O Brasil, que já vinha sem expectativas de crescimento e com alto índice de desemprego antes da pandemia de coronavírus, viu esse quadro piorar muito durante a crise sanitária. Foi o que mostrou, com dados, a economista Esther Dweck, palestrante da primeira mesa da 22ª Conferência Nacional dos Bancários. A Conferência, que reúne bancários de todo o Brasil e aprova a pauta de reivindicações da categoria a ser negociada com os bancos na campanha dos bancários deste ano, está sendo realizada pela primeira vez de forma virtual. Iniciou na noite desta sexta-feira 17 e vai até o final deste sábado 18.
Esther Dweck destacou que a expectativa do mercado para o PIB deste ano é de – 6,5%, segundo a economista, uma queda inédita no país. A previsão mais pessimista do Instituto de Economia da UFRJ, que a economista integra, é de queda de 11% ao final deste ano. O mesmo instituto prevê ainda que 2020 termine com perda de 8,2 milhões de empregos ou até 14,7 milhões de postos de trabalho a menos, na expectativa mais pessimista.
“No início da pandemia, já de cara 6 milhões de brasileiros perderam o emprego. Além disso, 4,4 milhões tiveram seus contratos suspensos, ou seja, não perderam o emprego mas não estão recebendo salário, apenas seguro-desemprego. Outras 3,5 milhões tiveram seus salários e jornadas reduzidos”, citou Esther, lembrando que as duas últimas medidas foram autorizadas pelo governo federal por MPs.
O mais grave, disse a economista, é que o governo Bolsonaro anuncia um plano para “recuperação” da economia que, na realidade, vai agravar ainda mais o quadro já desastroso. “Uma das principais medidas para, segundo o governo, melhorar a economia, é a redução da taxa Selic. Mas vemos que isso não está surtindo efeito porque não resulta no aumento do financiamento para famílias e empresas. E além disso, os juros baixos vêm acompanhados de um ajuste fiscal permanente, com reformas e cortes de gastos. O que amplia a desigualdade social.”
Esther lembrou ainda que a redução do compulsório dos bancos – o governo liberou R$ 1,2 trilhão aos bancos como medida para salvar a economia na crise sanitária – não gerou crédito para os cidadãos nem para as empresas. “O governo reduziu o compulsório dos bancos, o que deveria gerar crédito. Mas a concessão de crédito caiu na crise. O que aconteceu? Os bancos compram títulos públicos, e passam a ganhar a taxa Selic, lucrando com essa operação. Ou seja, a emissão do compulsório gerou lucro para os bancos, mas não crédito para os brasileiros.”
A economista elencou que fazem parte do remédio amargo do governo: ampliar ainda mais a reforma da Previdência; manter o teto de gastos, com ajustes fiscais permanentes; desvinculação das despesas (quebrar o piso); abertura comercial unilateral (quando o resto do mundo está procurando se proteger); privatização; acabar com os bancos públicos; desmonte do setor de petróleo e gás; e continuação da reforma trabalhista (com o intuito de o trabalhador formal se equivaler ao informal).
Ela alerta que essas medidas não levam à sustentabilidade fiscal, pelo contrário, a agrava. “Resulta em um círculo vicioso: a redução dos investimentos leva à redução da demanda privada, que leva à redução do PIB, que por sua vez resulta na redução da arrecadação, o que piora o resultado primário que, por fim, leva à redução de investimentos.”
Esther Dweck citou uma manchete do jornal britânico conservador Financial Times, apontando que o coronavírus demonstrou a fragilidade do contrato social, e que reformas radicais seriam necessárias para forjar uma sociedade que trabalhe por todos. “Mas a agenda proposta por esse governo vai agravar mais ainda as desigualdades, a pobreza e piorar a economia. O Brasil está na contramão do mundo”, concluiu.