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Chapéu
Violência

Grupo armado invade aldeia no Amapá e mata liderança indígena

Linha fina
Cacique Emyra Wãiapi foi morto com requintes de crueldade; segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), há potencial gravíssimo de conflito na região
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Foto: Divulgação/Iphan

Um grupo de homens armados invadiu na última semana a aldeia indígena Waiãpi, em Pedra Branca do Amapari, no Amapá, e assassinou o cacique Emyra Wãiapi. A Polícia Militar do Amapá encontrou a vítima com marcas de perfurações pelo corpo. Informações preliminares indicam que o crime foi cometido por um grupo de 50 garimpeiros. As informações são do Brasil de Fato e do Congresso em Foco.

Na manhã deste domingo 28, a Polícia Federal (PF) e o Bope da PM do Amapá chegaram à região, assim como a Fundação Nacional do Índio (Funai). O Ministério Público Federal (MPF) no Amapá e a PF investigam as circunstâncias da morte e da invasão.

O Conselho das Aldeias Wajãpi (Apina) informou que os ataques começaram na segunda-feira 22, com a morte “de forma violenta” do cacique em aldeia próxima à comunidade Mariry. “A morte não foi testemunhada por nenhum Wajãpi e só foi percebida e divulgada para todas as aldeias na manhã do dia seguinte”, relatou.

Na sexta-feira 26, os conflitos pioraram, segundo o conselho. “À noite, os invasores entraram na aldeia e se instalaram em uma das casas, ameaçando os moradores. No dia seguinte, os moradores do Yvytotõ fugiram com medo para outra aldeia na mesma região”, acrescentou.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi acionado pelo vereador Jawaruwa Waiãpi, que enviou áudios com pedido de socorro. “Uma liderança fez contato informando que ocorreu uma invasão dos garimpeiros e assassinaram um cacique”, relatou o senador ao Congresso em Foco. Acuados e com medo de novas retaliações, os indígenas se refugiaram na comunidade vizinha Aramirã, para onde crianças e mulheres foram levadas.

Porém, eles prometem retomar a aldeia caso as autoridades não adotem providências para expulsar os invasores da comunidade. “Há potencial gravíssimo de conflitos”, lamenta Randolfe. 

De acordo com o senador João Capiberibe (PSB-AP), os invasores provavelmente não são do Amapá. "Não se sabe se são garimpeiros. Eles estão armados inclusive com metralhadoras e entraram na região, possivelmente pela fronteira do estado com o Pará." Capiberibe teve contato na noite deste sábado com o cacique Viceni Waiãpi, que narrou o assassinato do líder. Segundo as informações de Waiãpi ao senador, as lideranças já haviam denunciado anteriormente, mas foram desacreditadas. 

Ambos os senadores alertam para a escalada do ódio e da intolerância após a eleição de Jair Bolsonaro. “O sangue derramado é culpa do governo federal, que ocorre por causa da omissão de organismos de controle”, reprovou Randolfe Rodrigues. “Quem vive do crime se sente protegido em poder invadir terra indígena.”

Desde janeiro, houve expansão dos focos de garimpo ilegal no norte, assim como o aumento do desmatamento, como constatou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Defendendo uma política de exploração de mineral em terras indígenas, Bolsonaro vem contestando o trabalho do órgão, como relembra o Congresso em Foco.

Militantes da área, como indígenas e ambientalistas, também responsabilizam o governo Bolsonaro pelo avanço da atividade ilegal – verificado em diferentes pontos do Pará e de Roraima – e criticam o afrouxamento das regras de controle e fiscalização.

Solidariedade e Indignação

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou, no Twitter, "preocupação com as informações recebidas sobre a possível presença de invasores armados no território do povo Wajãpi". A comissão solicitou também "a devida diligência do Estado brasileiro para proteger e prevenir possíveis violações de seus direitos humanos".

Em nota, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) se solidariza com o povo indígena Waiãpi e repudia a violência que "vem se acirrando, principalmente fomentado pelos posicionamentos intransigentes, irresponsáveis, autoritários, preconceituosos, arrogantes e desrespeitosos do atual governo, especialmente do senhor presidente da República Jair Bolsonaro, com os ataque que vem fazendo aos direitos dos povos originários deste país, sobretudo aos direitos territoriais já garantidos em terras indígenas completamente demarcadas regularizadas á luz da Constituição Federal de 1988 e que esse governo vem a todo e momento tentando retroceder."

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