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São Paulo – Os bancários nos Estados Unidos passam anos sem qualquer reajuste ou promoção. Não recebem vales refeição e alimentação, nem vale-transporte, PLR, 13º salário ou adicional de férias que, por sinal, são de apenas duas semanas por ano. Não têm a quem apelar quando sofrem assédio moral de gestores ou enfrentam qualquer outro problema nos locais de trabalho. Também não têm licença-médica remunerada, um direito básico entre os trabalhadores no Brasil (veja quadro abaixo). Outra coisa que os bancários norte-americanos não têm é um sindicato que os represente.
“Essa situação ilustra muito bem a falta que faz um sindicato que negocie em nome dos trabalhadores”, afirma Rita Berlofa, diretora executiva do Sindicato e uma das representantes da entidade na campanha para organizar os bancários norte-americanos, realizada junto com a Uni Global Union (sindicato global), a CWA (Communications Workers of America), CUT e Contraf-CUT. Participam ainda várias organizações sociais estadunidenses como a Jobs With Justice (JWJ).
“Em uma economia globalizada, onde o capital não tem fronteira, problemas que atinjam trabalhadores em qualquer parte do mundo refletem sobre os demais. E no país que é o celeiro das ideias neoliberais, uma das principais economias do planeta e que concentra 1/3 dos trabalhadores do setor financeiro no mundo, a ausência de organização sindical é trágica para o restante dos trabalhadores. Daí a importância desse trabalho”, destaca a dirigente.
Sem direitos básicos – “Para se ter uma ideia, os trabalhadores da limpeza nos EUA, que são sindicalizados, têm mais direitos que os bancários naquele país”, acrescenta o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia.
“Por não estarem organizados em sindicatos, eles não usufruem de direitos que aqui no Brasil são considerados corriqueiros pela categoria, mas que na verdade são consequência de muita luta, mobilização e demonstração de força”, comenta. Como exemplos, o dirigente cita o fato de a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários ser válida em todo o país, uma conquista da negociação de 1992. “Assim, um bancário do interior do Acre tem os mesmos direitos que um trabalhador do centro de São Paulo. Recebe o mesmo valor de vales refeição e alimentação, tem os mesmos reajustes, que aliás estão acima da inflação desde 2004, outra grande conquista dos bancários. Quando não se tem negociação coletiva, qualquer avanço, seja no salário ou nas condições de trabalho, depende exclusivamente da boa vontade do patrão.”
Antissindical – Rita Berlofa lembra a resistência ao movimento sindical naquele país. “Os gestores chegam a ameaçar chamar a polícia quando se tenta distribuir algum material de sindicato, e dirigentes são impedidos de entrar nos locais de trabalho. O setor financeiro é o coração do capitalismo, e para esse setor, a organização dos trabalhadores representa um perigo.”
Mais justiça social – Rita ressalta ainda que a organização sindical não é importante apenas para garantir direitos a categorias específicas. “Os sindicatos também são fundamentais para estabelecer sociedades mais justas, mais igualitárias e mais democráticas. Para proteger os trabalhadores das barbáries do capital.” E faz uma analogia: “Vamos pensar no capital como uma fera com ganância insaciável por lucro. Sindicatos fortes e representativos são instrumentos fundamentais para impor limites a essa fera, na defesa da dignidade humana. E na maior economia do mundo é inadmissível que bancários não estejam organizados em sindicatos”.
BB na Flórida – A situação específica dos funcionários do Banco do Brasil na Flórida, estado norte-americano no sudeste do país, é um exemplo. A comparação com a situação dos brasileiros é surpreendente. Além de não receberem vales ou PLR, eles não possuem piso nem salários estabelecidos por função. Aliás, revelar os salários é proibido no banco, até porque reajustes, quando ocorrem, partem exclusivamente da decisão da diretoria, em geral baseados no bom relacionamento do funcionário com o gestor.
Além do baixo salário (muito inferior à maioria das outras categorias), os benefícios oferecidos pela empresa são próximos de zero. Fora o plano de saúde, que é elogiado pelos bancários, as demais condições são muito ruins. “Não têm reajustes ou perspectivas de crescimento, e os funcionários ainda são obrigados a se submeter a humilhações praticadas pelos gerentes. A grande maioria não toma qualquer atitude contra o assédio moral porque tem medo de perder o emprego. Além disso, não têm a quem se reportar ou pedir ajuda. A empresa disponibiliza um canal de reclamação, uma espécie de ouvidoria interna, mas ninguém usa, porque o sigilo não é respeitado”, relata o diretor do Sindicato e funcionário do BB João Fukunaga.
Ele conta ainda que muitos funcionários estão adoecendo. “Foram muitos os relatos de doenças por parte dos colegas e, na sua maioria, de origem psicossomática. Além do assédio moral a que são submetidos, eles passam cinco, seis anos sem aumento salarial e sem qualquer perspectiva de promoções.”
O sindicalismo é arduamente combatido e pessoas consideradas “formadoras de opinião” são veementemente reprimidas e constantemente vigiadas. “A principal palavra que ouvimos ao longo dos dias que passamos lá foi medo. Medo de represálias, medo de isolamento, medo de mais humilhações e, o principal, medo de demissão.”
Durante a estadia na Flórida, os dirigentes sindicais brasileiros conseguiram aglutinar um grupo de sete pessoas para começar um movimento de organização. “Diante de condições tão adversas como as que encontramos lá, conseguir essas sete pessoas foi, para nós, uma grande vitória. Esses participantes não são diferentes dos demais funcionários, eles também têm medo. Alguns mais, outros menos, mas o fato é que todos, sem exceção, chegaram à mesma conclusão de que, do jeito que está, não dá pra continuar e de que algo precisa ser feito. E estão realmente dispostos a fazer o que for preciso para que essa mudança aconteça”, conta João. “Toda essa situação deixa muito claro: o enfraquecimento do movimento sindical sério e combativo é um grande negócio para os patrões.”
