São Paulo - O secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, recebeu na manhã de terça 2, em Brasília, o presidente do UAW (United Automobile Workers), Bob King, trabalhadores na unidade do Mississipi da Nissan e um grupo de ativistas pelos direitos humanos nos EUA, entre eles o ator Danny Glover. O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), Paulo Cayres, acompanhou a comitiva.
O grupo está no Brasil desde o fim de junho para dar continuidade à campanha mundial de denúncia contra as práticas antissindicais daquela planta da Nissan, localizada na cidade de Canton. A CNM/CUT está ao lado da UAW desde o início da campanha, lançada em janeiro com uma série de atividades no Mississipi. “A solidariedade internacional é um dos princípios que norteiam a atuação da CNM/CUT. E este caso da Nissan merece toda a atenção, já que os trabalhadores e as trabalhadoras estão sofrendo cotidianamente violação a direitos que, para nós, são básicos”, afirmou o presidente da CNM/CUT.
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A campanha encabeçada pelo UAW está tornando público em todo o mundo a postura da empresa, que impede que os trabalhadores se associem ao Sindicato e, assim, possam ampliar seus direitos.
Pela legislação norte-americana, a filiação de trabalhadores ao Sindicato só pode acontecer se for aprovada em votação nas fábricas, com a aceitação de 50% mais um dos votos. E a Nissan, além de impedir que o UAW realize esse processo, chantageia os trabalhadores e a população, espalhando que fechará a fábrica, caso a sindicalização aconteça. O Mississipi é o estado mais pobre dos Estados Unidos.
Modelo - No encontro com Gilberto Carvalho, o presidente do sindicato norte-americano – que representa nacionalmente os trabalhadores do setor automotivo – agradeceu o apoio que tem recebido no Brasil e destacou a importância de nosso país no que se refere ao diálogo com os trabalhadores. “Os sindicatos e o sistema político brasileiro são um modelo interessante para outros países. O que vemos aqui é um processo de maturação da democracia”, disse King, destacando que a campanha também tem o objetivo de “construir redes internacionais para evitar que os trabalhadores sejam prejudicados”.
Já o ator Danny Glover avaliou que o Brasil é um país que “atrai os holofotes do mundo”. Por isso, segundo ele, é muito importante analisar a dinâmica e a experiência brasileira, no que diz respeito ao diálogo com o trabalhador. “Os trabalhadores de outros países se sentem fortalecidos com o que veem no Brasil”, assinalou Glover.
ABC - Na segunda 1º, a delegação esteve no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde foi recepcionada pelo presidente da entidade, Rafael Marques, e também pelos prefeitos de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, e de Santo André, Carlos Grana.
Em coletiva à imprensa logo após o encontro, os integrantes do grupo detalharam a situação dos trabalhadores daquela unidade da montadora japonesa, que – além de impedir a sindicalização – adota práticas discriminatórias, assédio moral e sexual e vem, gradativamente, reduzindo direitos.
A planta de Canton tem 5.200 trabalhadores, dos quais 40% são temporários e contratados por uma empresa terceirizada. Os salários são inferiores aos pagos na outra unidade norte-americana da empresa, que fica no Tennessee.
Segundo Morris Mock, trabalhador do setor de pintura na empresa, a montadora ameaça constantemente os funcionários. “As chefias dizem que a fábrica será fechada, colocando uns contra os outros, dificultando a nossa organização”, denunciou. “Com isso, há mais de seis anos não temos aumento real de salário”, disse Mock, revelando que a postura da Nissan tem apoio do governo do estado.
O metalúrgico explicou que a legislação trabalhista nos EUA é determinada pelos estados e que o Mississipi é um dos mais conservadores. “A licença maternidade, por exemplo, é de seis semanas; as férias, de três semanas, sendo que o trabalhador pode escolher em que data tirar somente para uma semana. As outras duas são determinadas pela empresa”, contou.
Ele explicou ainda que se o trabalhador for sindicalizado, não pode ser demitido por justa causa, e também tem direitos adicionais. “O seguro desemprego, que é pago somente se a empresa demitir trabalhadores por problemas financeiros, é de 40 a 60% dos salários para quem não é sócio do sindicato; para quem é associado, chega a 90% do salários”, informou, avaliando que também por motivos como este é que a empresa não permite a sindicalização.
Bob King disse que a campanha internacional tem ainda o objetivo de conscientizar os consumidores sobre a opressão praticada pela empresa. Por isso, o UAW tem levado a denúncia também nos salões internacionais de automóveis. Em 2012, o sindicato norte-americano esteve no Salão do Automóvel de São Paulo, com o apoio da CNM/CUT. “Agradeço a CNM por estar junto com a gente desde o início da campanha”, enfatizou.
O presidente da CNM/CUT, por sua vez, garantiu que a entidade dos metalúrgicos cutistas continuará participando ativamente da campanha. “É inconcebível que num país que se considera o mais democrático do mundo os trabalhadores sofram tanta opressão. Por isso, no que depender da CNM/CUT esta campanha ganhará cada vez mais destaque”, ressaltou Paulo Cayres, que também acompanhou ontem a delegação na visita ao Sindicato do ABC.
A delegação esteve, também. na sede da CNM/CUT e participou de um ato público em frente a uma concessionária da Nissan em São Paulo (veja aqui). Também participou de uma manifestação em São José dos Pinhais (PR), onde está localizada uma unidade da montadora japonesa. Além disso, o grupo se encontrou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com parlamentares e entidades do movimento social.
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CUT - 5/7/2013
