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Campanha 2020

“Brasil está na contramão do mundo”, diz economista na 22ª Conferência Nacional dos Bancários

Linha fina
Na primeira mesa de debates do evento, Esther Dweck mostrou que as medidas defendidas pelo governo brasileiro vão piorar o quadro da economia após a pandemia de coronavírus
Imagem Destaque
A presidenta do Sindicato, Ivone Silva (quadro acima à esquerda) foi a mediadora da primeira mesa da 22ª Conferência

O Brasil, que já vinha sem expectativas de crescimento e com alto índice de desemprego antes da pandemia de coronavírus, viu esse quadro piorar muito durante a crise sanitária. Foi o que mostrou, com dados, a economista Esther Dweck, palestrante da primeira mesa da 22ª Conferência Nacional dos Bancários. A Conferência, que reúne bancários de todo o Brasil e aprova a pauta de reivindicações da categoria a ser negociada com os bancos na campanha dos bancários deste ano, está sendo realizada pela primeira vez de forma virtual. Iniciou na noite desta sexta-feira 17 e vai até o final deste sábado 18.

Esther Dweck destacou que a expectativa do mercado para o PIB deste ano é de – 6,5%, segundo a economista, uma queda inédita no país. A previsão mais pessimista do Instituto de Economia da UFRJ, que a economista integra, é de queda de 11% ao final deste ano. O mesmo instituto prevê ainda que 2020 termine com perda de 8,2 milhões de empregos ou até 14,7 milhões de postos de trabalho a menos, na expectativa mais pessimista.

“No início da pandemia, já de cara 6 milhões de brasileiros perderam o emprego. Além disso, 4,4 milhões tiveram seus contratos suspensos, ou seja, não perderam o emprego mas não estão recebendo salário, apenas seguro-desemprego. Outras 3,5 milhões tiveram seus salários e jornadas reduzidos”, citou Esther, lembrando que as duas últimas medidas foram autorizadas pelo governo federal por MPs.

O mais grave, disse a economista, é que o governo Bolsonaro anuncia um plano para “recuperação” da economia que, na realidade, vai agravar ainda mais o quadro já desastroso. “Uma das principais medidas para, segundo o governo, melhorar a economia, é a redução da taxa Selic. Mas vemos que isso não está surtindo efeito porque não resulta no aumento do financiamento para famílias e empresas. E além disso, os juros baixos vêm acompanhados de um ajuste fiscal permanente, com reformas e cortes de gastos. O que amplia a desigualdade social.”

Esther lembrou ainda que a redução do compulsório dos bancos – o governo liberou R$ 1,2 trilhão aos bancos como medida para salvar a economia na crise sanitária – não gerou crédito para os cidadãos nem para as empresas. “O governo reduziu o compulsório dos bancos, o que deveria gerar crédito. Mas a concessão de crédito caiu na crise. O que aconteceu? Os bancos compram títulos públicos, e passam a ganhar a taxa Selic, lucrando com essa operação. Ou seja, a emissão do compulsório gerou lucro para os bancos, mas não crédito para os brasileiros.”

A economista elencou que fazem parte do remédio amargo do governo: ampliar ainda mais a reforma da Previdência; manter o teto de gastos, com ajustes fiscais permanentes; desvinculação das despesas (quebrar o piso); abertura comercial unilateral (quando o resto do mundo está procurando se proteger); privatização; acabar com os bancos públicos; desmonte do setor de petróleo e gás; e continuação da reforma trabalhista (com o intuito de o trabalhador formal se equivaler ao informal).

Ela alerta que essas medidas não levam à sustentabilidade fiscal, pelo contrário, a agrava. “Resulta em um círculo vicioso: a redução dos investimentos leva à redução da demanda privada, que leva à redução do PIB, que por sua vez resulta na redução da arrecadação, o que piora o resultado primário que, por fim, leva à redução de investimentos.”

Esther Dweck citou uma manchete do jornal britânico conservador Financial Times, apontando que o coronavírus demonstrou a fragilidade do contrato social, e que reformas radicais seriam necessárias para forjar uma sociedade que trabalhe por todos. “Mas a agenda proposta por esse governo vai agravar mais ainda as desigualdades, a pobreza e piorar a economia. O Brasil está na contramão do mundo”, concluiu.

 

 

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