> Série AS/DS mostra importância do movimento sindical
“Essa situação ilustra muito bem a falta que faz um sindicato que negocie em nome dos trabalhadores”, afirma Rita Berlofa, diretora executiva do Sindicato e uma das representantes da entidade na campanha para organizar os bancários norte-americanos, realizada junto com a Uni Global Union (sindicato global), a CWA (Communications Workers of America), CUT e Contraf-CUT. Participam ainda várias organizações sociais estadunidenses como a Jobs With Justice (JWJ).
“Em uma economia globalizada, onde o capital não tem fronteira, problemas que atinjam trabalhadores em qualquer parte do mundo refletem sobre os demais. E no país que é o celeiro das ideias neoliberais, uma das principais economias do planeta e que concentra 1/3 dos trabalhadores do setor financeiro no mundo, a ausência de organização sindical é trágica para o restante dos trabalhadores. Daí a importância desse trabalho”, destaca a dirigente.
Sem direitos básicos – “Para se ter uma ideia, os trabalhadores da limpeza nos EUA, que são sindicalizados, têm mais direitos que os bancários naquele país”, acrescenta o secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Mário Raia.
“Por não estarem organizados em sindicatos, eles não usufruem de direitos que aqui no Brasil são considerados corriqueiros pela categoria, mas que na verdade são consequência de muita luta, mobilização e demonstração de força”, comenta. Como exemplos, o dirigente cita o fato de a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários ser válida em todo o país, uma conquista da negociação de 1992. “Assim, um bancário do interior do Acre tem os mesmos direitos que um trabalhador do centro de São Paulo. Recebe o mesmo valor de vales refeição e alimentação, tem os mesmos reajustes, que aliás estão acima da inflação desde 2004, outra grande conquista dos bancários. Quando não se tem negociação coletiva, qualquer avanço, seja no salário ou nas condições de trabalho, depende exclusivamente da boa vontade do patrão.”
Antissindical – Rita Berlofa lembra a resistência ao movimento sindical naquele país. “Os gestores chegam a ameaçar chamar a polícia quando se tenta distribuir algum material de sindicato, e dirigentes são impedidos de entrar nos locais de trabalho. O setor financeiro é o coração do capitalismo, e para esse setor, a organização dos trabalhadores representa um perigo.”
Mais justiça social – Rita ressalta ainda que a organização sindical não é importante apenas para garantir direitos a categorias específicas. “Os sindicatos também são fundamentais para estabelecer sociedades mais justas, mais igualitárias e mais democráticas. Para proteger os trabalhadores das barbáries do capital.” E faz uma analogia: “Vamos pensar no capital como uma fera com ganância insaciável por lucro. Sindicatos fortes e representativos são instrumentos fundamentais para impor limites a essa fera, na defesa da dignidade humana. E na maior economia do mundo é inadmissível que bancários não estejam organizados em sindicatos”.
BB na Flórida – A situação específica dos funcionários do Banco do Brasil na Flórida, estado norte-americano no sudeste do país, é um exemplo. A comparação com a situação dos brasileiros é surpreendente. Além de não receberem vales ou PLR, eles não possuem piso nem salários estabelecidos por função. Aliás, revelar os salários é proibido no banco, até porque reajustes, quando ocorrem, partem exclusivamente da decisão da diretoria, em geral baseados no bom relacionamento do funcionário com o gestor.
Além do baixo salário (muito inferior à maioria das outras categorias), os benefícios oferecidos pela empresa são próximos de zero. Fora o plano de saúde, que é elogiado pelos bancários, as demais condições são muito ruins. “Não têm reajustes ou perspectivas de crescimento, e os funcionários ainda são obrigados a se submeter a humilhações praticadas pelos gerentes. A grande maioria não toma qualquer atitude contra o assédio moral porque tem medo de perder o emprego. Além disso, não têm a quem se reportar ou pedir ajuda. A empresa disponibiliza um canal de reclamação, uma espécie de ouvidoria interna, mas ninguém usa, porque o sigilo não é respeitado”, relata o diretor do Sindicato e funcionário do BB João Fukunaga.
Ele conta ainda que muitos funcionários estão adoecendo. “Foram muitos os relatos de doenças por parte dos colegas e, na sua maioria, de origem psicossomática. Além do assédio moral a que são submetidos, eles passam cinco, seis anos sem aumento salarial e sem qualquer perspectiva de promoções.”
O sindicalismo é arduamente combatido e pessoas consideradas “formadoras de opinião” são veementemente reprimidas e constantemente vigiadas. “A principal palavra que ouvimos ao longo dos dias que passamos lá foi medo. Medo de represálias, medo de isolamento, medo de mais humilhações e, o principal, medo de demissão.”
Durante a estadia na Flórida, os dirigentes sindicais brasileiros conseguiram aglutinar um grupo de sete pessoas para começar um movimento de organização. “Diante de condições tão adversas como as que encontramos lá, conseguir essas sete pessoas foi, para nós, uma grande vitória. Esses participantes não são diferentes dos demais funcionários, eles também têm medo. Alguns mais, outros menos, mas o fato é que todos, sem exceção, chegaram à mesma conclusão de que, do jeito que está, não dá pra continuar e de que algo precisa ser feito. E estão realmente dispostos a fazer o que for preciso para que essa mudança aconteça”, conta João. “Toda essa situação deixa muito claro: o enfraquecimento do movimento sindical sério e combativo é um grande negócio para os patrões.”
> Série AS/DS mostra importância do movimento sindical
Andréa Ponte Souza - 24/8/2015
(Atualizado às 20h04 de 25/8/2015)