritário entre as grandes escolas do pensamen-to econômico, caracterizado pela exclusão do papel do Estado.
Na caminhada da insensatez que marca os últimos anos, um vírus mortal pôs verdades absolutas de cabeça para baixo e desde então, governos mundo afora foram desafiados no combate à doença e a adotar medidas econômicas para socorrer as pessoas e a economia.
A realidade se sobrepôs para mostrar que estava nas mãos do Estado a missão de salvar as pessoas, para socorrer desempregados, desalentados, empresas – dos conglomerados aos pequenos negócios –, socorrer pessoas e reestruturar o sistema de saúde com orçamentos do tamanho da crise, ou seja, a inciativa privada não faz e não se dispõe a correr risco, nem mesmo em época de crise.
No Brasil, mesmo com as medidas aquém das necessárias, a sociedade tem uma certeza: apenas as empresas públicas têm trabalhado para implementar as medidas do governo no combate à doença. Bancos e conglomerados privados se ausentam do esforço sob o argumento de “evitar riscos”. Pode-se dizer também evitar risco de abrir o bolso para qualquer ajuda.
Instituições como a CEF, BNDES, Banco do Brasil e institutos de pesquisas das universidades e fundações mostram aos algozes privatizantes a importância de o Estado ter estruturas capazes de executar políticas públicas. O Banco Central, que sempre socorre os bancos, tem sido instigado a comprar ações de empresas em dificuldades, situação similar ao que faz outros países em época de crise. Ou seja, empesas estatais socorrendo o país, que predadores, na defesa de interesses priva-dos, dizem não ser necessárias.
Os bancos públicos são fundamentais como agentes de políticas sociais e de estratégia governamental. A crise de 2008 foi outro exemplo. Naquele ano, os bancos públicos foram fundamentais na sustentação à política do governo para enfrentar a crise financeira internacional, aplicando e executando as medidas anticíclica disponibilizando recursos para irrigar o mercado, manter a economia aquecida e evitar a retração do mercado interno.
O Banco do Brasil é fundamental para o país
O BB sempre foi um agente importante no desenvolvimento do país, mesmo em governos que tentaram descaracterizá-lo para justificar eventual privatização. A missão do banco é reconhecida por diferentes linhas de pensamento, e é de executar políticas de governos para fomento, desenvolvimento regional e suporte para empresas e produtores rurais do país
Pensar a missão do banco como sendo apenas de “gerar resultados e valor para o acionista” não é certo. Essa definição exclui função mais importante do banco, que é a de ser um agente de desenvolvimento, contribuindo para diminuir as desigualdades entre as regiões do país. A função lucro é uma variável importante, mas ela não pode ser definida como a missão sua principal, pois, quando o acionista privado compra suas ações do banco sabe que ele é controlado pelo governo e que exerce as funções típicas de governo, variáveis são ponderadas na hora da compra.
O Banco, infelizmente, tem sido colocado deliberadamente de lado na implementação das medidas do governo. É estranho que uma estrutura do tamanho da do BB não seja considerada na atuação da crise do Covid-19. A ação do governo em relação ao BB parece ser uma ação deliberada de diminuir o seu papel. Revelada nas declarações do Ministro da Fazenda na fatídica reunião do “condomínio dos loucos” no dia 22 de abril, na sede do Palácio da Alvorada, em Brasília, que ousam chamar de reunião ministerial, para lançar ataques a todos, inclusive o BB.
O BB é essencial para executar políticas de governo para produtores rurais, comerciantes e empresas de serviços país afora. E pode fazer mais, pois está em todo o país, em muitos lugares sendo a única agência bancária, onde é o agente de governo para executar as medidas aprovadas pelo Congresso Nacional em mais de 5 mil agências e 65 mil terminais de atendimento espalhados pelo país.
No período pós-crise, o Banco do Brasil, como mostra a sua história, será fundamental para atuar induzindo as economias locais com crédito. Ele tem no seu DNA o papel de fomento para o setor produtivo e de ser agente de governo. Novamente, a capilaridade de sua rede de agências poderá realizar as ações de governo para geração e distribuição de renda em lugares onde o setor privado sempre se recusa a dar sua parcela de contribuição para o desenvolvimento.
O tempo é de fortalecer a empresa e se preparar para os dias que virão, tendo certa a necessidade de o banco continuar com atuação forte como agente de crédito agrícola do país em todos os segmentos de mercado.
A discussão sobre reduzir o papel e áreas de atuação é ultrapassada, por isso não faz sentido alienar subsidiárias como a BB-DTVM, BB-Leasing e BB-Seguridade. Os que sugerem a redução do banco, em verdade desejam transformá-lo em distribuidor de produtos, utilizando sua rede agências como mero prestador de serviços.
O governo e diretoria do Banco do Brasil têm o dever de se reposicionar em relação às ameaças e declarações erráticas negando a importância estratégica do banco. Para quem duvida da importância de o Estado ter o controle de empresas como o Banco do Brasil, não custa fazer o exercício avaliando quais bancos estão executando as medidas delineadas pelo Governo e Congresso Nacional.
O funcionalismo e o papel frente aos desafios
O banco ao longo de sua existência é reconhecido por ser uma empresa com um corpo de funcionários preparados e disponíveis para atuar e executar missões, as mais diversas e em todos os cantos do país. Nesse momento, não seria diferente e, passada a crise, os funcionários estarão disponíveis para executar a estratégia de ação destinada ao Banco, como sempre fizeram.
Enquanto a crise durar, os funcionários esperam ser respeitados nos seus direitos e segurança para a execução de serviços essenciais.
A defesa do banco e o seu papel na sociedade é outro tema relevante para todos os funcionários. Qualquer medida que atente contra a empresa terá a repulsa dos funcionários para defender um patrimônio que é do país e não de qualquer que seja o governo. O banco é do Brasil e deve continuar sendo. Por isso, todos pedem respeito dos que não conhecem a sua história e o seu papel para país.
Para depois da pandemia
O momento, mesmo com suas dificuldades e nuances, é também de reflexão e de avaliação sobre postura, valores e o caminho que a sociedade vai trilhar depois que passar a pandemia. Da direção do Banco, é de se esperar se encoraje para repensar as práticas, pensar nas pessoas e redirecionar a estratégia à frente da empresa.
O BB cumpre o seu papel social há dois séculos e, quem quer que esteja a sua frente precisa saber dimensão do que é liderá-la, isto, mais o compromisso de pensá-lo para o futuro, pois não será o pensamento menor, tacanho e sem perspectiva que vai prevalecer. A sociedade acompanha nesses dias a importâncias destas instituições e saberá cobrar e defender a preservação do patrimônio público. E, pensar na continuidade do BB como um banco público de fomento e de desenvolvimento é o mínimo que se espera de sua gestão.
Francisco Alexandre – Ex-diretor eleito da Previ, foi coordenador da Comissão de Empresa
João Fukunaga – Coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB