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HSBC: enganação e ameaças no Special Collections

Linha fina
Bancários do setor de negociação de dívidas trabalham com fones de ouvido 8 horas por dia e quem reclama vai para a rua; Sindicato cobra respeito e promete ações se a situação continuar
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São Paulo – Os bancários do HSBC lotados no setor Special Collections – área dentro do departamento de cobranças responsável pela renegociação de dívidas – estão sofrendo com extrapolação de jornada, desrespeitos a determinações do Ministério do Trabalho, intimidação, ameaças e até demissão.

Segundo denúncias, os bancários trabalham 8 horas por dia com fone de ouvido em frente ao computador, e suas pausas são controladas e com duração de apenas 15 minutos.  Essas condições desrespeitam determinação do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) descrita na Norma Reguladora 17, que estabelece parâmetros visando proporcionar conforto e segurança no ambiente de trabalho.

De acordo com a NR 17, o tempo de trabalho em efetiva atividade de teleatendimento deve ser de, no máximo, seis horas diárias, nelas incluídas as pausas (Item 5.3).

O banco, por sua vez, nega que o regime de trabalho do Special Collections seja de operador de teleatendimento. “Os colaboradores não executam atividade de atendimento telefônico e não se assemelham às funções e atividades executadas por operadores de call center”, respondeu o RH do banco diante da cobrança do Sindicato.

No entanto, não é o que os bancários dizem. "Sempre tivemos que marcar as nossas pausas, e elas eram controladas por nossos coordenadores, que agiam de forma muito rígida e opressora em relação ao tempo que nos afastávamos, se incomodando até quando havia alguma forma de confraternização entre os colegas ou momentos de descontração, nos cobrando como se fossemos máquinas", diz uma ex-funcionária.

Enganação – A mesma ex-bancária do HSBC conta que quando foi contratada, o gerente garantiu que o trabalho seria de analista. “Ele disse que deveríamos esquecer o pensamento de operador, que teríamos mais liberdade em relação a tomadas de decisões e não teríamos mais pausas controladas, até porque precisaríamos fazer pesquisas e definir estratégias para o atendimento, que não teríamos mais que apontar o tempo que ficássemos fora da mesa de trabalho, mas não foi o que aconteceu.”

Em uma visita de rotina no departamento, o Sindicato constatou os abusos por meio de relatos de bancários. Alguns dias depois, foi marcada uma reunião com todo o setor em conjunto com a superintendente, o gerente e o coordenador da área.

“A superintendente ficou abismada por causa da denúncia e perguntou quem de nós se sentia operador de call center. Nós estávamos em 10, todos com medo claro, devido ao tom de voz da mesma, responderam que não, que sentiam-se analistas. Ela então perguntou o porquê e eu expliquei que ficávamos 8 horas por dia no telefone e tínhamos pausas controladas.”

Ameaças e demissão – Ainda de acordo com a ex-funcionária, a supervisora então disse que quem não estivesse satisfeito que pedisse as contas. “Ela disse que na operação tinha muita gente que queria o nosso lugar, que se quiséssemos, poderíamos tocar saxofone na praça, que ela ajudaria a comprar o instrumento se fosse preciso.”

A demissão veio 10 dias depois, sob a alegação de que a bancária não estava atingindo as metas.  “É uma humilhação ter sido mandada embora como se eu fosse incompetente, sendo que eu sei que não sou. Fechei o mês de abril em segundo lugar, nunca fiquei em último. Isso magoa muito”, desabafa.  

O dirigente sindical Paulo Sobrinho garante que o Sindicato vai continuar cobrando do banco uma solução para os problemas no setor. “Caso a situação de desrespeitos diversos continue, nós vamos tomar as medidas sindicais cabíveis, como protestos e denúncias no Ministério Público do Trabalho”, afirma o dirigente.  


Rodolfo Wrolli – 1º/8/2014

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